Dentro do gênero de comédia no cinema, é impressionante a capacidade de produções do tipo destinadas à praça familiar (mesmo que nem sempre sejam adequadas para tal) de se estabelecer com uma vertente da indústria, ainda que muitos destes longa-metragens nem devessem sair do papel. É o caso de “Pai em Dose Dupla”, empreitada estrelada por Will Ferrell e Mark Wahlberg em 2015 que, tomando para si outro gênero bastante lucrativo, o de "holiday movies" — filmes ambientados entre o Dia de Ação de Graças norte-americano e o Ano Novo — conquistou uma constrangedora sequência dois anos depois.
Crítica: Pai em Dose Dupla 2 (2017)
Comédia natalina é constrangedora
A receita parece fácil: basta acrescentar comediantes rentáveis em situações familiares absurdas, com cenários que possam ser explorados (há quase sempre uma viagem para algum lugar interessante) e algumas piadas de mau gosto envolvendo linguagem imprópria (ainda que crianças também sejam parte do alvo da produção). Se seu blockbuster precisa de mais tempero, só adicionar decorações de Natal e uma mensagem morna sobre união e amor; caso não seja um sucesso nos cinemas, facilmente o filme se pagará quando lançado em home video ou, em termos mais recentes, streaming.
Voltando para Pai em Dose Dupla 2, eis o que é necessário saber sobre a trama: Brad Whitaker (Will Ferrell), padrasto de Megan (Scarlett Stevez) e Dylan (Owen Vaccaro), parece definitivamente ter conquistado uma boa relação com Dusty Mayron (Mark Wahlberg), pai biológico das crianças e padrasto de Adrianna (Didi Costine). A situação muda quando decidem reunir a (grande e disfuncional) família para celebrar o Natal, recebendo então a visita de Don (John Lithgow), pai de Brad, e Kurt (Mel Gibson), pai de Dusty.
A grande quantidade de personagens em cena não é o principal problema do filme, embora seja um dos existentes. O que compromete bastante esta comédia é o texto do diretor Sean Anders e seu co-roteirista John Morris; Anders, com bastante terreno no gênero, roteirizou, por exemplo, os igualmente questionáveis Família do Bagulho (2013) e Debi e Lóide 2 (2014), além de dirigir o filme que antecede esta sequência e o fraco Este é o Meu Garoto (2012). Como é perceptível por seu currículo, grande parte do humor desta produção é ultrapassado e insosso, trazendo piadas que oscilam entre o desastroso e o retrógrado. E, se há alguma tentativa de emocionar durante o terceiro ato da trama (com diálogos que sugerem comunhão entre os espectadores na sala de cinema), ela é embaraçosa de tão falsa e incompetente.
Os personagens, vários detestáveis, comprometem o filme de tal forma que o elenco, capaz de talvez o salvar de alguma forma, rende-se à performances vergonhosas. Mel Gibson, com seu personagem especialmente desrespeitoso, está irritante a ponto de ansiarmos por socar-lhe a face. Alessandra Ambrosio, modelo brasileira que assume um papel coadjuvante, e o ex-lutador John Cena, também são ridiculamente desagradáveis em cena. Quanto aos protagonistas, não há muito o que se dizer: temos a gritaria e a expressão desconfortável usuais de Wahlberg (ainda que não cheguem ao nível “Transformers”) e um decepcionante exagero caricatural de Ferrell que tornam seu personagem artificial (ele esteve melhor até em seu último filme de Natal, Um Duende em Nova York).
Existem pontos positivos neste descompensado longa-metragem? Sim: John Lithgow, que consegue trazer mais camadas a seu simpático papai, provavelmente idealizado como outra personalidade bidimensional; Linda Cardellini, que rouba algumas cenas como a figura materna preocupada; o elenco infantil, claro, com uma comicidade genuína que carrega o filme nas costas e, talvez, as sutis críticas à irresponsável presença constante de tecnologias na educação familiar moderna.
Pai em Dose Dupla 2 é mais um longa-metragem sem inspirações e de raso impacto positivo, sendo vergonhosa em muitos aspectos. Se deve agradar famílias, isso é imprevisível, visto o sucesso de seu predecessor; pode até arrancar risadas de alguns marmanjos e agradar com sua temática natalina. No entanto, carece de sinceridade (tanto na temática quanto em performances) e adequação à mentalidade contemporânea, pois de que adianta retratar crianças com smartphones se as grotescas piadas envolvendo virilidade permanecerão? Um questionamento que não deveria existir em filmes de nicho familiar, mas que, infelizmente, permanece válido.
Foi uma das melhores comédias que vi. Linda Cardellini fez um excelente papel, seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções, é uma atriz que as garotas amam por que é linda, carismática e talentosa. The founder é um dos seus filmes mais recentes dela, é maravilhoso! Esta atriz nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é a que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio. Eu recomendo totalmente.
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