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Quatro Vidas de Um Cachorro (2017) | Polêmico, filme permanece no cliché agradável


A Dog's Purpose (EUA)
Animais de estimação são uma forma perfeita de ganhar atenção e atrair público. Com todos os "awn's" que causam nos espectadores e, ocasionalmente, uma lágrima aqui ou ali, eles são os reis da Sessão da Tarde, protagonizando filmes de apelo familiar e sendo tema recorrente em diversas produções. Não é diferente com Quatro Vidas de Um Cachorro ("A Dog's Purpose", 2017), filme de Lasse Hallström ("Chocolate", 2000; "A Cem Passos de Um Sonho", 2014) que tem gerado polêmica após serem relatados casos de violência aos animais nos sets de filmagem, denúncia que ganhou a internet pouco antes de sua estreia mundial. 

Baseado no livro homônimo de W. Bruce Cameron, o longa-metragem é contado sob o ponto de vista de um cachorro (voz de Josh Gad) durante quatro reencarnações em diferentes raças. A proposta é executada de forma distante a discussões fantásticas ou religiosas; não preocupando-se em explicar muito ao público, a principal questão levantada pelo protagonista canino é "qual meu propósito no mundo? Por que estou aqui?", sendo trabalhada de forma cômica ou dramática a partir das famílias em que ele se envolve. Dentre os diversos arcos do filme, o de maior destaque gira em torno do dono Ethan (K. J. Appa/ Dennis Quaid), sendo contado em diferentes faixas etárias.

O roteiro da produção é bastante apelativo, caindo em alguns clichês típicos do gênero e muito melodrama arranca-lágrimas. Afinal, o que se esperar de uma história que "mata" quatro protagonistas caninos? Até mesmo seus arcos coadjuvantes envolvem temas já muito explorados, investindo em situações românticas. O aspecto positivo, no entanto, vem com a inserção de alguns temas mais complexos, como alcoolismo, luto e solidão. Ainda que pouco presente, esse destaque é relevante em uma narrativa destinada ao público familiar. Outro ponto agradável é a representação temporal de cada década retratada em tela, evidenciada por figurinos e ambientação.


O desempenho de Josh Gad na dublagem do protagonista em muito lembra sua atuação para o personagem Olaf, da franquia Disney Frozen - Uma Aventura Congelante (2013). Percebe-se que ele até tenta distanciar-se um pouco do personagem animado, mas a ingenuidade exigida por ambos os papeis ocasiona em uma semelhança inevitável. Já quanto aos personagens humanos, praticamente todos possuem pouco tempo em tela; Ethan, o mais presente, é interpretado por três atores diferentes. Desta forma, pouco permanece de cada atuação.

A fórmula genérica de Quatro Vidas de Um Cachorro de fato agrada e funciona, principalmente dentro de sua proposta e público. No entanto, é triste saber que, em uma obra que preocupa-se tanto em representar o companheirismo canino — inclusive vilanizando personagens que os mal-tratam (sim, existe muito do típico "é só um cachorro"), há certa hipocrisia quando (e se) confrontada com eventos da realidade. No fim, mais uma obra da ganância hollywoodiana, que poderá ser vista em breve na televisão.

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