Mais Forte Que O Mundo (Brasil) |
Uma pesquisa do Ibope divulgada no fim de fevereiro aponta que 68% dos brasileiros tem preferência por filmes de ação, seguido pela comédia com 50%. Ambos gêneros monopolizados por produções “globistas”. O ano de 2016 parece confirmar os dados: tivemos os irregulares ‘Reza a Lenda’, de Homero Olivetto e ‘Em Nome da Lei’, de Sérgio Rezende e teremos o esperado ‘Shaolin do Sertão’ de Halder Gomes. ‘Mais Forte Que O Mundo’ entra nesse meio com um evidente apelo ao esporte televisionado que mais vem aderindo seguidores e alcança a atenção necessária – na complexa história de José Aldo há algo determinantemente dramático que justifica sua existência.
Com uma filmografia curta, porém pesada, Afonso Poyart (2 Coelhos, Presságios de Um Crime) deixa muito evidente que não está ali por acaso. O filme começa apostando todas suas fichas na construção de uma tensão capaz de sustentar seus conflitos previsíveis – em certo ponto, assusta com uma montagem exageradamente frenética. Desde então, há um convite muito claro: faça parte da ação. É confortante ser informado tão cedo que a determinação de Poyart está muito bem equipada de uma consciência que equilibra o filme em seus momentos distintos de emoção.
Ao concluir sua primeira história sem qualquer contraste, o filme salta. Incomoda, à início, que exista um maniqueísmo entre os ambientes (Manaus-Rio), mas acaba por necessário diante a separação dos mundos de sua história. Seu registro inspirado posiciona a câmera em locais improváveis (garrafão de água, corda de treino, etc.) e acompanha com muita proximidade as motivações de seu protagonista.
Surpreende, inclusive, que haja a construção de um núcleo subconsciente de Aldo – apostando em situações oníricas de seus pensamentos e pressões internas. Poyart e José Loreto (interpretando José Aldo com respeito admirável) raciocinam pelo personagem e, mais que isso, apresenta com sinceridade. O que poderia soar terrivelmente deslocado em uma trama de temas tão sensíveis, funciona com uma clareza emocionante – o filme se dá a liberdade até mesmo de construir um personagem inteiro para esse conflito interno.
Longe de ser um filme sobre José Aldo (como determina seu subtítulo), esse é um filme sobre Aldo e seu pai. Esquecendo quaisquer adaptações físicas ou narrativas da realidade, já que estamos falando de uma história que trata a realidade como uma base e não necessariamente como espelho. Seu foco dramático faz parecer, por vezes, com a estrutura de filmes televisivos (é possível imaginar até mesmo os momentos dos intervalos), mas a centralidade de seus personagens finca seu pé no cinema.
Por mais que como um todo soe positivo, alguns núcleos teoricamente importantes são rebaixados à quase subnúcleos. Os intervalos entre as lutas de Aldo são sufocantes prejudicando seu real envolvimento emocional. A personagem de Viviane (Cléo Pires), por exemplo, é mais um artifício que impulsiona abertamente sua trama a se concluir do que dignamente uma personagem respeitável – o que é uma pena imensa. Tudo o que importa aqui é Aldo e seu pai; aspecto que se torna inteligentemente bom e estranhamente insuficiente.
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