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A casa que Jack construiu (2018) | Visão grotesca, filme eficaz


Lars von Trier não é flor que se cheire. Assumidamente nazista, o diretor já incomodou muito mais que grande parte dos filmes mais polêmicos de Hollywood. Com A casa que Jack construiu, o diretor volta com uma perturbação ainda mais intensa que os outros filmes, apesar de ser menos grotesco que Ninfomaníaca.

A estrutura narrativa destes filmes, alias, se encontram quando comparados um com o outro. Em ambos os longas, o diretor mostra um protagonista viciado relatando a sua rotina a um outro personagem. Juntos, o criminoso e sua testemunha desenvolvem uma construção sobre a odiosa natureza humana. Enquanto Joe relatava a sua jornada sexual para um professor, Jack conta a sua prática de mortes ao poeta Virgílio, autor da Eneida, também citado na Divina Comédia de Dante.

Para começar, o diretor, obviamente, é um exemplo de narcisista que entra no seu próprio filme para falar dele mesmo, assim como Woody Allen, Quentin Tarantino e Alejandro González Iñárritu. Em A casa que Jack construiu, von Trier mostra que o protagonista só ataca mulheres e, como todo misógino, acredita que elas são culpadas pelos atos dele. Uma loucura que se estende até o momento em que o diretor passa cenas de seus filmes anteriores, como Ninfomaníaca, Anticristo e Melancolia. Mais que isso: ele ainda insiste em retomar aquela conversa de que entendia as motivações de Hitler. E sim, isso, infelizmente, é mostrado no filme como uma visão direitista.

Mas ele é um gênio. E como um bom vinho, Lars von Trier mostra ficar cada vez melhor durante os anos. Sua cinematografia, música e montagem são eficazes e completamente cômicas, deixando o espectador desconfortável com o que está sendo visto e rindo ao mesmo tempo. Sim, para a nossa surpresa, a trajetória de Jack é feita com inúmeros momentos de humor. Isso, por sinal, foi pensado para criar mais camadas ao roteiro, já que desenvolve o personagem e a sua alucinante jornada de sangue.

Por fim, a obra se mostra como um suspense eficaz e uma metáfora original, visto que a casa do título só fica pronta quando, finalmente, entendemos as motivações de todos, inclusive a do diretor, que mostra impiedosamente o sofrimento de nossas raízes como humano. É cruel, mas é relevante.

Crítica: A casa que Jack construiu (2018)

Visão grotesca, filme eficaz

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