Escrita e finalizada no ano de 1955, o Auto da Compadecida é a obra que mais deu destaque para seu escritor, Ariano Suassuna. Montada e encenada no Teatro Santa Isabel em Recife no ano de 1956, foi publicada em 1957 pela AGIR, premiada no Rio de Janeiro já na condição de marco na história do teatro brasileiro. Traduzida em diversos idiomas, sendo a primeira tradução na Espanha em 1965.
A peça teatral de Ariano Suassuna, é um auto (peça de apenas um ato) que se alimenta da tradição do teatro medieval como a Commedia della arte e a cultura popular nordestina tendo como exemplo a literatura de cordel. Observa-se uma mistura de vários contos populares e diversas histórias recontadas com alterações que caracterizam esse tipo de teatro que tem como caráter tradicional e coletivo, onde o autor não julga que escreve por si só, mas com apoio implícito de uma comunidade inteira.
A narrativa da peça gira em torno das aventuras quixotescas de João Grilo e seu amigo Chicó, onde ambos protagonizam o caso do enterro da cachorra, do gato que descome dinheiro, da gaita que ressuscita os mortos e o julgamento diante de Jesus, a Virgem Maria e o Diabo. Nosso anti-herói João Grilo é o típico personagem folclórico que vive ao sabor do acaso, que em suas aventuras se envolve com diversos personagens engabelados por suas mentiras. Mas justo por ser esse anti-herói que o autor pode propor um exame dos valores sociais e da moral estabelecida. Percebemos então a fragilidade e a suscetibilidade de nossas convicções diante das adversidades.
Dentre os personagens que nos são apresentados nessa trama estão o Padeiro e sua mulher, o Padre, o Sacristão, o Bispo, o cangaceiro e o Severino, o Major Antônio Morais. O elemento religioso, a fixação da cultura popular, a presença do anti-herói e a linguagem simples são elementos que devem ser valorizados, pois sua combinação constitui a arquitetura e a lógica do “Auto da Compadecida”. Ariano Suassuna traz à tona reflexões de ordem moral por meio das quais problematiza as fraquezas humanas, valores e convicções.
Com um humor marcante que percorre toda a estrutura da peça, transformando em caricaturas não apenas as personagens, mas também as circunstâncias em que elas se envolvem. Auto da Compadecida é uma leitura recomendada e aprovada de fácil progressão. Indubitavelmente um livro pra se ter na cabeceira.
Com um humor marcante que percorre toda a estrutura da peça, transformando em caricaturas não apenas as personagens, mas também as circunstâncias em que elas se envolvem. Auto da Compadecida é uma leitura recomendada e aprovada de fácil progressão. Indubitavelmente um livro pra se ter na cabeceira.
Uma das histórias absurdas contadas por Chicó. |
Segue o trecho em que João Grilo morre e seu companheiro Chicó chora por seu amigo:
“Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre.”
“Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre.”
Outro trecho marcante dessa história é o cordelzinho que João Grilo recita no julgamento para apelar para Nossa Senhora, a Compadecida:
“Valha-me Nossa Senhora,/Mãe de Deus de Nazaré!
“Valha-me Nossa Senhora,/Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,/ a braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada,/a braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio./ mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,/ só me falta ser mulher.
Já fui barco, fui navio./ mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,/ só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,/Mãe de Deus de Nazaré.”
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