TAG inéditos #2: O Bom Filho (2019) | Thriller tem trama arrastada, mas cumpre exatamente o que promete
Yu-Jin é acordado pelo cheiro de sangue. E somos despertados pela curiosidade para continuar lendo para descobrir o porquê. Em poucas linhas, infelizmente perdemos a curiosidade, pois a medida que o personagem coreano explica sobre sua condição de epilético já nos fazer esquecer do principal.
"Bom Filho", obra de You-Jeong Jeong, sul-coreana considerada uma das grandes escritoras contemporâneas de suspense do país, e segundo livro do ano da série TAG inéditos traz thriller satisfatório, de fato. Ser comparada a Stephen King talvez seja exagero, mas de fato a autora consegue, mesmo que por meio de clichês e uma trama enrolada, construir suspense por entre suas linhas. O leitor talvez precisa de um pouco de coragem, mas assim que se ultrapassa as primeiras 100 páginas, não se torna difícil chegar ao final.
Após acordar certo de que a próxima tempestade mental chegaria em breve, causada por sua teimosia em interromper seus medicamentos, Yu-Jin escuta a voz da mãe e logo se dá conta de que, caso tenha um ataque, será descoberto e provavelmente terá que lidar com as duas mulheres que o impedem de ter uma vida normal: sua progenitora, que constantemente o vigia, e sua tia, sua médica psiquiátrica. Porém, por mais que ouça a voz da mãe, ele não a escuta em sua rotina, o que o faz duvidar se está realmente acordado, mas em poucos momentos percebe que há algo de errado naquela casa, e que o sangue parece estar muito perto dele mesmo.
O livro é basicamente um monólogo em que o personagem Yu-Jin vai, por meio de 285 páginas divididas em três capítulos e um epílogo, narrando suas descobertas acerca de seu passado. O enredo até ai possui grande potencial, se não fosse atrapalhada por seus diversos clichês e narrações desnecessárias. A pouca audácia e o desejo súbito de permanecer na zona de conforto são grandes problemas para a obra coreana.
Doenças escondidas, um passado obscuro, leitura de diários, perda de memória... O Bom Filho não poupa alguns velhos clichês de terrores psicológicos e em momento algum consegue, de fato, criar um grande mistério. Logo nas primeiras paginas já temos grandes dicas de seu final. Então, com quase trezentas páginas, é impossível não sentir que estamos levando mais tempo que o necessário para chegar ao clímax.
Entretanto, a boa escrita da autora - consequentemente, a boa tradução da obra -, e o contato com a cultura coreana doméstica, ainda não muito conhecida no Brasil, são pontos positivos para a edição. O estilo da educação tiger, em que a criação é menos tolerante que a das culturas ocidentais, e a forma que é trabalhada no texto tornam a trama mais interessante, ainda mais da forma que é contada pelas entrelinhas e de forma gradual.
A dica que dou é dar uma chance para a obra. Pelo menos as primeiras 50 páginas. O que fazer a partir dai é escolha sua. Você pode perder a experiência de ler sobre uma nova cultura em um livro que cumpre exatamente o que promete, ou perder algumas horas para a leitura de uma obra que, infelizmente, pouco acrescenta afinal.
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