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Corpo Fechado (2000) | Em busca de novas camadas

M. Night Shyamalan foi colocado no patamar dos deuses quando lançou O Sexto Sentido, obra que, assim como Pulp Fiction: Tempo de ViolênciaJurassic Park: O Parque dos DinossaurosMatrix e Titanic, levou a década de 1990 para um lugar quente no coração de todos os cinéfilos. Eis que na virada do século, em 2000, o diretor retornava para apresentar uma nova jornada. Dessa vez, com o gênero de super-herói, que, na época, estava indo de mal a pior.

Por isso, inclusive, o marketing e toda sua divulgação vendeu o longa como uma obra de horror, que, apesar de ter seus elementos assustadores, não é o foco do longa. No filme, o diretor apresenta David Dunn, um segurança de estádio que sai ileso de um acidente de trem que matou todos os passageiros, exceto ele. Procurando informações sobre o fato, ele descobre Elijah Price, um estranho nerd empreendedor que tem uma explicação absurda sobre o que ocorreu.

Sendo um admirador da nona arte, Shyamalan constrói um invejável universo de super-herói. O filme, inclusive, traz as cores, os enquadramentos e diálogos que parecem ter sido retirados de obras da Marvel, ainda que tenha um clima inspirado no universo DC, algo que, consequentemente, influenciou a trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan.

Por outro lado, ele aposta na fidelidade do público em ser paciente, visto que apresenta de forma lenta o desenvolvimento dos personagens, os seus conflitos e dramas. Corpo Fechado marca o nascimento do heroísmo de David. Para isso, o diretor mostra relutância, o chamado da responsabilidade, a criação da identidade e os deveres e responsabilidades de um humano com poderes. São temas já explorados em outros filmes. A diferença desse para com os demais, no entanto, são as tensas e arrepiantes reflexões que o protagonista explora. 

Se mostrando como um homem infeliz e depressivo, David encontra em Elijah uma forma de se encontrar. É uma construção brilhante. Os dois personagens se completam e a dinâmica da dupla é próxima de algo parecido como Xavier e Magneto, logo que, mesmo com diferenças, eles buscam o mesmo argumento para seguirem em frente. 

Nesse sentido, Bruce Willis cria um David cansado e com sinais de desesperança. É um personagem calado, sofrido e que vai ganhando novas camadas e características a partir do momento que vai se descobrindo. É perfeito, dado que o público cresce com ele também. Já Samuel L. Jackson constrói um homem calculista e, apesar de simpático, seguro de todas suas ações. É um antagonista que também não sabe ser vilão e que se descobre durante os atos. E a conclusão de seu arco é um dos mais belíssimos do gênero e, provavelmente, o mais arrepiante da filmografia do diretor. No momento em que descobrimos as suas atitudes e os seus porquês, por exemplo, vamos da admiração ao ódio, e da empatia ao medo. Com o apoio da fotografia e da música arrepiante de James Newton Howard, ficamos perplexos.

Corpo Fechado é um filme que entende as dores dos personagens e o universo melancólico dos mesmos. Com o apoio do figurino, que aponta pacientemente quem são os vilões da história, da montagem, que cria rimas narrativas, e do roteiro sagaz, Shyamalan apresenta aqui uma atmosfera nunca superada. Já disse e repito: Shy é um gênio a frente de seu tempo, exatamente igual ao seu maior personagem: o Senhor Glass.


Crítica: Corpo Fechado (2000)

Em busca de novas camadas

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