Fai Bei Sogni (Itália) |
O filme de abertura da 40ª Mostra Internacional de Cinema é Belos Sonhos, dirigido pelo italiano Marco Bellocchio, homenageado do ano, ao lado de William Friedkin. Mesmo tratando-se de uma adaptação, o diretor retoma os temas constantes em sua filmografia: família, memória e amadurecimento.
A história segue a trajetória de Massimo da infância até a vida adulta, tendo como principal plano de fundo a relação do garoto com sua mãe, que morreu misteriosamente quando ele tinha 9 anos. Após isso, ele foi obrigado a viver somente com seu pai, em uma relação distante e fria. Com a notícia de que sua antiga casa será vendida, Massimo volta à sua infância, agora adulto, dividindo seu tempo entre o trabalho como vice-diretor de um jornal e a busca por respostas de seu passado. A história é contada de forma fragmentada, e a direção de Bellocchio é precisa, conduzindo o espectador com primazia através da temporalidade do filme. Por mais que seja um filme lento, o espectador é preso pela narrativa do diretor em uma relação quase intimista com Massimo.
A estética do filme transita entre os anos 60 e 90 em um compasso cauteloso e exato. Bellocchio domina a complexidade de uma direção entre gerações de maneira fluida; o filme proporciona imersões temporais na nostalgia de Massimo, onde somos cúmplices das novas descobertas do escritor sobre seu passado e, além disso, da sua relação com seus pais. 'Belos Sonhos' é um filme sobre como a autodescoberta está associada com a relação entre o sujeito e seu passado. À medida que Massimo relembra momentos e passa a entender situações passadas, seu futuro se transforma.
Bellocchio constrói o filme de forma que cada cena seja intrínseca à trama. A fragilidade do protagonista, em sua fase adulta, é refletida em seus relacionamentos, sempre vazios e, além disso, dotados da incompletude pertencente à Massimo. Em uma questão quase edípica, o seu ser-pleno só será legitimado após os conflitos maternos remanescentes serem solucionados.
Belos Sonhos é um filme maduro, que demanda do espectador imersão na narrativa e proporciona reflexões sobre a subjetividade e o passado. A identificação é quase imediata, e as pouco mais de 2 horas de duração parecem minutos perante ao que é colocado em tela. É um ótimo início de 40ª Mostra, que vai até o dia 2 de novembro em diversos cinemas da capital paulista.
Filme assistido na 40ª Mostra Internacional de Cinema
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