Love - Season 1 (EUA) |
A fórmula piegas do “boy meets
girl” já está extremamente batida. Só não está datada, pois ainda há quem se
arrisque em brincar com os estereótipos de modo cômico e, para a nossa
contemporaneidade, dramático. Judd
Apatow, neste sentido, expande a sua cartilha de clichês bem resolvidos que
atinge quem assiste. A primeira temporada de Love, série original da Netflix, é, sem dúvidas alguma, um
presente.
O diretor de O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos e outros sucessos,
exibe, mais uma vez, a sua pauta principal: os mistérios de uma geração que não
encontrou ainda o propósito da vida. Os personagens, que aqui repetem a regra, são jovens adultos que nasceram nos anos de 1980 e ainda vivem o modo
de vida das décadas passadas. Love segue o clichê.
As referências, nesse caminho
das pedras, se desenvolvem como uma maneira de criar humor. A
cultura popular, fixa nos anos dourados, rendem anedotas e sátiras
interessantes e inteligentes de como o moderno ainda não se adaptou ao brega.
Um desinteresse, dentro de tantos outros vividos pelos personagens.
O modelo de Love, no entanto,
é a alternação de valores. Enquanto em Knocked Up, o personagem de Seth Rogen é
o fanfarrão, piadista e inconsequente, a Katherine Heigl é a responsável, determinada e dedicada, Love alterna e põe o personagem de Paul Rust como um homem esforçado e em
busca de estabilidade e do sossego dos 30 anos que vive, enquanto a personagem
de Gillian Jacobs ainda abraça a
juventude que não lhe entrega um pouco de paz, o que acaba, por fim, trazendo
dramaticidades.
As conexões, desse modo,
constroem (ou desconstroem) diferenças e incômodo logo em seus primeiros
episódios. O nerd, com emprego estabilizado e vida tranquila, encontra a descolada
com inúmeros problemas de autoestima e de drogas, o que traz o espelho de
uma juventude de outra época que ainda se encontra fora do moderno.
Assim, a comédia de
Apatow retorna de forma bem inspirada em seus outros jovens clássicos. A
diferença, surpreendentemente, se dedica no drama. O personagens do novo milênio, marcado por
gêneros, grupos e histórias que reinventaram o que passou nos distantes anos 80 e
90, trazem a elipse e exemplificação profunda do que significa amar nos tempos
atuais.
Gus e Mickey, personagens de Rust
e Jacobs, são a essência da modernidade, do jovem em busca de um amor, o que
acaba sendo uma espécie em extinção até para os seus próprios amigos, e da moça
que aplica, sem restrições nenhumas, o que não aprendeu com Amores Líquidos de Zygmunt Bauman.
A série, neste permeio, abraça
o drama e conta, com uma síntese invejável de trinta minutos cada episódio, as
problemáticas de uma paixão que tem muita força e pouca conectividade, apesar
da química do casal. O humor, neste sentido, brinca com a tragédia de amar. Alguns dos
melhores episódios, como aquele do jantar de Gus e Bertie e o outro do metrô, nos
divertem em todos os momentos com risadas sinceras que foram feitas para, no
final, nos lembrar que o riso é tragicômico. A piada empolga durante os seus
minutos iniciais com uma lembrança de que o mundo, na vida real, não funciona
do modo que pensávamos que fosse.
Já o casal desenvolve em seus
primeiros encontros uma realidade angustiante de como temos dificuldades até em
nos comunicar com o outro, além das piadas fora de tom, das promessas e
discussões que os dois pautam durante os episódios que são divertidos e tristes, já que descobrimos as camadas destes quando estão
distantes um do outro, o que traz alegorias que beneficiam a apreciação da
série.
Com isto, a música serve como
um ponto que faz parte da narrativa. A trilha sonora optada pelos roteiros são
empolgantes e desenvolvem em muitas vezes com nenhum diálogo, só com o som
tocando de fundo, algo que traz mais substância e sinceridade para os arcos dos
personagens.
O roteiro ainda surpreende
quando cita alguns problemas da sociedade millennial que vive nos atos
impulsivos e explosivos, como aquela viagem alucinógena que Mickey passa com um
desconhecido em uma madrugada de dramas, ou as críticas à maçante Hollywood que
desvaloriza seus astros como se fossem produtos, com a finalidade de criar piadas e críticas sutis, como a
do Jordan Rock, colega negro de Gus que representa o conselheiro, ou como a Iris Apatow, garota que não tem maturidade o
suficiente para trabalhar em uma série cara de televisão.
A primeira temporada de Love,
por fim, é um retrato sobre a complexidade dos relacionamentos que procuram
independência e dependência no outro. É um símbolo identificável de pessoas que
buscam os seus sonhos no parceiro, nas drogas e na compaixão de um amor na era
da informática. Gus e Mickey não vão revolucionar a TV, mas certamente já somos
gratos por tantas aprendizagens.
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