A Luneta do Tempo (Brasil) |
A incoerência dos cinéfilos brasileiros
consiste em afirmar que o cinema do Brasil não respeita o público que tem. Verdades
sejam ditas. Que cinema nós insistimos em ir atrás? Alceu Valença, cantor e
compositor, nos revela seu primeiro filme que possui uma carga erudita de
música e de elementos em que diversos diretores, estrangeiros até, não se
arriscariam em usar.
A biografia-ficcional-musical de A Luneta do
Tempo é brilhantemente um dos melhores filmes brasileiros recentemente lançados.
É daqueles que experimentam. A genialidade do diretor exprime isso durante a
primeira sequência. A música agitada e as torturas dos cangaceiros do bando de
Lampião completam uma união mútua de companheirismo e empolgação ao assumir que
a trama se trata de algo que muito já foi visto no Cinema Novo. Garantindo
assim, apesar do realismo de tortura e da música alta, uma das mais memoráveis aberturas.
Algo que já revela o tom consistente. O filme
brinca com os gêneros espalhados pela cultura cinematográfica brasileira e se
concretiza como uma história sobre o cangaço e suas consequências. A queda de
ritmo é mínima quando um personagem resolve ser engraçado. A piada está
presente quando menos esperamos e em seguida já somos digeridos pela sequência
seguinte.
A trilha sonora é outro elemento elegante, seja
em diálogos rimados ou com as letras de Alceu. O mutualismo estabelecido entre
a música e outras categorias técnicas conseguem eliminar qualquer
tradicionalismo de canção esquecível dentro de um bom filme. Em 97 minutos, a
musicalidade conta a história como um narrador e garante um curioso
desenvolvimento de personagens. A fotografia, apesar de ter uma câmera tremida
em alguns momentos, é bela. Cito, a cena em slow motion das pétalas
caindo sob o rosto de Maria Bonita com uma delicadeza que entristece e encanta
com a união entre o casal de protagonistas.
Dito isso, Alceu e sua luneta revelam que o
tempo pode ser elaborado de uma melhor maneira. Através de décadas de cinema e
da experiência com o Cinema Novo, o diretor exibe uma história bem contada e
sem explicações constantes sobre os elementos, como por exemplo, a pomba
branca. O importante é o que a pomba faz ali. Deixar a interpretação e pistas, em alguns casos, é
mais educado que explicar demais.
Avaliação:
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