O que Melinda tem a dizer não importa, pelo menos não em sua concepção. Mas a verdade é que o que ela pronunciaria, se tivesse coragem o suficiente, precisaria de um público mais que preparado para ouvir, principalmente se ela contar o que aconteceu naquela noite. Nem mesmo a polícia foi capaz de punir o causador de sua dor, já que o som não foi pronunciado por Melinda, consequentemente não poderá evitar que isso aconteça novamente com outra pessoa. E essa possibilidade atormenta Melinda e todas os efeitos por ter chamado a polícia ainda a perseguem.
Agora em um novo ano, mas na mesma escola onde todos a odeiam, inclusive sua antiga melhor amiga, Mel não contava com a provocação do apelidado "Troço", que parece se divertir doentiamente com o desespero e agonia da protagonista. Ele é um predador em busca de sua vítima, como uma perseguição que não acabava. Seu projeto de artes parece ser a única forma de Melinda dizer tudo sem pronunciar uma única palavra. A árvore que nasce em seu projeto, os galhos que parecem sair de sua garganta, o crescimento ainda em progresso e as folhas como esconderijo, a imagem é tão obscura e tão clara, e a autora da obra parece ser a única capaz de decifrá-la, de entendê-la e, de certa forma, de ouvi-la.
Mas como o predador sempre quer mais presas, a nova de Andy Evans faz a garota ao menos pensar em abrir um pouco a boca, mesmo com a chance de arriscar seu silêncio e fugir de seu "abrigo" nem tão protetor. E quando o silêncio de Melinda quebrar, não haverá platéia para entender seus gritos e nem força para pará-la.
Embora um pouco lento e cansativo, a escrita metafórica até demais de Laurie é capaz de tocar e abalar qualquer alma despreparada, como no caso, a minha. A dor e o silêncio da personagem gera um sentimento de vácuo, que provavelmente só poderá ser realmente quebrado quando sentirmos que todos os nossos gritos e palavras abaladas estiverem sendo liberados da forma mais alta possível. Para todo e qualquer interesse, na primeira edição da editora Valentina, publicada em 2013, nas primeiras páginas, há um poema com frases de cartas que a autora Laurie Halse Anderson recolheu. A emoção das palavras de todos as meninas e meninos são traduzidos na leitura desse livro, tão monótono às vezes, tão agoniante e tão alto.
O silêncio de Melinda, o meu silêncio, o nosso silêncio, não pode ser maior que nossa voz.
O silêncio de Melinda, o meu silêncio, o nosso silêncio, não pode ser maior que nossa voz.
Eu, gritando, depois desse livro:
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