Levou três anos para que Rocky ganhasse uma sequência após o
seu sucesso de público, crítica e nas premiações. Com a direção de Sylvester
Stallone, a segunda parte conta a jornada da aguardada revanche entre Apollo
Creed e Rocky Balboa, algo que garantiu aquele que é um dos melhores filmes de
superação da história do cinema.
+ Rocky: Um Lutador (1976) | Visão de longo alcance
+ Rocky: Um Lutador (1976) | Visão de longo alcance
O primeiro Rocky, sendo um drama sobre autenticidade,
preparou terreno para continuar a história dos dois lutadores que encontram um
no outro o impulso para superarem os rótulos que os aprisionam. Pensando nisso,
o diretor opta por repetir os minutos finais do primeiro filme, um recurso que
nos recorda que a luta representa a realização de Rocky como ser humano, e não
um evento como Creed.
A partir deste ponto, o filme simplesmente não para. Os diálogos
são mais rígidos, os personagens, sobretudo Rocky e Adrian, são mais profundos
e toda a trama que fica ao redor da família Balboa e Creed são dramáticas o
suficiente para que o filme continue os torturando. Rocky, por exemplo, usa do
seu dinheiro para garantir uma vida melhor a sua esposa. Sem medir o nível de
capital gasto, o personagem acaba sendo obrigado a trabalhar em alguns
ambientes que não têm nada a ver com ele. Isso o deixa derrotado, falido e sem
nenhuma perspectiva de vida. A solução: uma revanche milionária com Creed.
Para isso, ele teria que arriscar a sua vida novamente e
perder aqueles que ama, o que inclui o seu treinador, Mickey, seu melhor amigo,
Paulie, Adrian e seu filho recém-nascido, ou, se sobrevivesse, poderia ficar
sequelado ou cego. Isso, por outro lado, garante ao longa-metragem uma mudança
imensa ao personagem, que deixa de ser uma pessoa ficcional para ser um herói.
O seu herói, no caso, é o arquétipo para as pessoas
existentes. Ele é um lutador e lutar é tudo o que ele sabe. Com isso em mente, o
roteiro toca os espectadores por sua humanidade, como no primeiro filme, e a
partir disso ele passa a ser aquele que nega o chamado da aventura, mas que
acaba atendendo em determinado momento da obra justamente por assumir ser, de
fato, um modelo para as pessoas, incluindo os personagens sofridos ao seu
redor. Essa mudança, por sinal, pode ser representada na sequência do zoológico
que serve para comparar Rocky com um tigre, que, claramente, simboliza a
ferocidade e a coragem física do herói. Não por acaso que Rocky passa quase o
filme inteiro com uma jaqueta de tigre depois desta cena.
Levando em conta que o tigre está em cativeiro, o diretor
mostra o herói pedindo Adrian em casamento no zoo, algo que enfatiza o seu lado
apaixonado por aquela mulher, ainda que preso de sua selvageria. Na sequência
seguinte, após comprar a jaqueta, que serve quase como o uniforme de
super-herói, Rocky coloca uma coleira no pulso, representando, então, sua
vontade de voltar aos ringues, ainda que impossibilitado diante de suas
promessas.
O gesto representa a domesticidade e da perda da ferocidade construída
tão bem no primeiro filme. É a representação mítica do complexo de castração,
no estilo mais Sansão e Dalila possível. Quando Rocky usa a coleira, ele não
treina com afinco ou com a garra que demonstrava no filme anterior, quando
ainda não era casado.
Já Apollo, com o seu nome grego que parece ter ainda mais
sentido na continuação, é surpreendido pela ferocidade de Rocky, o que o
provoca a exigir uma revanche. Para isso, ele readquire a garra perdida e
desperta o melhor de si para enfrentar Balboa, ainda que na base da raiva. Se isso
já era exposto no primeiro filme, na continuação eles são guerreiros e no
ringue é que eles mostram a força de uma guerra. Esse elemento, por sinal, pode
ser representado quando Apollo olha-se no espelho e vê a foto de Rocky. É vendo-se
em Rocky que ele desperta a sua antiga grandiosidade.
Tudo isso pode ser enfatizado com a trilha sonora de Bill Conti que
volta aqui com uma música apaixonante e completamente provocadora. Ela desafia
Rocky, Apollo, Adrien, Mickey e até mesmo o espectador que, simplesmente, não
sabe mais por quem torcer durante o filme.
Por isso Rocky 2: A Revanche é uma montanha russa de
emoções, dado que somos apegados aos personagens e acabamos sentindo todas suas
perdas, dores e, não menos importante, a glória de suas vitórias. É clichê,
mas extremamente poderoso para a sétima arte.
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