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O Bom Gigante Amigo (2016) | Com ritmo ineficiente, fantasia decepciona


The BFG (USA)
Alguns podem não conhecer Roald Dahl, mas certamente já viram suas histórias no cinema; "A Fantástica Fábrica de Chocolate", "Matilda", "Os Gremlins", "James e o Pêssego Gigante" e outras obras do autor tornaram-se clássicos infantis principalmente após ganharem adaptações cinematográficas. "O Bom Gigante Amigo", no entanto, não havia ganhado espaço entre grandes produções até 2016, exceto por uma animação realizada em 1989. O avanço de efeitos visuais, necessários para uma adaptação digna da obra, e a fórmula carismática que ela carrega parecem explicar o interesse da Disney em investir na sua reapresentação ao público, e desta vez trazendo o veterano Steven Spielberg ("Ponte dos Espiões", 2015) encarregado da direção. O que prometia ter um resultado perfeito, no entanto, mostrou-se um longa-metragem cansativo e sem sintonia. 

Ambientada em Londres, a história traz Sophie (Ruby Barnhill), uma garota órfã que, em uma madrugada, ao permanecer acordada enquanto todas as suas colegas dormem, avista um gigante da janela do orfanato. Ao perceber que foi notado, a criatura - posteriormente chamada de "Bom Gigante Amigo", ou simplesmente "BGA" (e interpretada por Mark Rylance com a ajuda de equipamentos digitais) - rapta a criança, a levando para um lugar chamado Terra dos Gigantes. Sophie percebe que a índole do gigante não é má e torna-se sua amiga, mas deve tomar cuidado para não ser devorada pelos outros, que são maiores e oprimem o BGA por não alimentar-se de criancinhas.

O roteiro, escrito pela falecida Melissa Mathison ("E.T. - O Extra-terrestre", 1982), se esforça para trazer camadas de profundidade sentimental, no intuito de conquistar o público e alcançar o prometido espaço entre os clássicos do gênero. Apesar disto, o que de fato ocorre é o excesso de sequências longas demais e de ritmo lento e desnecessário, que contrastam com as poucas cenas de ação. Parece irregular; o drama, a ação e o humor são explorados como que em capítulos, e não durante o filme em sua completude. O entretenimento também perde força quando a produção decide reduzir seu público ao optar por piadas infantilizadas - sabemos que crianças são o público-alvo, mas é possível construir um filme maduro e inteligente destinado à famílias, como os muitos outros já citados neste texto.

Os pontos positivos recaem sob o ótimo desempenho da dupla protagonista, especialmente o de Ruby Barnhill. A dedicação que a estreante apresenta em cena a coloca como um dos talentos promissores revelados pelo cinema este ano. Outro destaque está nos quesitos visuais: a fotografia de Janusz Kamiński, parceiro de Spielberg, contribui bastante para o tom fabuloso do filme, cuja ambientação, charme das imagens e direção de arte conseguem resgatar uma beleza característica da fantasia infantil. Os efeitos em CGI são bem produzidos e a tecnologia 3D, anteriormente aplicada pelo diretor em "As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne" (2011), é deveras eficiente ao transportar o espectador para aquela atmosfera.

Dentre acertos, erros e uma narrativa que busca encontrar seu grande momento, a bela mensagem por trás de "O Bom Gigante Amigo" consegue ser transmitida, mas não por mérito de seus realizadores, que até tentam construir algo memorável, e sim pela potência emocional já característica das histórias de Dahl. Apesar das atuações e efeitos visuais, é um filme mediano, que provavelmente não atingirá o tão desejado status de clássico, caindo no esquecimento até que alguém decida pesquisar mais sobre a obra que o originou.

Avaliação:

Comentários

  1. É um filme que tudo mundo deve assisitr. Amo muito os filmes baseados em livros, este é umo muito lindo, por isso quando soube que estrearia 7 Minutos Depois da Meia Noite soube que devia vê-la, é umo dos melhores filmes de livros, soube que devia vê-la, considero que outro fator que fez deste um grande filme foi a atuação do Lewis MacDougall, seu talento é impressionante.

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