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O Regresso (2016) | Mais uma evidente busca por excelência


The Revenant (EUA)
Alejandro González Iñárritu não é um péssimo diretor. “O Regresso” comprova e acusa claramente uma fundamentação das diversas indicações. Os elementos que valem alguns prêmios são respeitáveis e realizados de maneira orgânica. No entanto, o que há de errado torna injustificável receber tanto alvoroço. 

Dito isso, o diretor inicia o seu 9º filme de uma forma que, de fato, é impressionante. Tecnicamente, é um dos trabalhos mais competentes de criação de expectativa e de caos através da parte técnica. O primeiro ato possui diversas sequências sem cortes e com planos em que a câmera persegue seus personagens sem uma edição muito óbvia. A montagem é um registro do mais puro cinema de qualidade, assim como as atuações que acompanham todo esforço ensaiado da produção. As cenas de batalha, por exemplo, é a prova viva de como se gravar uma defluência sem que o espectador se perca. Desenvolvendo o filme, descobrimos um visual deslumbrante de paisagens belíssimas que resultam em um frio intenso dentro da sala. Efeito da direção de fotografia de Emmanuel Lubezki que encanta com suas panorâmicas sem iluminação que revelam a beleza do cinema feito à moda antiga.

No entanto, assim como as prospectivas do tempo-espaço que vivenciamos, o diretor evidencia sua prepotência cinematográfica. Facilmente notamos que o filme festejado é o mais grandiloquente e desesperado por uma aceitação artística. Apesar de eficiente, o diretor resolve difundir quem está dirigindo o filme grande parte do tempo. Cito, como exemplo, câmeras se aproximando do ator ao ponto da respiração aumentar de volume e embaçar a lente ou ao quebrar a quarta parede de forma fútil, algo que presumivelmente teria que ser original e ter sentido. Além das inúmeras metáforas que, apesar de funcionarem, cansam depois de tanta imagem desnecessária. Dispensável, por exemplo, o longo seguimento em uma igreja que se resume a mais uma alegoria que é igual a da cabana ou a do cavalo. E, se a parte técnica se resume a beleza “oscarizada”, o roteiro não se distancia. Percebemos a mensagem do trabalho em vários momentos dentro dos 156 minutos de filme. O discurso exaustivo do diretor ofende o público por revelar de forma covarde o que quer dizer em seus enquadramentos. A mensagem cheia de fúria se torna cansativa como o ego exibicionista do diretor.

Enquanto isso, Tom Hardy mais uma vez constrói um de seus personagens bravos e tímidos com um talento invejável. Com poucas palavras, aceitamos sua maldade, assim como o seu lado mais humano. Do mesmo modo, Leonardo Dicaprio rasteja e atua (em busca de seu tão sonhado Oscar) de forma verbal e corporal como há muito não vemos. Notável o esforço exacerbado do diretor em revelar as suas feridas e face megalomaníaca de desespero, mesmo com o ator já segurando o desafio do filme.

O que carece, de fato, é o propósito. Há uma beleza em diversos pontos de seus inúmeros sentidos de busca por transcendência, mas falta algo palpável para transformar os significados em algo menos óbvio. Por fim, "O Regresso" é um filme desprovido que procura reinventar a roda da forma mais “hollywoodiana” possível.

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