Pular para o conteúdo principal

A Luneta do Tempo (2015) | Longa-metragem de gênero(s)


A Luneta do Tempo (Brasil)
A incoerência dos cinéfilos brasileiros consiste em afirmar que o cinema do Brasil não respeita o público que tem. Verdades sejam ditas. Que cinema nós insistimos em ir atrás? Alceu Valença, cantor e compositor, nos revela seu primeiro filme que possui uma carga erudita de música e de elementos em que diversos diretores, estrangeiros até, não se arriscariam em usar.

A biografia-ficcional-musical de A Luneta do Tempo é brilhantemente um dos melhores filmes brasileiros recentemente lançados. É daqueles que experimentam. A genialidade do diretor exprime isso durante a primeira sequência. A música agitada e as torturas dos cangaceiros do bando de Lampião completam uma união mútua de companheirismo e empolgação ao assumir que a trama se trata de algo que muito já foi visto no Cinema Novo. Garantindo assim, apesar do realismo de tortura e da música alta, uma das mais memoráveis aberturas.

Algo que já revela o tom consistente. O filme brinca com os gêneros espalhados pela cultura cinematográfica brasileira e se concretiza como uma história sobre o cangaço e suas consequências. A queda de ritmo é mínima quando um personagem resolve ser engraçado. A piada está presente quando menos esperamos e em seguida já somos digeridos pela sequência seguinte.

A trilha sonora é outro elemento elegante, seja em diálogos rimados ou com as letras de Alceu. O mutualismo estabelecido entre a música e outras categorias técnicas conseguem eliminar qualquer tradicionalismo de canção esquecível dentro de um bom filme. Em 97 minutos, a musicalidade conta a história como um narrador e garante um curioso desenvolvimento de personagens. A fotografia, apesar de ter uma câmera tremida em alguns momentos, é bela. Cito, a cena em slow motion das pétalas caindo sob o rosto de Maria Bonita com uma delicadeza que entristece e encanta com a união entre o casal de protagonistas.

Dito isso, Alceu e sua luneta revelam que o tempo pode ser elaborado de uma melhor maneira. Através de décadas de cinema e da experiência com o Cinema Novo, o diretor exibe uma história bem contada e sem explicações constantes sobre os elementos, como por exemplo, a pomba branca. O importante é o que a pomba faz ali. Deixar a interpretação e pistas, em alguns casos, é mais educado que explicar demais. 

Avaliação:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Morte do Demônio (2013) | Reimaginação do "Conto Demoníaco"

The Evil Dead (EUA) Em 1981, Sam Raimi conseguiu realizar algo extraordinário. Com um orçamento baixíssimo (em volta de 1,5 mil), o diretor reinventou os filmes idealizados dentro de uma cabana com jovens e demônios. Além disso, ainda conseguiu fãs por todo o planeta que apreciavam a maneira simples e assustadora que o longa fora realizado. Em 2009, Raimi entrou em contato com Fede Alvarez por seu recente curta-metragem viral que rolava pela internet. A conversa acabou resultando na id eia de uma reinvenção do “conto” original de 1981. Liberdade foi dada à Alvarez para que tomasse conta da história. Percebe-se, a início, a garra deste para uma boa adaptação, no entanto, ainda peca por alguns problemas graves percebíveis tanto para quem é ou não é fã do original. Ao que tudo indicava, seria um Reboot. Mas se trata, na realidade, de uma (aparentemente) continuação audaciosa. A audácia já começa no pôster de divulgação: “O Filme Mais Aterrorizante que Você Verá Nesta Vida”...

Anúncio Oficial [Duas Faces do Cinema: Quarto Ato]

Desde que nós dois, Arthur Gadelha e Gabriel Amora, sentamos para decidir o nome do blog de cinema que escreveríamos a partir dali, e entramos no acordo que “Duas Faces do Cinema” intitularia o projeto, já sabíamos, mesmo sem dizer um para o outro, que ele não perduraria para sempre; não como principal. No entanto, assim que lançado, ainda com um fundo preto e branco, separando o casal principal do grande vencedor do Oscar, “O Artista”, a marca “Duas Faces do Cinema” ganhava espaço entre amigos e familiares.

O Retrato de Dorian Gray | Os segredos de Dorian

Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 1854 em Dublin, estudou na Trinity College de Dublin e, posteriormente, no Magdalen College em Oxford. Seu único romance foi O retrato de Dorian Gray e seu sucesso como dramaturgo foi efêmero. Morreu em 1900 em Paris, três anos após ter sido libertado da prisão por ter sido pego em flagrante indecência.  O retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em 1891 em formato de livro em uma versão bastante modificada do romance original de Oscar Wilde, pois foi considerado muito ousado para sua época. Já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincott’s em 1890 e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Estamos falando de uma Inglaterra do século XIX bastante tradicionalista e preconceituosa, assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de I...