"Persépolis", o romance autobiográfico em graphic novel da autora Marjane Satrapi, foi dividido em quatro livros, publicados entre os anos 2000 e 2003, e traz a estória da autora iraniana que, em 1980, quando tinha 10 anos, se viu obrigada a estudar separada dos meninos e a usar um véu.
Nada de princesa, fada ou sereia. Quando Marjane era criança, ela queria ser profeta!
Após a revolução iraniana, que derrubou o regime do imperador Xá (que era o "escolhido" de Deus, na visão de Marjane) e implantou a "República Islâmica", estabelecendo doutrinas baseadas dos islã, Marjane Satrapi, bisneta do antigo imperador antes do pai do Xá, juntamente com sua família altamente politizada, protestou contra o que seria só o começo do regime xiita. Mandada pelos pais para a Áustria com apenas 14 anos, após um episódio em que a garota expressou demais seus pensamentos em um momento errado, buscando a paz que só encontraria de verdade anos depois, vemos a rebeldia realista da personagem em busca da liberdade.
O livro da última "profeta" do Irã emociona com as reflexões de uma realidade que muitas pessoas, especialmente mulheres, enfrentaram e ainda enfrentam no regime que supostamente deveria ter terminado com a ditadura. A rebeldia da garota, que estava no começo da adolescência, é uma forma de protesto contra a opressão, assim como no começo do período que ela chama de "era do Punk". Além disso, Michael Jackson, Bee Gees e as festas com bebidas alcoólicas eram a forma de resgatarem uma última autonomia e um último pingo da esperança de que, mesmo em uma época difícil, ainda poderiam agir como adolescentes e se divertir como seres humanos.
A ideologia e o contexto histórico trazido pelo livro, sem nenhum compromisso com a formalidade e abrindo espaço para uma linguagem quase coloquial e, em certas partes, até um pouco sensível, transforma a estória da revolucionária em um clássico literário, e talvez algo ainda mais inovador: um clássico da literatura iraniana, algo quase que inédito. As lágrimas que não liberei ao ler sua estória alguns anos atrás se transformaram em um soluço, não de compreensão, já que uma situação dessa só pode ser compreendida por alguém que passou por algo similar, mas de irmandade e admiração. A luta de Marjane, eternizada em seu livro Persépolis, escrito depois de sua ida à França, não deve ser esquecida, e muito menos banalizada, já que não são muitos que enfrentaram o regime da forma como ela o fez e estão realmente aqui para contar.
Como imagino a Marjane hoje em dia:
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