
A peça teatral de Ariano Suassuna, é um auto (peça de apenas um ato) que se alimenta da tradição do teatro medieval como a Commedia della arte e a cultura popular nordestina tendo como exemplo a literatura de cordel. Observa-se uma mistura de vários contos populares e diversas histórias recontadas com alterações que caracterizam esse tipo de teatro que tem como caráter tradicional e coletivo, onde o autor não julga que escreve por si só, mas com apoio implícito de uma comunidade inteira.
A narrativa da peça gira em torno das aventuras quixotescas de João Grilo e seu amigo Chicó, onde ambos protagonizam o caso do enterro da cachorra, do gato que descome dinheiro, da gaita que ressuscita os mortos e o julgamento diante de Jesus, a Virgem Maria e o Diabo. Nosso anti-herói João Grilo é o típico personagem folclórico que vive ao sabor do acaso, que em suas aventuras se envolve com diversos personagens engabelados por suas mentiras. Mas justo por ser esse anti-herói que o autor pode propor um exame dos valores sociais e da moral estabelecida. Percebemos então a fragilidade e a suscetibilidade de nossas convicções diante das adversidades.
Dentre os personagens que nos são apresentados nessa trama estão o Padeiro e sua mulher, o Padre, o Sacristão, o Bispo, o cangaceiro e o Severino, o Major Antônio Morais. O elemento religioso, a fixação da cultura popular, a presença do anti-herói e a linguagem simples são elementos que devem ser valorizados, pois sua combinação constitui a arquitetura e a lógica do “Auto da Compadecida”. Ariano Suassuna traz à tona reflexões de ordem moral por meio das quais problematiza as fraquezas humanas, valores e convicções.
Com um humor marcante que percorre toda a estrutura da peça, transformando em caricaturas não apenas as personagens, mas também as circunstâncias em que elas se envolvem. Auto da Compadecida é uma leitura recomendada e aprovada de fácil progressão. Indubitavelmente um livro pra se ter na cabeceira.
Com um humor marcante que percorre toda a estrutura da peça, transformando em caricaturas não apenas as personagens, mas também as circunstâncias em que elas se envolvem. Auto da Compadecida é uma leitura recomendada e aprovada de fácil progressão. Indubitavelmente um livro pra se ter na cabeceira.
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Uma das histórias absurdas contadas por Chicó. |
Segue o trecho em que João Grilo morre e seu companheiro Chicó chora por seu amigo:
“Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre.”
“Acabou-se o Grilo mais inteligente do mundo. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre.”
Outro trecho marcante dessa história é o cordelzinho que João Grilo recita no julgamento para apelar para Nossa Senhora, a Compadecida:
“Valha-me Nossa Senhora,/Mãe de Deus de Nazaré!
“Valha-me Nossa Senhora,/Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,/ a braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada,/a braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio./ mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,/ só me falta ser mulher.
Já fui barco, fui navio./ mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,/ só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,/Mãe de Deus de Nazaré.”
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