Dona Flor e Seus Dois Maridos está de volta. Depois de um hiato de mais de 40 anos sem adaptações cinematográficas do romance de Jorge Amado, Pedro Vasconcelos dirige uma nova versão, protagonizada por Juliana Paes.
Pedro nos contou como foi o processo de adaptação do livro, os seus desafios como diretor e dos próximos projetos. O filme estreia na próxima quinta-feira, 2.
Confira a entrevista.
Confira a entrevista.
Quarto Ato: Como você foi se envolver com a obra Dona Flor e Seus Dois Maridos?
Pedro Vasconcelos: Na verdade, tudo começou quando resolvemos contar essa história no teatro. Então nós fizemos uma montagem, que estreou em 2007 e rodou o país. Inclusive, a peça veio para Fortaleza umas quatro vezes. E a partir daquilo, daquele específico trabalho no teatro, achamos que poderíamos chegar a um filme para mergulhar mais ainda nessa obra. A história é maravilhosa. História de Dona Flor, que o conhece o seu marido, que morre, e depois se relaciona com outro, ressuscita, volta e une os três. É uma delícia. O mundo adora essa história e resolvemos falar dela no cinema.
Quarto Ato: Você vai querer criar outra adaptação de Jorge Amado?
Pedro Vasconcelos: Eu adoraria. No teatro eu já fiz Capitães de Areia e o Dona Flor. Estamos com os direitos para fazer no teatro o Tieta do Agreste. Eu adoro as obras do Jorge, pois elas propõem cenas boas, personagens bons, excelentes histórias. Jorge é um presente para quem é diretor.
Quarto Ato: Ele contou a história do Brasil para brasileiros. Como você conseguiu sugar essa energia do livro? Como conseguiu tirar isso dos personagens e colocar em seus artistas?
Pedro Vasconcelos: O que aconteceu foi o seguinte: nós adaptamos tudo diretamente do livro escrito pelo Amado. Eu cortei o livro para fazer o roteiro. Então, não tem nada de novo escrito, nem roteirista marcado temos no filme. Todos ficaram em cima do livro como roteiro. Imaginávamos e marcávamos as cenas em cima do que estávamos lendo, e não em referências de adaptações passadas. E aí foi um mergulho muito rico, muito legal.
Quarto Ato: Algumas obras de Amado são machistas. Por mais que sejam tempos distintos, como você adaptou para essa época completamente diferente daquela?
Pedro Vasconcelos: Eu acho isso uma versão distorcida. Na verdade, ele era feminista. Ele dava à mulher a liberdade de escolha e direito para ela ser quem ela quisesse ser. Ele deu poder para elas. Ele criava empoderamento feminino para as suas personagens em um momento que não se falava de empoderamento. A Dona Flor é a dona absoluta dessa história. E não é só porque ela trabalha a sensualidade dela. Ela tem desejos, como todo ser humano tem. E o que ele fez foi falar em suas
obras “liberte seus desejos e não repreenda”. Não se reprima. Você pode ser feliz sendo quem você é e com os desejos que você tem.
Quarto Ato: Você colocou no seu filme o que ele queria que acontecesse?
Pedro Vasconcelos: Exatamente. Liberdade de escolha para as mulheres serem quem elas quiserem ser. Isso é muito a frente de seu tempo. Muito corajoso e libertário. Por causa da origem comunista do Jorge, ele brigava para que todos tivessem a sua liberdade. Ele lutava por isso, por essa liberdade de escolha do ser humano. Ser quem ele é. E ele fez isso com as mulheres.
Quarto Ato: E quem criou essa sensualidade distorcida nas personagens dele?
Pedro Vasconcelos: Foi o cinema. A sétima arte e seus diretores que foram atrás de uma vertente que Amado não se interessava. Ele gostaria que elas fossem quem quisessem ser. Mostramos isso em nosso filme.
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