Já, Olga Hepnarová (República Tcheca) |
Eu, Olga Hepnarová é um filme dirigido pelos estreantes Petr Kazda e Tomáš Weinreb. Apesar de ser o primeiro longa-metragem dos diretores, que já trabalharam juntos durante a universidade, sua direção apresenta maturidade e convicção na forma de conduzir a trama, imergindo o espectador na conturbada psique da assassina homônima.
Com uma incrível atuação de Michalina Olszanska, o filme conta a história de Olga Hepnarová que, aos 22 anos de idade, atropelou dezenas de pessoas na capital tcheca, matando 8 delas e tornando-se a última mulher na história do país a receber pena de morte. O filme acompanha a trajetória da garota desde sua adolescência, onde largou a escola e fugiu de casa, até o momento dos assassinatos.
Kazda e Weinreb incorporam a psique de Olga na linguagem para legitimar o discurso do filme. Utilizando-se de oposições ao longo de toda a narrativa, os diretores apresentam uma materialização da mente da assassina. As passagens temporais passam quase despercebidas, principalmente no primeiro ato do filme; ao passo que os cortes são secos, transitando entre planos claros e escuros ou barulhentos e silenciosos. Uma destas justaposições ocorre na cena em que Olga derruba um carro de uma montanha, seguida por ela tomando café da manhã, serena. A desconstrução estética é um reflexo da personalidade de Olga, que transita entre a sanidade e seus problemas psicológicos.
A câmera permanece estática durante todo o filme. Em alguns dos planos as ações de Olga fogem do enquadramento, aumentando a tensão e a curiosidade do espectador em torno da trama e da subjetividade da personagem. Até a câmera voyeur dos diretores torna-se produto da incomunicabilidade de Olga; o espectador é posto tanto na posição de cúmplice quanto na posição passiva de observador.
Aliados aos diretores estão Adam Sikora e Alexandr Kozák – diretores de fotografia e arte, respectivamente –, responsáveis por uma variabilidade estética que apresenta plenitude tanto nos planos mais claros quanto nos escuros, integrando-se à atuação soberba de Olszanska e resultando em planos imersivos e contemplativos da mente de Olga.
O único representante da República Tcheca na 40ª Mostra Internacional de Cinema é uma concretização da união entre a psicologia e o cinema. Com uma linguagem que flerta com o experimentalismo, o filme transita pela subjetividade de uma garota que desistiu de tentar compreender o universo e as injustiças postas por ele e quis criar suas próprias regras, longe da moral convencional.
Avaliação:
Obs: Filme assistido na cabine de imprensa da 40ª Mostra Internacional de Cinema / São Paulo, que acontecerá entre 20 de outubro e 2 de novembro de 2016. Confira os filmes da Mostra.
A impressão que deixou em mim. Somos seres que podem ser modelados para o bem ou para o mal.
ResponderExcluirQue atriz linda!
ResponderExcluir