The Dark Tower (EUA) |
Um western com
toques de ficção científica, fantasia e terror: se até mesmo classificar A
Torre Negra, obra do escritor Stephen King, em um gênero
literário é um trabalho difícil, levar a saga para as grandes telas sempre se
mostrou tarefa ainda mais complicada. Depois de muitas tentativas de tornar o
filme uma realidade, com o projeto sendo constantemente engavetado apenas para
ser reativado de novo, o longa finalmente chegou nas mãos da Sony e do diretor
dinamarquês Nikolaj Arcel, também co-autor do roteiro.
Entretanto, a complexa trama
dos oito livros da saga é muito mais simplista em sua adaptação audiovisual,
com apenas 95 minutos de exibição. Diante da ameaça do Homem de Preto (Matthew
McConaughey) de destruir a Torre Negra, estrutura responsável por manter a
existência de todos os mundos, cabe a Roland Deschain (Idris Elba)
cumprir seu papel como pistoleiro e intervir nos planos do mago, evitando o
colapso total do universo, ao mesmo tempo em que deve proteger Jake Chambers (Tom
Taylor), um garoto de Nova York com visões sobre o mundo de Roland.
Apesar da sinopse indicar
estarmos diante de uma obra com elementos mitológicos capazes de render um
universo envolvente, o maniqueísmo do roteiro torna esse um filme básico,
superficial e uma tentativa falha de retratar os arquétipos narrativos mais
primordiais da humanidade. Ainda que tente esconder a mediocridade por trás de
sentimentos expositivos de vingança e falta de pertencimento, essa é puramente
a história de um herói contra um vilão cujo objetivo é simplesmente destruir o
universo, sem que isso precise de qualquer lógica ou fundamento: o clássico (e
ultrapassado) bem contra o mal. E nada mais.
Quase tão bobos quanto a
própria premissa do roteiro estão os furos e conveniências recorrentes, desde o
encontro casual entre personagens, até o vilão, dotado de habilidades que o
tornam apto a matar apenas com uma palavra (Kilgrave?), mas incapaz de exercer
influência sobre o pistoleiro com sua mágica, por nenhum motivo aparente. O
mesmo vilão que se dá ao trabalho de viajar entre mundos em busca de pistas
sobre algo, mas envia seus capangas para resgatar aquilo que procura,
simplesmente para o filme ganhar uma cena de batalha onde o herói possa mostrar
suas habilidades com os revólveres.
Mesmo com ingredientes que
sugerem grandiosidade, nada aqui é concreto, sobretudo para quem não está
familiarizado com o universo de King. Sim, sabemos que a Torre mantém os mundos
seguros, mas não sabemos onde ela está e nem por que é possível destruí-la com
a mente de uma criança (algo dito nos letreiros iniciais). Também sabemos que
os pistoleiros estão extintos, mas nunca entendemos a real importância desses
guerreiros. Assim como só podemos imaginar os seres e ambientes presentes no
mundo de Roland, pois nada é mostrado além de restos de tecnologia deixados por
povos mais antigos.
Entretanto, ainda que todas
essas lacunas fossem preenchidas caso o longa tivesse meia hora a mais de
duração, continuariam sendo inevitáveis os risos causados pelo último confronto
entre os personagens, desrespeitoso a qualquer lei da física, mesmo para obras
fantásticas. E talvez por vergonha de si mesmo, o filme tenha uma edição tão
abrupta após a batalha, levando a um final rápido que impede qualquer
possibilidade de digerirmos as cenas vistas.
Enquanto McConaughey se
entrega ao papel de vilão unilateral com uma atuação sem carisma e preguiçosa,
é notável o esforço de Elba em trabalhar com o material limitado em mãos.
Também são divertidos os momentos de interação do protagonista com habitantes
do nosso mundo (algo sabiamente aproveitado dos livros originais), apesar de
gerarem novos questionamentos sobre a lógica do roteiro.
Buscando se apoiar em referências ao trabalho do autor norte-americano, com easter eggs desde os créditos de abertura até o quadro final, a película falha em se estabelecer como uma obra própria, sendo ineficiente em agradar leitores da saga original e nada convidativa para possíveis novos fãs. Apesar do rico universo em que se baseia, A Torre Negra é um filme sem vida, desprovido de qualquer nexo narrativo e que certamente esqueceu o rosto do pai.
Buscando se apoiar em referências ao trabalho do autor norte-americano, com easter eggs desde os créditos de abertura até o quadro final, a película falha em se estabelecer como uma obra própria, sendo ineficiente em agradar leitores da saga original e nada convidativa para possíveis novos fãs. Apesar do rico universo em que se baseia, A Torre Negra é um filme sem vida, desprovido de qualquer nexo narrativo e que certamente esqueceu o rosto do pai.
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