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Crítica: Love (1° temporada, 2016) | A vida como ela é

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Love - Season 1 (EUA)
A fórmula piegas do “boy meets girl” já está extremamente batida. Só não está datada, pois ainda há quem se arrisque em brincar com os estereótipos de modo cômico e, para a nossa contemporaneidade, dramático. Judd Apatow, neste sentido, expande a sua cartilha de clichês bem resolvidos que atinge quem assiste. A primeira temporada de Love, série original da Netflix, é, sem dúvidas alguma, um presente.

O diretor de O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos e outros sucessos, exibe, mais uma vez, a sua pauta principal: os mistérios de uma geração que não encontrou ainda o propósito da vida. Os personagens, que aqui repetem a regra, são jovens adultos que nasceram nos anos de 1980 e ainda vivem o modo de vida das décadas passadas. Love segue o clichê.

As referências, nesse caminho das pedras, se desenvolvem como uma maneira de criar humor. A cultura popular, fixa nos anos dourados, rendem anedotas e sátiras interessantes e inteligentes de como o moderno ainda não se adaptou ao brega. Um desinteresse, dentro de tantos outros vividos pelos personagens.

O modelo de Love, no entanto, é a alternação de valores. Enquanto em Knocked Up, o personagem de Seth Rogen é o fanfarrão, piadista e inconsequente, a Katherine Heigl é a responsável, determinada e dedicada, Love alterna e põe o personagem de Paul Rust como um homem esforçado e em busca de estabilidade e do sossego dos 30 anos que vive, enquanto a personagem de Gillian Jacobs ainda abraça a juventude que não lhe entrega um pouco de paz, o que acaba, por fim, trazendo dramaticidades.

As conexões, desse modo, constroem (ou desconstroem) diferenças e incômodo logo em seus primeiros episódios. O nerd, com emprego estabilizado e vida tranquila, encontra a descolada com inúmeros problemas de autoestima e de drogas, o que traz o espelho de uma juventude de outra época que ainda se encontra fora do moderno.

Assim, a comédia de Apatow retorna de forma bem inspirada em seus outros jovens clássicos. A diferença, surpreendentemente, se dedica no drama. O personagens do novo milênio, marcado por gêneros, grupos e histórias que reinventaram o que passou nos distantes anos 80 e 90, trazem a elipse e exemplificação profunda do que significa amar nos tempos atuais.

Gus e Mickey, personagens de Rust e Jacobs, são a essência da modernidade, do jovem em busca de um amor, o que acaba sendo uma espécie em extinção até para os seus próprios amigos, e da moça que aplica, sem restrições nenhumas, o que não aprendeu com Amores Líquidos de Zygmunt Bauman.

A série, neste permeio, abraça o drama e conta, com uma síntese invejável de trinta minutos cada episódio, as problemáticas de uma paixão que tem muita força e pouca conectividade, apesar da química do casal. O humor, neste sentido, brinca com a tragédia de amar. Alguns dos melhores episódios, como aquele do jantar de Gus e Bertie e o outro do metrô, nos divertem em todos os momentos com risadas sinceras que foram feitas para, no final, nos lembrar que o riso é tragicômico. A piada empolga durante os seus minutos iniciais com uma lembrança de que o mundo, na vida real, não funciona do modo que pensávamos que fosse.

Já o casal desenvolve em seus primeiros encontros uma realidade angustiante de como temos dificuldades até em nos comunicar com o outro, além das piadas fora de tom, das promessas e discussões que os dois pautam durante os episódios que são divertidos e tristes, já que descobrimos as camadas destes quando estão distantes um do outro, o que traz alegorias que beneficiam a apreciação da série.

Com isto, a música serve como um ponto que faz parte da narrativa. A trilha sonora optada pelos roteiros são empolgantes e desenvolvem em muitas vezes com nenhum diálogo, só com o som tocando de fundo, algo que traz mais substância e sinceridade para os arcos dos personagens.

O roteiro ainda surpreende quando cita alguns problemas da sociedade millennial que vive nos atos impulsivos e explosivos, como aquela viagem alucinógena que Mickey passa com um desconhecido em uma madrugada de dramas, ou as críticas à maçante Hollywood que desvaloriza seus astros como se fossem produtos, com a finalidade de criar piadas e críticas sutis, como a do Jordan Rock, colega negro de Gus que representa o conselheiro, ou como a Iris Apatow, garota que não tem maturidade o suficiente para trabalhar em uma série cara de televisão.

A primeira temporada de Love, por fim, é um retrato sobre a complexidade dos relacionamentos que procuram independência e dependência no outro. É um símbolo identificável de pessoas que buscam os seus sonhos no parceiro, nas drogas e na compaixão de um amor na era da informática. Gus e Mickey não vão revolucionar a TV, mas certamente já somos gratos por tantas aprendizagens.

 

Crítica: Love (1° temporada, 2016)

A vida como ela é 

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