Olmo & the Seagull |
Dirigido por Petra Costa, veterana com seu longa Elena (2012), e a dinamarquesa Lea Glob, com seu primeiro longa-metragem, Olmo e a Gaivota interpõe de forma sutil o que é fictício e verdadeiro ao retratar a vida do casal Olivia Corsini e Serge Nicolai, ambos os atores teatrais. Às vésperas de saírem a turnê por Nova Iorque pela peça A Gaivota, são surpreendidos pela gravidez de Olivia.
A naturalidade a qual se dá o filme é pelos atores estarem interpretando eles mesmos, pois a gravidez também é real, assim como os dilemas de Olivia. O roteiro busca manter a atriz como ponto central, se desenvolvendo através de sua narrativa, que se faz compreensível, presente e metafórica, dando a impressão de cenas improvisadas. E é na verdade transposta por pensamentos de Olivia que se obtém um roteiro simples, mas sincero e intenso, que propõe ao espectador questionar-se quanto aos conceitos impostos à mulher e ao homem durante uma gravidez e um relacionamento.
A exploração do íntimo na direção de Petra e Lea agregou à trama. Íntimo este que não se “acanhou” perante as câmeras nas cenas paradas de Olivia observando a transformação de seu corpo, ou ainda nas cenas de intimidade sexual do casal. O desfoque e aproximação em cena, unidos à fotografia natural, a belíssima trilha sonora e à exibição de vídeos antigos da atriz, convêm com o envolvimento proposto pelo roteiro. Entretanto, nos momentos de interrupção das diretoras, claramente intencionado a tornar o longa o mais real possível, acaba, mesmo que por alguns minutos, rompendo o envolvimento do espectador, dando a impressão invasiva ao tocar em assuntos delicados e particulares do casal como infidelidade.
O desafio proposto pelas diretoras com o filme/documentário é definido, ainda que sutil devido à narração subjetiva. Olmo e a Gaivota é essencialmente feminino, e a maneira como abordou o tema da gravidez por outros olhos – os olhos de quem está vivendo na pele – tem sucesso em trazer à tona discussões acerca da função da mulher e do homem, enquanto futuros pais; da solidão materna; das inseguranças femininas; como ser livre como uma gaivota; e se realmente a vida que se leva no ventre é “quem dita as regras do jogo”. E com essa temática, merece atenção por, além de ser contemplado pelo olhar feminino, possuir uma direção ousada e, de certa forma, inovadora.
Avaliação:
Texto de Hillary Maciel.
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