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O Lar das Crianças Peculiares (2016) (II) | O divertido circo de Tim Burton




Miss Peregrine's Home
for Peculiar Children (EUA)
Desde que o trailer principal de "O Lar das Crianças Peculiares" ("Miss Peregrine's Home for Peculiar Children", 2016) foi lançado, o público ficou bastante dividido em relação ao filme. Baseada na criativa obra "O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares", publicada em 2011 pelo autor Ramson Riggs, a adaptação cinematográfica sofrera várias alterações narrativas nas mãos de Tim Burton, que assume o posto de direção do longa-metragem. O resultado, no entanto, não foi lá dos piores - apesar de decepcionar (ou enfurecer) os fãs mais ávidos do conteúdo original, o filme é bastante divertido e visualmente agradável, garantindo umas boas horas de entretenimento em frente à telona e com um balde de pipoca.


O enredo principal traz Jacob Portman (Asa Butterfield, de "A Invenção de Hugo Cabret" [2011] e "Ender's Game - O Jogo do Exterminador" [2013]), um garoto de 16 anos que resolve investigar o misterioso assassinato de seu avô após acreditar ter visto um monstro no local. Impulsionado pelas histórias fantásticas que o homem costumava contar sobre a sua infância e pelos registros que ele deixara, Jacob sai em busca de um orfanato para crianças com habilidades especiais, ditas "peculiares", sob a direção de uma figura chamada Alma Peregrine (Eva Green, de "Sin City 2: A Dama Fatal" [2014] e do seriado "Penny Dreadful"). É daí que a aventura toma início, apresentando paisagens interessantes, monstros bizarros e personagens um tanto quanto carismáticos.


Na posição de diretor, Tim Burton brinca com seus próprios recursos estilísticos de maneira que não se via desde "Sombras da Noite". A diferença é que, em "Crianças Peculiares", suas marcas encontram espaço de maneira tão efetiva e prazerosa que é impossível não reconhecer a tamanha liberdade e afeição que ele teve ao abraçar o longa-metragem. Do uso de comédia negra à situações e figuras grotescas (que inclusive podem assustar os espectadores mais jovens) é possível enxergar o trabalho de Burton. O mais óbvio, no entanto, surge em uma cena stop-motion, e talvez no design dos monstros "etéreos", antagonistas do filme, que remetem muito às ilustrações do diretor para seu livro "A Morte Melancólica do Rapaz Ostra e Outras Histórias". 

O roteiro de Jane Goldman ("X-Men: Primeira Classe" [2011] e "Kingsman: Serviço Secreto" [2015]) mistura alguns eventos da saga escrita por Riggs, não atendo-se somente ao primeiro livro lançado dentro do universo da Srta. Peregrine. Essa mistura bebe das mesmas fontes de "X-Men" (familiaridade de Jane, que já trabalhou em vários filmes dos mutantes) e até Harry Potter, deixando bastante espaço para a introdução das crianças e a apresentação de suas peculiaridades. Com isso, é quase inevitável um problema de ritmo característico de muitos filmes com vários personagens; muitos arcos, como a relação entre Jacob e seu avô, ou com Emma, uma das crianças, tiveram tempo de tela sacrificado para o maior desenvolvimento de cenas de ação no ato de encerramento. No entanto, a história é apresentada - e concluída - de forma bastante concisa.

Quanto às atuações, é preciso declarar uma profunda decepção com o desempenho de Asa Butterfield. Outrora promissor entre os jovens atores, sua interpretação como Jacob é tão apática e desinteressante que é bastante difícil construir algum tipo de afinidade com o protagonista. O resultado disso é a atração do público pelo grande mote de coadjuvantes - apesar de muitas das crianças peculiares serem novatas, elas executam boas performances, roubando a atenção em quase todas as cenas. Eva Green, por sua vez, brilha no papel da metódica e protetora Srta. Peregrine, mas não esconde suas referências à clássica babá Mary Poppins. Sua presença em tela é cativante, o que promete a tornar uma personagem (junto ao belo figurino da ótima Colleen Atwood) bastante icônica dentro do gênero de fantasias young adult. O elenco ainda conta com breves (e mal-aproveitadas) participações de grandes estrelas, como Samuel L. Jackson, Judi Dench, Allison Janney e Rupert Everett.

"O Lar das Crianças Peculiares" é uma produção que consegue entregar suas propostas, sendo o divertimento do público a principal delas. Pode não satisfazer alguns espectadores mais exigentes (em especial os leitores do conteúdo original), mas atende a seu potencial de fantasia e aventura, além de comprovar que Tim Burton sabe muito bem das características que o tornaram tão cultuado entre os diretores modernos mais populares. E podem acreditar: ele parece gostar muito disso.


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