
Dirigido por Yorgos Lanthimos, o mesmo de A Lagosta, A
Favorita é um filme que retrata a história real da frágil Rainha Anne, que
ocupa o trono da Inglaterra e tem um caso com a sua amiga mais próxima, a Lady Marlborough,
que, em determinadas situações, governa a nação em seu lugar. Tudo muda quando
uma nova serva chega ao palácio e põe em risco a relação da rainha e da lady. Em
outras palavras: temos aqui um triangulo amoroso lésbico e que, graças ao
roteiro e seu elenco primoroso, nunca deixa de ser um drama sobre dores e
manipulações.
É notório e fácil de se apontar que poucos diretores do
cinema contemporâneo conseguem realizar a proeza de filmarem obras singulares,
ainda que estranhamente sádicas. Lanthimos surge nessa com uma tarefa tão
difícil quanto os seus filmes anteriores. Em A Favorita, o diretor nos diverte,
conta a história das três personagens e ainda desenvolve um humor negro difícil
de aceitar, mas fácil em gerar o riso. Essa camada do roteiro, por sinal, só é feita com tamanha perfeição graças ao elenco, que
tem uma Rachel Weisz cada vez mais imponente, Olivia Colman, sendo a grande “favorita”
ao Oscar (depois de Glenn Close) e Emma Stone, que, apesar de ser o saco de pancadas
do filme, nunca abaixa a cabeça diante de sua inimiga.
Apesar dos elogios, A Favorita não é um filme fácil. Além de
ser o mais diferente entre todos os indicados ao Oscar de melhor filme, o longa
conta com uma excentricidade que sai do casual para o bizarro em questão de
poucos segundos. Isso se deve a fotografia de Robbie Ryan, que oferece técnicas
para criar um universo crível e distorcido. Através da lente “olho-de-peixe”, o
fotografo traz realismo, ao mesmo tempo que desenvolve opressão e desconforto,
visto que aquele palácio, apesar de enorme, fica cada vez menor para o trio de
mulheres. O mesmo pode ser dito sobre a direção de arte e figurino,
que são clássicos e vistosos o suficiente para encher os olhos. É um deleite
visual que gera realismo e nos faz entrar no universo de manipulações.
Mas, as donas do filme, de fato, são as personagens Sarah e
Abigail, que possuem uma química tão intensa quanto a de Whiplash: Em Busca da Perfeição, que trazia
uma guerra psicológica entre os personagens. Aqui, as duas parecem sempre estar
um passo à frente da outra, e, nesse jogo de poder, o filme fica intrigante
desde o primeiro até o último contato das duas mulheres. Simplesmente não
sabemos por quem torcer. E isso é consideravelmente importante para uma obra
sobre embates de poder.
Poder, por sinal, pode ser o grande antagonista da obra.
Lanthimos retorna a um pensamento de que guerra, sexo e dinheiro
comandam todas as cabeças, como podemos observar com o personagem de Nicholas
Hoult, que, acima de tudo, deseja ser alguém importante na corte. Nesse sentido,
A Favorita surge como um estudo da psiquê humana em meio à guerra sexual e
como, infelizmente, a loucura toma conta do poder. Independente de nação ou
sexo, a insanidade, apesar de podre, sempre vence. É o exemplo perfeito de que
a arte, de fato, imita a vida. Ou vice-versa.

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