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Black Mirror - 4x01: U.S.S Callister (2017) | Combinação entre referência e surpresa

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Com a tão aguardada volta de Black Mirror, as expectativas estavam altas. E, felizmente, o primeiro episódio, USS Callister, não decepciona. Unindo a referência com surpresa, esse é um dos episódios que mais se destaca na quarta temporada, logo que faz uma clara homenagem a Star Trek, desde a primeira cena que já remete a vários momentos marcantes da série, além de colocar a tela em uma dimensão 4:3 com efeito antigo. Mas o principal objetivo é usar esse produto tão relevante, para mostrar que o homem ainda está muito distante desse futuro ideal.

O episódio se passa na empresa Callister, que desenvolve o jogo Infinity, em que as pessoas se conectam mentalmente em uma realidade virtual. Assim, a relação entre os papéis de trabalho daquela empresa reflete, de uma maneira perturbadora, na versão particular do jogo que o diretor possui. A parte técnica tem sua importância, como a direção, os enquadramentos, toda a recriação de uma nave e de um figurino que remetesse a Star Trek. Porém, tudo isso fica em segundo plano quando comparado a mensagem e as reflexões que Black Mirror sempre se propõe a entregar, ou melhor, jogar na sua cara.

Como em outros episódios que se destacaram da série, a tecnologia é usada como um meio, algo que está como um plano de fundo, para a real capacidade humana de cometer atrocidades. Trazendo questões psicológicas e sociais muito presentes no nosso dia a dia, a mensagem amplifica quando colocada em contraste com os princípios de Star Trek: como respeito, amizade e liberdade. Assim, usando uma outra série consagrada como exemplo, esse episódio mostra como o ser humano tende a distorcer produtos e ideais para a satisfação dos seus desejos, mesmo que isso atinja ou agrida o próximo.

Além de brincar com nosso senso de justiça e com problemas de relacionamentos sociais comuns a qualquer um, paira a dúvida se já agimos ou podemos agir da mesma forma. Nada é simplesmente preto no branco. Apesar disso, é perceptível o uso de estereótipos para a construção da maioria dos personagens e mesmo com uma mensagem relevante os recursos tecnológicos podem ser comparados a outros já vistos na série.

Outro mérito do episódio é conseguir criar uma empatia com os personagens que vão estar ali por apenas 50 minutos, quesito que deixa a desejar em outros episódios dessa temporada. Personagens estes se não são exatamente humanos, o que cria mais um questionamento sobre o que é ser humano, como a nossa própria moral e ética se enquadram nessas nuances e até a nossa relação com o virtual e com as futuras (ou atuais) inteligências artificiais.

Pessoalmente foi o episódio que mais agradou. Por saber se reinventar em cima de algo já estabelecido e utilizar esse legado para levantar novas reflexões. Tudo  amarrado com um final agridoce, tão característico de Black Mirror, mas não menos impactante.

Crítica: Black Mirror - 4x01: U.S.S Callister (2017)

Combinação entre referência e surpresa

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