É engraçado como a indústria americana enxerga na repetição um elemento de atração, de tornar a ficção “mística” por um roteiro escrito em “níveis” genéricos de imersão. Em A Morte Te Dá Parabéns, Tree vive o dia do seu aniversário várias vezes porque é sempre assassinada ao fim da noite por um alguém mascarado (que parece ter saído de Uma Noite de Crime, 2013). A missão, lógico, é descobrir quem teria razões para isso. E se já na abertura, com a vinheta “estilizada” da Universal Pictures, vem à mente Contra o Tempo (2011), não demora muito para reconhecer que ambos caem na mesma armadilha embora climaticamente distintos.
Crítica: A Morte Te Dá Parabéns (2017)
A Ilusão do Mistério
O roteirista/quadrinista Scott Lobdell, conhecido por episódios da série animada de X-Men na década de 90, investe muito para que essa narrativa engessada pareça algo além do gênero firmado na mediocridade - aí as tentativas de entregar sequências de humor que ora só espelham um ambiente vindo das universidades American Pie (alguns momentos também lembram a péssima comédia francesa Uma Agente Muito Louca). É uma carta na manga que impõe a necessidade de alívio por uma tensão que sequer envolve, principalmente porque seus tons não fazem questão de encaixar.
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Uma sequência onde Tree investiga seus possíveis assassinos ao som de uma balada pop, convive com outra onde sua primeira ideia de defesa é martelar estacas na janela do próprio quarto e dizer em alto bom som: “Quero ver você entrar agora, seu imbecil”. O cômico é perceber que Scott e Christopher Landon (diretor) querem que exista alguma tensão nisso, repetindo essa situação em todos os momentos de suspense calcados pela “surpresa óbvia”.
O filme enclausura seus personagens em ambientes ridiculamente comuns, e essa aventura vai-e-vem se torna um fardo tão exaustivo quanto o propósito. Como mãe! (2017), por exemplo, que utiliza a mesma fórmula dentro do filme para causar a angústia, A Morte Te Dá Parabéns busca elementos corriqueiros que já não servem pra nada no “gênero” (talvez sirva ao tom de Todo Mundo em Pânico) e sequer fora dele.
Exatamente por topar o desafio de ser uma indecisão e em seguida por querer torná-lo “divertido”, que tudo cai na mesma armadilha: a história, a protagonista, as “reviravoltas”, a diegese do universo, a estética - a lista não acaba por aqui. Ao criar um mistério desde a primeira morte, a narrativa vai caindo em espiral até chegar num ponto sem retorno. Se ficar sem explicação torna-se gratuito (que é o caso, pela resolução novelista), e se torna ainda mais tolo se tiver coragem de esclarecer as regras.
Afinal, o filme não significa nada além de uma manipulação estética para vender uma história tão fraca quanto sua motivação. Potencializado pela transição moralista pela qual Tree passa (olhe como ela é uma pessoa horrível), sua presença é tão cúmplice dessa inconsistência que dói quando seus pensamentos falados são utilizados como uma ferramenta à parte. “Nossa, onde será que deixei o controle?” - diz sozinha no quarto para que precise levantar, dar às costas para a TV que (meu deus) vai desligar sozinha.
É notável que a dupla de criadores principais se esforça na tentativa de não repetir o mesmo filme, mas empaca na teatralidade dos símbolos do dia que se repete. Claro que a ideia é torná-lo mais direto, lógico, decodificável, e isso funciona no sentido mais superficial da obra. Enquanto o espectador está na sala para entender a situação e posteriormente supôr os caminhos do enigma, essa estrutura vai ser suficiente porque ela ao menos faz questão de definir os conflitos permeáveis. Não importa se, de repente, é preciso pôr os pés no chão caso a ilusão de “chegar ao fim” seja tão importante.
Fica o questionamento de até onde essas mesclagens compõem uma experiência válida ou memorável. É computável como teste de percepção, especulação, de clima e, quem sabe, de tensão, mas onde tudo depende de uma entrega que se contenta em ser momentânea. Um filme que permanece oportunamente no parque de diversão, que se contenta em morrer na sala de cinema.
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