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O Poderoso Chefão (1972) | Entre os valores da família e os limites éticos

 O que faz de um filme um clássico? O que o torna tão grandioso a ponto de ser referência da cultura pop, a ponto de ser considerado uma obra cinematográfica? Seria sua história, seu elenco ou seu diretor? Sua trilha-sonora, efeitos visuais ou outros elementos técnicos? Seria um conjunto de todas essas coisas? Francis Ford Coppola talvez não soubesse à época a resposta para todas estas perguntas e provavelmente também não tinha consciência do peso que seu filme viria a ter ao longo dos anos, mas, com certeza sabia o valor do material que tinha em mãos quando ficou responsável por traduzir para as telas a obra literária de Mario Puzo. Caso contrário, não teria feito com tanto cuidado e dedicação uma das maiores películas que o cinema já conheceu.
O cenário de O Poderoso Chefão (The Godfather) é dos Estados Unidos pós-segunda guerra. Uma época em que o país ascendia rapidamente e ganhava força no cenário econômico afora. Palco próspero para os norte-americanos e também para todos que haviam adotado a América como seu lar. Os primeiros 25 minutos do filme introduzem muito bem uma família italiana que se eleva cada vez mais na Terra do Tio Sam. Família essa ligada a máfia, cujo patriarca possui uma coleção infindável de fieis que, em troca de favores, oferecem sua amizade. Este primeiro momento do filme ilustra de modo bastante claro que o enredo orbita em torno de Don Vito Corleone, um homem que valoriza extremamente sua família e a lealdade de seus parceiros.
O personagem interpretado por Marlon Brando se tornou um mito ao longo do tempo. Don Corleone, apesar de sempre prezar por justiça, é um homem cuja presença impõe medo, respeito e fascínio e leva seu trabalho muito a sério. Em contraposto temos seu filho mais novo, Michael Corleone (Al Pacino), que por opção própria, decidiu não se envolver nos negócios da família com medo de se tornar corrupto como o pai. Pacino entrega uma performance sutil - e muito eficaz - de seu personagem, que no início do longa se mostra alheio ao universo cuja família participa e depois de uma série de acontecimentos, ganha uma força latente à medida que se envolve com a máfia norte-americana. Força essa quase sempre transmitida pelas expressões e pelo olhar de Michael. Afinal, seria ele tão diferente de seu pai?
Podemos perceber que tal mudança fica explanada em uma cena onde a câmera mostra Michael no centro de um escritório, apenas escutando os companheiros de seu pai discutindo qual será o próximo passo depois de uma quase-tragédia. Quando Michael finalmente começa a expor o que está pensando, a câmera se aproxima lentamente do rapaz, tornando visível um fogo em seus olhos nunca antes mostrado no filme. Temos aí a transformação do Corleone mais jovem.
Em determinado momento da obra, Michael responde a seguinte frase após ser questionado sobre as atitudes de seu pai: “Meu pai não é diferente de nenhum outro homem poderoso”, o que só exemplifica que quando se trata de poder, não parecem existir limitações morais ou éticas. Estariam, afinal, os Corleone tão longe assim de políticos, policiais ou quaisquer outras pessoas de grande influência? Talvez as famílias retratadas no filme sejam metáforas para os indivíduos que regem nossas vidas cotidianamente.

Ao final da película percebemos que seus dois personagens centrais passaram por mudanças notáveis. Vito, o patriarca, se torna uma figura frágil e cansada, enquanto Michael parece tomar para si as responsabilidades do pai. Ele passa a considerar sua família tão importante e busca justiça de forma tão incansável que se torna um reflexo perfeito do homem que sempre evitou. Os minutos finais são viscerais, pois, mostram Michael sendo reverenciado e chamado de “Don Corleone” enquanto sua esposa o observa de longe, receosa ao ver o tipo de homem que seu marido se tornou. Temos ali a certeza de que um clássico nascera e estava pronto para se tornar um marco na indústria cinematográfica.

Comentários

  1. Achei meio vago David , analisou um dos filmes mais clássicos da historia sem a emoção real de um bom escritor , continue escrevendo um dia você chega ao auge!

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