The Revenant (EUA) |
Alejandro González Iñárritu não
é um péssimo diretor. “O Regresso” comprova e acusa claramente uma
fundamentação das diversas indicações. Os elementos que valem alguns prêmios
são respeitáveis e realizados de maneira orgânica. No entanto, o que
há de errado torna injustificável receber tanto alvoroço.
Dito isso, o diretor inicia o seu 9º filme de
uma forma que, de fato, é impressionante. Tecnicamente, é um dos trabalhos mais
competentes de criação de expectativa e de caos através da parte técnica. O
primeiro ato possui diversas sequências sem cortes e com planos em que a câmera
persegue seus personagens sem uma edição muito óbvia. A montagem é um registro
do mais puro cinema de qualidade, assim como as atuações que acompanham todo
esforço ensaiado da produção. As cenas de batalha, por exemplo, é a prova viva
de como se gravar uma defluência sem que o espectador se
perca. Desenvolvendo o filme, descobrimos um visual deslumbrante de
paisagens belíssimas que resultam em um frio intenso dentro da sala. Efeito da
direção de fotografia de Emmanuel
Lubezki que
encanta com suas panorâmicas sem iluminação que revelam a beleza
do cinema feito à moda antiga.
No entanto, assim como as prospectivas do tempo-espaço
que vivenciamos, o diretor evidencia sua prepotência cinematográfica. Facilmente
notamos que o filme festejado é o mais grandiloquente e desesperado por uma
aceitação artística. Apesar de eficiente, o diretor resolve difundir quem
está dirigindo o filme grande parte do tempo. Cito, como exemplo, câmeras
se aproximando do ator ao ponto da respiração aumentar de volume e embaçar a
lente ou ao quebrar a quarta parede de forma fútil, algo que
presumivelmente teria que ser original e ter sentido. Além das inúmeras
metáforas que, apesar de funcionarem, cansam depois de tanta imagem
desnecessária. Dispensável, por exemplo, o longo seguimento em uma igreja que
se resume a mais uma alegoria que é igual a da cabana ou a do
cavalo. E, se a parte técnica se resume a beleza “oscarizada”, o roteiro não se
distancia. Percebemos a mensagem do trabalho em vários momentos dentro dos 156
minutos de filme. O discurso exaustivo do diretor ofende o público
por revelar de forma covarde o que quer dizer em seus enquadramentos. A
mensagem cheia de fúria se torna cansativa como o ego exibicionista do diretor.
Enquanto isso, Tom Hardy mais
uma vez constrói um de seus personagens bravos e tímidos com um talento
invejável. Com poucas palavras, aceitamos sua maldade, assim como o seu lado
mais humano. Do mesmo modo, Leonardo
Dicaprio rasteja e atua (em busca de seu tão sonhado Oscar) de forma
verbal e corporal como há muito não vemos. Notável o esforço exacerbado do
diretor em revelar as suas feridas e face megalomaníaca de desespero, mesmo com o ator já segurando o desafio do filme.
O que carece, de fato, é o propósito. Há uma beleza em diversos pontos de seus inúmeros sentidos de busca por transcendência, mas falta algo palpável para transformar os significados em algo menos óbvio. Por fim, "O Regresso" é um filme desprovido que procura reinventar a roda da forma mais “hollywoodiana” possível.
Avaliação:
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