Lars von Trier não é flor que se cheire. Assumidamente nazista,
o diretor já incomodou muito mais que grande parte dos filmes mais polêmicos de Hollywood. Com
A casa que Jack construiu, o diretor volta com uma perturbação ainda mais
intensa que os outros filmes, apesar de ser menos grotesco que Ninfomaníaca.
A estrutura narrativa destes filmes, alias, se encontram
quando comparados um com o outro. Em ambos os longas, o diretor mostra um
protagonista viciado relatando a sua rotina a um outro personagem. Juntos, o
criminoso e sua testemunha desenvolvem uma construção sobre a odiosa natureza
humana. Enquanto Joe relatava a sua jornada sexual para um professor, Jack
conta a sua prática de mortes ao poeta Virgílio, autor da Eneida, também citado
na Divina Comédia de Dante.
Para começar, o diretor, obviamente, é um exemplo de
narcisista que entra no seu próprio filme para falar dele mesmo, assim como
Woody Allen, Quentin Tarantino e Alejandro González Iñárritu. Em A casa que Jack construiu, von Trier
mostra que o protagonista só ataca mulheres e, como todo misógino, acredita que elas são
culpadas pelos atos dele. Uma loucura que se estende até o momento em que
o diretor passa cenas de seus filmes anteriores, como Ninfomaníaca, Anticristo
e Melancolia. Mais que isso: ele ainda insiste em retomar aquela conversa de
que entendia as motivações de Hitler. E sim, isso, infelizmente, é mostrado no filme como uma visão direitista.
Mas ele é um gênio. E como um bom vinho, Lars von Trier
mostra ficar cada vez melhor durante os anos. Sua cinematografia, música e
montagem são eficazes e completamente cômicas, deixando o espectador
desconfortável com o que está sendo visto e rindo ao mesmo tempo. Sim, para a nossa surpresa, a trajetória de Jack é feita com
inúmeros momentos de humor. Isso, por sinal, foi pensado para criar mais
camadas ao roteiro, já que desenvolve o personagem e a sua alucinante jornada
de sangue.
Por fim, a obra se mostra como um suspense eficaz e uma metáfora
original, visto que a casa do título só fica pronta quando, finalmente,
entendemos as motivações de todos, inclusive a do diretor, que mostra
impiedosamente o sofrimento de nossas raízes como humano. É cruel, mas é
relevante.
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