The Lost City of Z (EUA) |
A sétima arte, ainda como um modo de expressar sentimentos, angústias e
felicitações, tem a rotineira forma cíclica de identificar e desenvolver dores
do mundo real. Dito isto, não há nenhum filme de James Gray que
não flerte com o descaso e dor, uma vez que Amantes fale de
amor na contemporaneidade e Era uma vez em Nova York trate da
fantasia do sonho americano durante o século XX. Com Z: A Cidade
Perdida, Gray emula a aventura ao desconhecido, como outrora foi muito
comum em Hollywood.
O
material base para o diretor foi o livro de David Grann sobre
o militar Percy Fawcett, que foi cartografar os limites
inexplorados da Amazônia entre a Bolívia e o Brasil, e que ficou obcecado com
uma possível descoberta que, para a sua vitória, mudaria o mundo. A sua cidade
fantasma, batizada de Zed, possuía uma civilização mítica no centro da floresta
desconhecida, logo quando o mundo beirava à Primeira Guerra Mundial.
Dito
isto, Gray aplica em seu épico a compreensão de todos os elementos narrativos e
estéticos na arte de fazer arte. Passeando pela música clássica de Charles
Dutoit e composição de Christopher Spelman, do mesmo modo
coerente pela cinematografia de Darius Khondji até a montagem
de John Axelrad e Lee Haugen, o diretor faz um
movimento muito pensado nos primeiros anos da Nova Hollywood, quando a
construção de ambientação e universo se desenvolviam como composições
artísticas muito bem aceitas ao contexto histórico e da obra.
Gray,
em seu sexto longa-metragem, desenvolve o seu trabalho mais gigantesco. A
concepção de 1905 reside em um imaginário que retrata um exercício de
cinéfilia, como tantos outros fazem, em uma viagem onírica que fundou a
essência do cinema moderno. Ainda que, com a sua grandiosidade, Gray crie a dor
para falar de descobertas internas e de família, como sempre fez.
Deste
modo, o diretor filma, como David Lean ou King Vidor,
os movimentos dos personagens que, com a falta de amor pela família, procura na
solidão a magnificência. Gray se aperfeiçoou, como se não fosse mais possível,
no deslocamento do personagem diante de seus parceiros, seja através de quadros
na parede ou de abandonos constantes. Z, com isto, se desenvolve com abordagem
técnica, quase como as de Merian Cooper, uma cobertura familiar, já
muito bem retratada em suas outras obras.
Com
a dimensão doméstica ao redor de Percy, o roteiro constrói uma narrativa calma
e paciente até confirmar, através da atuação de Charlie Hunnam, a
predestinação ao encontrar o legado de encantamento. Isto se dá quando o
personagem escuta que seu pai era um jogador bêbado que afundou o nome dos
Fawcett, o que remete à tragédia e vergonha íntima que, ao tentar provar que é
capaz, envergonha os entes queridos do mesmo modo, uma vez que troca a bebida
pela obsessão.
Hunnam, neste sentido, progride em sua melhor atuação, dado que foi preciso guiar o filme pela identificação e ambições com o público. O sentimento, por outro lado, glorifica o personagem quando está na selva, do mesmo modo que o desmerece quando está em casa, como na sequência com o seu filho, interpretado por Tom Holland.
Hunnam, neste sentido, progride em sua melhor atuação, dado que foi preciso guiar o filme pela identificação e ambições com o público. O sentimento, por outro lado, glorifica o personagem quando está na selva, do mesmo modo que o desmerece quando está em casa, como na sequência com o seu filho, interpretado por Tom Holland.
A
obra ainda encontra espaço para criar um arco feminino tão forte, quanto o
de Isabella Rossellini em Amantes que, com o desprezo,
encontrou forças para segurar o nome da família, enquanto o outro desdenha em
busca do descobrimento pessoal. Sienna Miller, no papel de Nina,
esposa de Percy, constrói outra amálgama de tragédias e de levantar (sozinha) a
determinação de viver no mundo dos homens e, pior, sem ser recompensada.
Nota-se,
com os quadros nas paredes (recurso muito usado pelo diretor), a essência do
patriarcado em julgar fortemente a personagem de Sienna, como, por exemplo, na
sequência da descida da escada em direção à saída, com vários homens,
inquietos, analisando a sua derrota.
Tamanho
esmero desenvolve o personagem central de Hunnam como um homem que teve
inúmeras oportunidades de reescrever os Fawccet, mas que não se contentou com o
que tinha em casa: uma família independente e uma mulher transgressora. O
crescimento, infelizmente, não criou impacto no mesmo, quando se despede quase
sem emoção da esposa e com insistência de seu parceiro de expedições.
A
vida e a sétima arte, deste modo, andam juntas e criam empatias mútuas,
principalmente quando são inspiradas em fatos. Percy queria, além de grandeza,
ser um dos quadros emoldurados nas inúmeras paredes de Gray. Com o foco de
deixar a angústia e derrota de lado, o herói encontrou, em uma glória selvagem,
a sua essência familiar. O diretor trouxe, enfim, a sua verdade à tona.
Comentários
Postar um comentário
Deixe sua opinião!