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Refém de sua própria fórmula, M. Night Shyamalan construiu uma carreira com altos e baixos. Para quem acompanha as obras do diretor, é intrigante saber que o idealizador dos aclamados Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000) e Sinais (2002), tenha sido responsável por filmes como Fim dos Tempos (2008) e Depois da Terra (2013). Porém, após um declínio progressivo, Shyamalan tenta se redimir com seu público e com a arte cinematográfica através de Fragmentado.
Num
roteiro original do controverso diretor, é inevitável esperar alguma
reviravolta – que agora está bem mais sutil. Slipt nos apresenta Kevin
(James McAvoy), um homem de 23 personalidades distintas, que sequestra três
adolescentes e as mantém em cativeiro. Até a primeira metade, o filme desperta
o desejo de compreender o modo de agir e as motivações das personalidades que
Kevin assume.
Com
os planos fechados característicos do diretor, não fica difícil se aproximar e
sentir a mesma angústia e confusão das jovens. E junto às mesmas, o espectador aprende a diferenciar as personalidades num mesmo corpo. A construção do
suspense apoiado no desconhecido instiga o público a solucionar o mistério –
mas sempre com um pé atrás.
O
grande mérito dessa construção vai para McAvoy que se retém de uma atuação
caricata e deveras teatral. Ao se interpretar um mesmo personagem com múltiplas personalidades, o ator fica sujeito ao chamado overacting, prejudicando a obra. No entanto, o astro desenvolve um
equilíbrio suficiente para poder diferenciar uma personalidade da outra.
Isso é percebido em sua postura, voz, sotaques e trejeitos.
Mas
quando já estamos acostumados com as transformações de Kevin, o que acontece em
tela já não surpreende mais e as sequências acabam sendo meras tentativas
superficiais de elaborar uma tensão. O roteiro beira o enfadonho, acrescentando
elementos desnecessários, dando a impressão de que Shyamalan estava apenas procurando
amarrar pontas para que aquilo não perca o sentido.
E, ainda
que o ato conclusivo não impressione, Fragmentado tem o cuidado em não ser
expositivo, brincando com a imaginação do espectador, quase que obrigando-o a
refletir sobre o que acabara de ser visto.
Sendo
otimista, Fragmentado, ainda que possua falhas, pode ser considerado como a volta
vital do diretor ao bom cinema. Isso fica claro nos últimos minutos de filme.
Desculpas aceitas, Shyamalan.
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