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Nocaute (2015) | Sobre o bom uso de clichês


Clichês são inevitáveis. O cinema existe há mais de um século e ideias se reciclam através de sussurros que passam pelo tempo, e, só observamos logo após o fim da exibição do filme a quantidade exume de cenas piegas. O que muda dentro da norma padrão cinematográfica é como o clichê é realizado e quem o fez. Nocaute, o novo filme com temática de boxe e superação nos faz recordar a todo instante de filmes como Touro Indomável, Rocky e até mesmo, A Procura da Felicidade

Tudo está presente da maneira mais caótica e previsível possível, cito como exemplo, o protagonista decair até não poder mais, da riqueza ir para a pobreza, cenas de lutas sincronizadas que remetem há um programa televisivo, o clipe de treinamento na academia, o técnico arrogante e ex-lutador, etc. O típico nuance do cinema de sobrepujamento está mais que presente na obra do diretor Antoine Fuqua.

Um dos diferenciais nesse filme, dentro dos demais, é a atuação dedicada que Jake Gyllenhall entrega. Seu personagem, que começa satisfeito com tudo que têm, perde tudo a cada sequência, e isso poderia soar moralista e dramático demais, mas Jake assume que o intérprete precisa de algo mais imponente que isso. Horas o protagonista mal consegue falar por decorrência de suas derrotas na vida e na profissão, o que revela uma entrega que abusa do absurdo de tanto amor e sofrimento pelo mesmo. Por seguimento, todo elenco de apoio colabora em atuações boas, vide a filha do personagem protagonista, interpretada por Oona Laurence, que garante uma das melhores atuações “mirins” dos últimos anos.

Por conseguinte, é fácil notar a deriva do clichê e da boa dedicação. Todo roteiro abraça o nocaute sofrível do personagem com a trilha melancólica e fotografia escura e claustrofóbica de sua vida, resultando em uma obra aceitável e bonita, até mesmo, para quem admira clichês bem pensados, como eu.


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