Com a tão aguardada
volta de Black Mirror, as expectativas estavam altas. E, felizmente, o
primeiro episódio, USS Callister, não decepciona. Unindo a referência
com surpresa, esse é um dos episódios que mais se destaca na quarta temporada,
logo que faz uma clara homenagem a Star Trek, desde a primeira cena que
já remete a vários momentos marcantes da série, além de colocar a tela em uma
dimensão 4:3 com efeito antigo. Mas o principal objetivo é usar esse produto
tão relevante, para mostrar que o homem ainda está muito distante desse futuro
ideal.
O episódio se passa na empresa Callister, que desenvolve o jogo Infinity, em
que as pessoas se conectam mentalmente em uma realidade virtual. Assim, a
relação entre os papéis de trabalho daquela empresa reflete, de uma maneira
perturbadora, na versão particular do jogo que o diretor possui. A parte
técnica tem sua importância, como a direção, os enquadramentos, toda a
recriação de uma nave e de um figurino que remetesse a Star Trek. Porém,
tudo isso fica em segundo plano quando comparado a mensagem e as reflexões que Black Mirror sempre se propõe a
entregar, ou melhor, jogar na sua cara.
Como em outros episódios que se destacaram da série, a tecnologia é usada como
um meio, algo que está como um plano de fundo, para a real capacidade humana de
cometer atrocidades. Trazendo questões psicológicas e sociais muito presentes
no nosso dia a dia, a mensagem amplifica quando colocada em contraste com os
princípios de Star Trek: como respeito, amizade e liberdade. Assim,
usando uma outra série consagrada como exemplo, esse episódio mostra como o ser
humano tende a distorcer produtos e ideais para a satisfação dos seus desejos,
mesmo que isso atinja ou agrida o próximo.
Além de brincar com
nosso senso de justiça e com problemas de relacionamentos sociais comuns a
qualquer um, paira a dúvida se já agimos ou podemos agir da mesma forma. Nada é
simplesmente preto no branco. Apesar disso, é perceptível o uso de estereótipos
para a construção da maioria dos personagens e mesmo com uma mensagem relevante
os recursos tecnológicos podem ser comparados a outros já vistos na série.
Outro mérito do episódio é conseguir criar uma empatia com os personagens que
vão estar ali por apenas 50 minutos, quesito que deixa a desejar em outros
episódios dessa temporada. Personagens estes se não são exatamente humanos, o
que cria mais um questionamento sobre o que é ser humano, como a nossa própria
moral e ética se enquadram nessas nuances e até a nossa relação com o virtual e
com as futuras (ou atuais) inteligências artificiais.
Pessoalmente foi o episódio que mais agradou. Por saber se reinventar em cima
de algo já estabelecido e utilizar esse legado para levantar novas reflexões.
Tudo amarrado com um final agridoce, tão característico de Black
Mirror, mas não menos impactante.
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