Pular para o conteúdo principal

Blue Jay (2016) | Sensação agridoce

Resultado de imagem para blue jay filme

Resultado de imagem para blue jay film poster
Blue Jay (USA)
Uma das dores mais incontroláveis é a da perda. E, em sua grande maioria, o fim de um relacionamento promissor dói tanto quanto o fim de uma vida, como se o futuro, a qual já é misterioso o suficiente, fosse substituído por uma nova chance que o destino irá apresentar. Por isso que há uma identificação profunda com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e com (500) Dias com Ela, já que a dor que os personagens sentem são tão sinceras e verdadeiras que, ao término da obra, o que fica é a sensação de “eu te entendo”.

Blue Jay, filme original da Netflix não fica atrás. A sua melancolia não é das mais criativas ou inovadoras, mas é de uma sinceridade tão pura que em diversos momentos o choro se torna riso e vice-versa, o que consequentemente traz aprecio por aqueles personagens que conhecemos mais que a própria apresentação do roteiro; até porque Jim e Amanda somos nós, espectadores.

Desse modo tão pouco enigmático o filme é uma carta de arrependimentos e desilusões amorosas das mais cruéis que nós seres podemos sentir que, de brinde, vem com a dor de um “e se...”, o que é autenticado maravilhosamente bem pelos astros que mergulham na proximidade e/ou distância mais dolorosa possível.

Mark Duplass, por exemplo, é um ator interpretando ele próprio, praticamente. Além de seu roteiro ser bem escrito e com genialidades que brincam com movimentos de câmera e diálogos emotivos, o ator se esforça em ser uma caricatura daquilo que temos dentro de todos nós. O seu desespero e calma é dos mais sinceros e alegóricos dessa geração de mal-estar que procura na solidão uma saída. Para um entendimento mais sucinto, basta observar as suas risadas e a sua tristeza ao saber que o cafuné está próximo de seu fim ou que o pedido de um beijo pode ser o maior choque que ele poderia receber.

Do mesmo modo, a competente Sarah Paulson se esforça em não chorar quando seria desnecessário, o que impede a resolução de um problema de mais de duas décadas estacionadas em seu estômago. Assim, a sua performance se destaca, já que é exposta como uma mulher forte e decidida, mas que luta em viver aquilo que não tem condições de ser.

O roteiro, em companhia, é qualificado o suficiente em emocionar e exercer cinéfila. Os seus diálogos buscam uma atuação digna o suficiente para recitar situações comoventes, como a sequência do gravador que exibe praticamente um rejuvenescimento oral, a fim de distanciar-se dos demais dramas que abusam de maquiagem.

Já a música decidida em criar nostalgia e sentimentalismo de Julian Wass se firma abalizada o suficiente para tocar no mais íntimo momento de lembranças que o frio na barriga tem capacidade de dispor. O mesmo para a cinematografia de Alex Lehmann, que se envolve com o preto e branco ao apresentar a falta de vida daquele ambiente não muito convidativo da cidade do casal.

Lehmann, que também é o diretor, assina um dos trabalhos mais lindos de 2016. Apesar de ser extremamente doloroso e apaixonante, essa é a realidade que temos. O diretor só nos lembrou disto. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leonard Nimoy, eterno Spock, morre aos 83 anos

A magia que um personagem nos passa, quando sincera, é algo admirável. Principalmente quando o ator fica anos trabalhando com a mesma figura, cuidando com carinho e respeitando os fãs que tanto o amam também. E, assim foi Leonard Nimoy . O senhor Spock de Jornada nas Estrelas , que faleceu ontem (27/02) por causa de uma doença pulmonar, aos 83 anos. O ator, diretor, escritor, fotógrafo e músico deixou um legado imenso para nós. E isso é algo que ele sempre tratou com muita paixão: a arte. A arte de poder fazer mais arte. E com um primor de ser uma boa pessoa e querida por milhares. E por fim, a vida atrapalhou tal arte. Não o eternizou como o seu personagem. Mas apenas na vida, pois no coração e na memória de todos, o querido Nimoy vai permanecer perpétuo nessa jornada. Um adeus e um obrigado, senhor Leonard Nimoy, de Vulcano. Comece agora, sua nova vida longa e próspera, onde quer que esteja.

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) | Peter Jackson cumpre o que prometeu

    Não vamos negar que a trilogia O Hobbit possui grandes problemas. O que é uma pena, já que a trilogia anterior ( O Senhor dos Anéis ) não tem falha alguma. Contudo, o que tinha de errado em Uma Jornada Inesperada e Desolação de Smaug , o diretor Peter Jackson desfaz nessa última parte. O que é ótimo para os espectadores e crível para os adoradores da saga da terra-média de longa data.     O filme apresenta problemas diversos, por exemplo, um clímax logo na primeira cena (se é que você me entende) e um personagem que não consegue momento algum ser engraçado. Falhas como essas prejudicam o filme como todo. O roteiro, por ser o mais curto dos três, precisava de mais tempo em tela, e dessa forma, cenas e personagens sem carisma são usados repetidas vezes e com uma insistência sem ter porquês. Mas, em contra partida, O Hobbit e a Batalha dos Cinco Exércitos consegue ser mais direto, objetivo e simples que seus antecessores, que são longos e cheios de casos...

Filmes querem lhe enganar, não esqueça disso

Este texto não bem uma crítica, mas uma ponderação sobre o cinema enquanto uma ferramenta de afirmação. Podemos supor que o que leva uma equipe a gastar quase 100 milhões de dólares para contar uma história é principalmente acreditar nela. Veja só, por que filmes de guerra são feitos? Além do deslumbre de se tornar consumível uma realidade tão distante do conforto de uma sala com ar-condicionado, há a emoção de se  converter emoções específicas. Sentado em seu ato solitário, o roteirista é capaz de imaginar as reações possíveis de diferentes plateias quando escreve um diálogo ou descreve a forma como um personagem se comporta. Opinião: Filmes querem lhe enganar, não esqueça disso "Ford vs Ferrari", de James Mangold, é essencialmente um filme de guerra. Mesmo. Digo isso porque Ford vs Ferrari , de James Mangold , é essencialmente um filme de guerra. Mesmo. Aqui é EUA contra Itália que disputam o ego de uma vitória milionária no universo da velocidade. Ainda no iníci...