Pular para o conteúdo principal

Adoráveis Mulheres: A União Feminina como Resistência


O livro “Mulherzinhas” (Little Women), clássico escrito por Louisa May Alcott, já foi adaptado em diversos formatos ao longo do tempo. Na sua sexta adaptação para o cinema, em Adoráveis Mulheres, a história ganha um novo olhar na direção e roteiro de Greta Gerwig, que moderniza a narrativa mostrando que uma história forte de união de mulheres é mais atual do que nunca.

A história acompanha as 4 irmãs March: Jo (Saoirse Ronan), Meg (Emma Watson), Amy (Florence Pugh) e Beth (Eliza Scanlen) durante sua adolescência até o começo da vida adulta no período da Guerra Civil Americana. Com personalidades completamente diferentes, as quatro encaram os desafios da vida, seus altos e baixos, em uma crítica à sociedade machista e patriarcal. 

Greta assume contar a história de maneira não linear. O espectador salta entre as lembranças e o presente das irmãs, e vai montando o quebra-cabeça com os acontecimentos que foram moldando o destino e a escolhas das personagens de maneira bastante acessível para o entendimento do todo.

As lembranças são pontuadas pela fotografia do filme com cores mais vibrantes e com tons amarelados, marcando a fase da adolescência, da inocência e das aspirações por um futuro idealizado por cada uma. Já o tempo presente tem cores mais escuras e sóbrias, marcando a vida adulta e o destino que não saiu exatamente como o esperado devido às escolhas fora do planejado e pela sociedade machista que as envolve.

A química das personagens é o grande ponto forte na história. Apesar de cada irmã possuir personalidade distinta entre si, a química entre elas é gigante. Por não terem o pai presente, ausente por causa da guerra, elas assumem as rédeas de sua história, ideia que já vai de encontro ao sustento patriarcal. O longa também é crítico ao papel do casamento na vida das mulheres, sendo apontado por Jo e Meg, como um elemento na vida feminina muito mais econômico e para sobrevivência do que para o amor. Em dois diálogos com ‘Lauire’ (Timothée Chalament), o casamento é mostrado também como algo que vai além do interesse amoroso, sendo caso de privilégios que homens tem perante as mulheres.

Neste filme, o papel mais importante fica por conta de Jo (alter ego da escritora Louisa May Alcoot), a atuação de Ronan (mais uma vez em parceria com Greta, desde Lady Bird) é o maior fio condutor da obra entre as irmãs. Uma mulher que quebra todos os paradigmas da obra e tem como conclusão de seu arco algo que está além de um final que se adeque às narrativas clássicas. É possível que, novamente, uma indicação à melhor performance da academia seja atribuída a Ronan.

Em Adoráveis Mulheres, Gerwing acerta mais uma vez na sua carreira. Ela extrai das suas personagens verdadeiro senso de união, coragem em suas fantasias e um enfrentamento a realidade difícil do universo feminino, mostrando que seu olhar crítico se mostra cada vez melhor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leonard Nimoy, eterno Spock, morre aos 83 anos

A magia que um personagem nos passa, quando sincera, é algo admirável. Principalmente quando o ator fica anos trabalhando com a mesma figura, cuidando com carinho e respeitando os fãs que tanto o amam também. E, assim foi Leonard Nimoy . O senhor Spock de Jornada nas Estrelas , que faleceu ontem (27/02) por causa de uma doença pulmonar, aos 83 anos. O ator, diretor, escritor, fotógrafo e músico deixou um legado imenso para nós. E isso é algo que ele sempre tratou com muita paixão: a arte. A arte de poder fazer mais arte. E com um primor de ser uma boa pessoa e querida por milhares. E por fim, a vida atrapalhou tal arte. Não o eternizou como o seu personagem. Mas apenas na vida, pois no coração e na memória de todos, o querido Nimoy vai permanecer perpétuo nessa jornada. Um adeus e um obrigado, senhor Leonard Nimoy, de Vulcano. Comece agora, sua nova vida longa e próspera, onde quer que esteja.

Mad Max (1979) | O cinema australiano servindo de influência

Para uma década em que blockbusters precisavam ter muitos efeitos visuais e grandes atros do momento, como em Alien - O Oitavo Passagéiro , Star Wars , Star Trek  etc, George Miller teve sorte e um roteiro preciso ao provar que pode se fazer filme com pouco dinheiro e com um elenco de loucos.   Mad Max , de 1979, filme australiano com uma pegada  exploitation,  western e de filmes B, mas que conseguiu ser a estrada para muitos filmes de ação de Hollywood atualmente.   Miller, dirigiu, escreveu e conseguiu com um orçamento de 400 mil filmar um dos mais rentáveis do planeta. O custo do filme foi curto e assim, tudo foi pensado no roteiro e nos diálogos que o filme ia exibir. Como os textos sobre o futuro, humanidade e seu fim, e o Max do título. O filme é rodado com o Mel Gibson sendo o centro. Seus diálogos curtos demonstram o homem da época, e com uma apologia ao homem do futuro. Uma pessoa deformada pelas perdas e com a vontade de ter aquilo que não pode ter, e que resulta no

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) | Peter Jackson cumpre o que prometeu

    Não vamos negar que a trilogia O Hobbit possui grandes problemas. O que é uma pena, já que a trilogia anterior ( O Senhor dos Anéis ) não tem falha alguma. Contudo, o que tinha de errado em Uma Jornada Inesperada e Desolação de Smaug , o diretor Peter Jackson desfaz nessa última parte. O que é ótimo para os espectadores e crível para os adoradores da saga da terra-média de longa data.     O filme apresenta problemas diversos, por exemplo, um clímax logo na primeira cena (se é que você me entende) e um personagem que não consegue momento algum ser engraçado. Falhas como essas prejudicam o filme como todo. O roteiro, por ser o mais curto dos três, precisava de mais tempo em tela, e dessa forma, cenas e personagens sem carisma são usados repetidas vezes e com uma insistência sem ter porquês. Mas, em contra partida, O Hobbit e a Batalha dos Cinco Exércitos consegue ser mais direto, objetivo e simples que seus antecessores, que são longos e cheios de casos como citei. E o real mo