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O Filme da Minha Vida (2017) | Contemplando o passado

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O Filme da Minha Vida (Brasil)
Ainda lembro o meu primeiro contato com o futebol. O meu pai me levava para alguns de seus famigerados “bate-bola” entre amigos, o qual eu assistia e que, com insistência do genitor, passei a participar. Já a minha mãe me apresentou a sétima arte quando me levou para assistir Dinossauros, filme da Disney de 2000. Enquanto isso, um tio me mostrou o universo colorido dos quadrinhos, que até hoje uso como literatura rotineira. E, posteriormente, a minha namorada sugeriu uma playlist diferente que, quando vou no Youtube, é muito difícil não procurar. A lembrança, deste modo, fica muito viva quando assisto uma partida de futebol, vou ao cinema, leio um quadrinho ou escuto RadioheadO Filme da Minha Vida, nova obra dirigida por Selton Mello, trata exatamente disso: nostalgia. 

A história, escrita pelo próprio Mello e por Marcelo Vindicatto, adapta a obra do chileno Antonio Skármeta (que tem uma participação pequena em um bordel) e fala de Tony, um jovem professor que, ao retornar para sua cidade natal depois de uma formação acadêmica, descobre que o seu pai se separou de sua mãe e voltou para a França, seu país natal, sem explicações. Por meio disto, o personagem fica sozinho durante as suas decepções de modo particular e identificável, ainda que tenha o apoio de Paco, um antigo amigo da família.

Selton dirige com a experiência já garantida em Feliz Natal e O Palhaço. Fica fácil observar a elegância em sua montagem, o qual passeia pela dor e felicidade, com uma técnica belíssima fotografada por Walter Carvalho, que oferece uma sensibilidade ao abraçar o sentimento de ferida aberta. O romantismo, deste modo, traz um clima de pessimismo, como se as desilusões fizessem parte de seu crescimento, o que confere à obra uma beleza nos quadros que, sem muita dificuldade, encantam o espectador.

Já a memória, melancolia e saudade, muito presente através dos signos, oferece uma representação dos personagens em pequenos objetos, como no rádio ou na bicicleta, que brindam uma sensação agridoce, ainda que bela. Esta manifestação, contudo, traz um aprisionamento intrínseco no cerne do roteiro que, com ajuda da música, emociona nas passagens de tempo da fase infantil até a adulta. Vale lembrar, por exemplo, das sequências que Tony enxerga o seu pai sob o ponto de vista de um personagem amadurecido que, mesmo com saudades, sente agonia.

O elenco, semelhantemente, invoca a nostalgia. Johnny Massaro, no caso, cumpre aqui com muito esforço a sua melhor atuação, principalmente quando as suas emoções falam mais que as suas palavras, já que as suas expressões constrangem, assim como trazem empolgação. Por outro lado, Vincent Cassel desenvolve um pai ausente que, sem muitos diálogos, insiste na sensação de dúvida e arrependimento de suas escolhas. Já Mello traz mais um personagem diferente em seu currículo, uma vez que oferece amor e afeto, ainda que no desdém.

O roteiro, por meio disto, oferece uma viagem ao crescimento, algo inspirado no que o personagem viveu. Seja com a bicicleta, com a música ou com o cinema, Tony garante uma inspiração apaixonante de não desistir, dado que se baseia nos bons momentos do passado. E isto, graciosamente, já expande o afeto de Mello por seus personagens, mesmo que se baseando na dor de viver com o que não pode; e pior que isto: de imaginar os bons momentos do passado em busca de melhores no futuro.

Por último, como disse Don Draper em Mad Men, a nostalgia é uma pontada no coração muito mais potente que a memória. E o filme, como uma nave espacial, avança e retrocede em busca de um lugar a que ansiamos por voltar. O Filme da Minha Vida fala disso, felizmente, de forma muito sincera. 

Crítica: O Filme da Minha Vida (2017)

Contemplando o passado

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