Blue Jay (USA) |
Uma das dores mais incontroláveis é a da perda. E, em sua
grande maioria, o fim de um relacionamento promissor dói tanto quanto o fim de
uma vida, como se o futuro, a qual já é misterioso o suficiente, fosse substituído
por uma nova chance que o destino irá apresentar. Por isso que há uma identificação
profunda com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e com (500) Dias com
Ela, já que a dor que os personagens sentem são tão sinceras e verdadeiras que, ao término da obra, o que fica é a sensação de “eu te entendo”.
Blue Jay, filme original da Netflix não fica atrás. A sua
melancolia não é das mais criativas ou inovadoras, mas é de uma sinceridade tão
pura que em diversos momentos o choro se torna riso e vice-versa, o que
consequentemente traz aprecio por aqueles personagens que conhecemos mais que a
própria apresentação do roteiro; até porque Jim e Amanda somos nós, espectadores.
Desse modo tão pouco enigmático o filme é uma carta de
arrependimentos e desilusões amorosas das mais cruéis que nós seres podemos
sentir que, de brinde, vem com a dor de um “e se...”, o que é autenticado
maravilhosamente bem pelos astros que mergulham na proximidade e/ou distância
mais dolorosa possível.
Mark Duplass, por exemplo, é um ator interpretando ele
próprio, praticamente. Além de seu roteiro ser bem escrito e com genialidades
que brincam com movimentos de câmera e diálogos emotivos, o ator se esforça em
ser uma caricatura daquilo que temos dentro de todos nós. O seu desespero e
calma é dos mais sinceros e alegóricos dessa geração de mal-estar que procura
na solidão uma saída. Para um entendimento mais sucinto, basta observar as suas
risadas e a sua tristeza ao saber que o cafuné está próximo de seu fim ou que o
pedido de um beijo pode ser o maior choque que ele poderia receber.
Do mesmo modo, a competente Sarah Paulson se esforça em
não chorar quando seria desnecessário, o que impede a resolução de um problema
de mais de duas décadas estacionadas em seu estômago. Assim, a sua performance se
destaca, já que é exposta como uma mulher forte e decidida, mas que luta em viver aquilo que não tem condições de ser.
O roteiro, em companhia, é qualificado o suficiente em
emocionar e exercer cinéfila. Os seus diálogos buscam uma atuação digna o
suficiente para recitar situações comoventes, como a sequência do gravador que
exibe praticamente um rejuvenescimento oral, a fim de distanciar-se dos demais
dramas que abusam de maquiagem.
Já a música decidida em criar nostalgia e sentimentalismo
de Julian Wass se firma abalizada o suficiente para tocar no mais íntimo
momento de lembranças que o frio na barriga tem capacidade de dispor. O mesmo para
a cinematografia de Alex Lehmann, que se envolve com o preto e branco ao apresentar
a falta de vida daquele ambiente não muito convidativo da cidade do casal.
Lehmann, que também é o diretor, assina um dos trabalhos mais lindos de 2016. Apesar de ser extremamente doloroso e apaixonante,
essa é a realidade que temos. O diretor só nos lembrou disto.
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