Desde o anúncio de que Johnny Depp seria, de fato, o vilão
dessa nova franquia de cinco filmes, derivado de Harry Potter, os fãs se
contorcem. Como um misógino pode estrelar tamanha saga, ganhar milhões e ainda
continuar intacto depois dos crimes que cometeu para com a sua ex-esposa, Amber
Heard? J.K Rowling, roteirista de Os Crimes de Grindelwald, responde isso no
filme que promete decepcionar os fãs sedentos por magia, mas agradar os mais atentos
ao universo político que a franquia pode oferecer.
Crítica: Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald (2018)
Universo bruxo, visão política
Rowling, logo de cara, já corrige o que foi feito tão
rapidamente na franquia anterior. Em Os Crimes de Grindelwald, a roteirista divide
os seus personagens com subtramas especificas para cada um, tornando o universo, finalmente, o novo protagonista, não Newt Scamander. Além disso, o seu roteiro também constrói uma
trama que aponta os perigos e mentiras ao redor do fascismo e como ele é
elegantemente convidativo.
É um filme assumidamente anti-Trump e que o faz assim como o
presidente eleito fez durante as eleições: aponta as “vantagens” de construir
muros, literal e metaforicamente, para afastar as pessoas que não
entendemos, os “monstros” ao nosso redor. É um discurso real e que cresce assustadoramente no
mundo inteiro. J.K, sabendo disso, coloca na mesa muitos animais fofos, cenas
de ação empolgantes e uma base longa de política, que faz a obra de mais de
duas horas de duração ser como um embate entre democratas e
republicanos, esquerda e direita, opressão e resistência.
Depp entra nessa jornada justamente por ser esse lado
negativo, sombrio e preconceituoso. Suas poucas
cenas são assustadoras, visto que ele é um homem imprevisível, odioso e que, com
poucas palavras, incomoda tanto quanto Voldemort. E logo em sua primeira cena, o vilão, já de cara, mata um animal indefeso, algo que representa a sua crueldade e diferenças entre o herói. Mas ele não é a única adição
que dá energia pulsante ao filme: Jude Law, dono de uma filmografia e de
talento invejável compreende que Dumbledore, apesar de ser um homem de
práticas errôneas, tem bons motivos no coração. A discussão sobre sua índole,
por sinal, volta a ser debatida no filme. É um acerto mostrá-lo como um homem
de camadas, diferentemente do que foi mostrado nos primeiros longas da franquia
Potter.
E, como não podia faltar, J.K ainda encontra espaço para
falar sobre aquele sentimento que faz as lágrimas caírem quando bem explorado:
o amor. Todos os personagens já tiveram os seus corações partidos, não superaram os términos ou não estão prontos para uma nova relação. São laços que, quando misturados, criam
uma teia de mistério e de dúvidas muito bem feitas para o filme. Você
nunca sabe, por exemplo, o próximo passo de todos eles, justamente por causa do
sentimento e do que ele é capaz.
A direção de David Yates, por outro lado, não se compromete.
Ele segue a formula dos filmes anteriores e nem mesmo a fotografia dos
ambientes muda. Parece, inclusive, que Paris é Londres, e Londres é Nova York. Sua
direção deverá ser um pouco mais arriscada no Brasil, que, inclusive, olha só,
foi confirmado como a próxima nação a servir para J.K e seus personagens.
Não por acaso, a roteirista anunciou essa informação uma semana após Bolsonaro
ser eleito novo presidente do país.
E de fantástico, esse animal não tem nada.
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