Pular para o conteúdo principal

A Cidade do Sol | O cruzar de dois destinos



Com água nos olhos, depois de três lencinhos de papel e algumas horas refletindo sobre a obra que estava nas minhas mãos, resolvi sentar na cadeira, criar coragem e escrever uma resenha digna do livro A Cidade do Sol, segundo livro do escritor Khaled Hosseini. O autor, sendo o mesmo de O Caçador de Pipas (essa informação é essencial para termos ideia do que estamos lidando), não poderia ter menos pena de seus leitores. Sendo tão (ou até mais, caso possível) emocionante quanto seu primeiro livro, o autor afegão não poupa esforços para alcançar seu objetivo: Arrancar lágrimas de uma realidade.

Marian era bastarda, uma harami, fruto de uma relação de Jalil e sua servente, Nana. Laila era de uma família de classe alta e sonhava em se casar com Tariq, seu melhor amigo. A vida das duas poderiam nunca ter se cruzado de forma significativa. Se algo acontecesse diferente, se alguma das duas pudessem ter escolhido seus destinos e os caminhos que seguiriam, o encontro das duas poderia não ter se concretizado. Entretanto, uma pitada de má sorte fez com que as duas fossem interligadas por um ponto em comum, algo que não poderiam ter evitado, pelo menos se quisessem sobreviver ao Talibã.

As palavras fortes e as frases de revolta  que pegamos, mesmo que subjetivamente, são deixadas de forma nem tão sutil pelo autor. Não estou falando de problemas pequenos, que por muitas vezes nos parecem tão grandes, mas sim de catástrofes gigantescas que as protagonistas tem que aprender a lidar, de preferência de cabeça baixa e boca fechada, como toda boa mulher deve fazer em um regime tão sexista e irracional. E não é a escrita poderosa de Khaled Hosseini que diminui a estória terrível de um livro fabuloso. 

Através de risadas nervosas, sorrisos, barulhos raivosos e engasgos, vou lendo o livro que me faz exalar emoções diferentes a cada capítulo, a cada página, a cada parágrafo. E tudo isso poderia ate ser esquecido caso soubéssemos que tudo aquilo não passa de ficção, mas o fato de que estórias, não iguais, mas parecidas, podem e provavelmente estão acontecendo nesse exato momento, deixa o livro ainda mais comovente e importante. Além disso, temos um grande diferencial. Do mesmo jeito que Persépolis (veja a resenha Clicando Aqui!) é uma preciosidade para o nosso contato com a literatura iraniana, não tenho receio em dizer que, por mais que Hosseini tenha morado nos Estados Unidos por grande parte de sua vida, temos pelo menos um gostinho de uma incrível literatura afegã. 



Terminando o livro: 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leonard Nimoy, eterno Spock, morre aos 83 anos

A magia que um personagem nos passa, quando sincera, é algo admirável. Principalmente quando o ator fica anos trabalhando com a mesma figura, cuidando com carinho e respeitando os fãs que tanto o amam também. E, assim foi Leonard Nimoy . O senhor Spock de Jornada nas Estrelas , que faleceu ontem (27/02) por causa de uma doença pulmonar, aos 83 anos. O ator, diretor, escritor, fotógrafo e músico deixou um legado imenso para nós. E isso é algo que ele sempre tratou com muita paixão: a arte. A arte de poder fazer mais arte. E com um primor de ser uma boa pessoa e querida por milhares. E por fim, a vida atrapalhou tal arte. Não o eternizou como o seu personagem. Mas apenas na vida, pois no coração e na memória de todos, o querido Nimoy vai permanecer perpétuo nessa jornada. Um adeus e um obrigado, senhor Leonard Nimoy, de Vulcano. Comece agora, sua nova vida longa e próspera, onde quer que esteja.

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) | Peter Jackson cumpre o que prometeu

    Não vamos negar que a trilogia O Hobbit possui grandes problemas. O que é uma pena, já que a trilogia anterior ( O Senhor dos Anéis ) não tem falha alguma. Contudo, o que tinha de errado em Uma Jornada Inesperada e Desolação de Smaug , o diretor Peter Jackson desfaz nessa última parte. O que é ótimo para os espectadores e crível para os adoradores da saga da terra-média de longa data.     O filme apresenta problemas diversos, por exemplo, um clímax logo na primeira cena (se é que você me entende) e um personagem que não consegue momento algum ser engraçado. Falhas como essas prejudicam o filme como todo. O roteiro, por ser o mais curto dos três, precisava de mais tempo em tela, e dessa forma, cenas e personagens sem carisma são usados repetidas vezes e com uma insistência sem ter porquês. Mas, em contra partida, O Hobbit e a Batalha dos Cinco Exércitos consegue ser mais direto, objetivo e simples que seus antecessores, que são longos e cheios de casos...

Filmes querem lhe enganar, não esqueça disso

Este texto não bem uma crítica, mas uma ponderação sobre o cinema enquanto uma ferramenta de afirmação. Podemos supor que o que leva uma equipe a gastar quase 100 milhões de dólares para contar uma história é principalmente acreditar nela. Veja só, por que filmes de guerra são feitos? Além do deslumbre de se tornar consumível uma realidade tão distante do conforto de uma sala com ar-condicionado, há a emoção de se  converter emoções específicas. Sentado em seu ato solitário, o roteirista é capaz de imaginar as reações possíveis de diferentes plateias quando escreve um diálogo ou descreve a forma como um personagem se comporta. Opinião: Filmes querem lhe enganar, não esqueça disso "Ford vs Ferrari", de James Mangold, é essencialmente um filme de guerra. Mesmo. Digo isso porque Ford vs Ferrari , de James Mangold , é essencialmente um filme de guerra. Mesmo. Aqui é EUA contra Itália que disputam o ego de uma vitória milionária no universo da velocidade. Ainda no iníci...