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War and Peace (mini-série) | O amadurecimento diante da guerra

No ano de 1805, em São Petersburgo, Russia, uma sala de visitas está recheada de membros da aristocracia, suas costumeiras conversas triviais e posturas soberbas são substituídas pela agitação da notícia de que a Áustria foi invadida por Napoleão Bonaparte e, em consequência, a Russia, juntamente com o exército austríaco, declara guerra contra a França. 

As opiniões repressoras contra Bonaparte não são compartilhadas por Pierre Bezukhov, que vê as revoluções perpetradas pelo líder, como um exemplo de regime que deveria ser implementado em sua pátria. Pierre é um jovem rejeitado pela alta sociedade por não se enquadrar naquele lugar e principalmente por ser filho bastardo. Seu pai, Conde Bezukhov se encontra próximo a morte quando é afetado por dois derrames, em seu leito, o Conde pede seu último desejo,  de ver o filho pela última vez. Pierre se dirige a casa de seu pai, o encontro e os interesses das famílias a sua volta alteram a vida do jovem Pierre, que passa a viver da maneira que se quer desejava. 
Por outro lado, a importância da família Rostov não chega sequer a ser um assunto de fofocas ou intrigas. Não é de ser esperar que a Condesa Natalya Rostova espere um casamento vantajoso para seus filhos Nikolai e Natasha. Mas sob seu teto, há a possibilidade que os seus planos não se realizem; Sonya, sua sobrinha que cresceu aos lado dos seus filhos, nutriu uma paixão por Nikolai sua vida inteira (afeto que transparece ser correspondido), o único infortúnio é que, assim como os Rostov, Sonya não tem fortuna. Para Natasha, a riqueza não é algo nem que seja considerável, as únicas coisas que lhe importam é viver, experimentar coisas novas. Tal jovialidade está exposta em seus olhos, que possuem um brilho, um fulgor que parecem querer contemplar e absorver tudo a sua volta. Enquanto a guerra ainda não macularam suas inocências, Natasha e Sonya aguardam ansiosamente pelo retorno Nikolai e Boris Drubetskoy.
Se para a aristocracia Pierre Bezukhov não passa de um incômodo aos convidados, não se pode dizer o mesmo de seu amigo íntimo, Andrei Bolkonsky. Filho do Príncipe Nikolai Bolkonsky, um renomado general do exército de seu tempo, na qual possui um complicado relacionamento, sua família possui grande estima e riqueza. Entretanto, os costumes e obrigações sociais da elite russa lhe causa, nada mais do que asfixia, com a guerra em curso, Andrei se alista no exercito como uma escapatória daquele ambiente. Apenas um quesito lhe deixa preocupado; sua esposa Lise está grávida de seu primeiro filho e o nascimento está próximo, apesar de o casamento ter desgastado, Andrei ama-a e certifica-se que ela tenha todos os cuidados na casa de seu pai e de sua irmã Marya. Ao partir para a guerra, Andrei luta como poucos homens fariam, como se não tivesse o mínimo de preservação pela sua vida, nem mesmo um propósito, mas talvez a glória da batalha seja aquela que necessita.
Transformar o livro War and Peace em uma mini-série é um risco e uma responsabilidade difícil de tomar tendo em vista a gama de histórias e pontos de vistas contidas no livro que podem ser escolhidos. É com três famílias (quatro contando com os Kuragin) que o roteirista Andrew Davies (House of Cards e Mr. Selfridge) retrata em pouco mais de seis horas de duração um enredo de intrigas familiares sob um período de explosão da crise política.
Por conta de seu curto tempo, infelizmente, War and Peace necessita excluir muitas cenas e informações adicionais. Além disso, o que é mais sentido na mini-série é o corte do desenvolvimento dos laços dos personagens, que dificulta na facilidade de identificação destes com o espectador. Para suprir esta ausência, os diálogos muito bem escolhidos nas curtas cenas e as esplêndidas atuações do poderoso elenco exercem a função de empatia. 
Do ponto de vista geral, War and Peace adotou uma narrativa acelerada, o que é algo inevitável. Entretanto a mini-série falha na distribuição de conflitos e suas resoluções por episódio. Em seu piloto, por exemplo, é apresentado o conflito geral e as pertubações de cada personagem que irão delinear a trama, após uma hora de episódio pouca coisa deu seus primeiros passos de desenvolvimento. Além disso, passou uma intenção de acostumar aos poucos o espectador com o ritmo da narrativa, que na verdade fez com que os episódios seguintes se espremessem o quanto puderem para caber os pontos que deveriam estar logo no início. 
Já é um conhecimento corriqueiro que a BBC dedica-se por uma belíssima direção de arte e de fotografia em suas produções. Em War and Peace, os esforços da emissora levaram a mini-série a um patamar comparável com grandes produções cinematográficas. Por meio de planos gerais surreais, da paleta de cores enriquecida, dos figurinos e locações escolhidos, um esplêndido palco se abre e todos estes aspectos falam mais sobre os personagens do que o texto de cada ator. E são esses quesitos técnicos que amenizam os efeitos da narrativa.

Com uma trama farta de problemáticas que poderiam ser retratadas por si mesmas, War and Peace retrata temas como adultério, vaidade, tédio da burguesia, inocência e sobretudo amadurecimento. Ao final de seu retrato completo das famílias russas, a mini-série exerce no espectador o interesse de leitura da obra que inspirou esta adaptação. 

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