No episódio Crocodile, como e poucos outros da série, a tecnologia usada não é diretamente influenciadora da corrupção humana. Nesse caso, a tecnologia está em segundo plano, como uma ferramenta que move a trama. O que torna tudo mais assustador, pois quando uma pessoa comum começa a tomar um série de decisões desesperadas, questiona a própria moral e empatia dos que estão assistindo.
A história acompanha Mia (Andrea Riseborough), uma arquiteta bem sucedida, casada e com um filho, que vê o passado voltar a assombrá-la, quando um ex-namorado da sua juventude quer confessar um crime que ele cometeu e ela foi cúmplice 15 anos antes. Isso desencadeia uma série de casualidades que acabam envolvendo uma investigação criminal, em um mundo onde as empresas e o governo podem acessar suas memórias e usa-las contra ou a favor de você.
Nesse ponto que o roteiro trabalha muito bem as “coincidências” e os foreshadowings, entrelaçando com a investigação e a trama que se tornam mais sombrias e brutais a cada minuto. Como se a esperança fosse perdida aos poucos e não se pudesse mais conceber os limites das atitudes humanas. Usando um horror brutal e psicológico sobre coincidências comuns do dia a dia. A própria estrutura da trama se diferencia da esperada reviravolta no final do episódio, mas a escolha dos elementos e da sucessão dos acontecimentos é fundamental para a construção do clima.
A direção e a montagem se complementam muito bem, mostrando as pistas e desenvolvendo duas histórias paralelas até elas se colidirem. Coloca em tela coisas importantes para a trama, mas sem revelar seu propósito, amarrando bem todas as conexões e sabendo quando revelar cada uma delas. Isso cria um clima de desespero e incapacidade tanto dos personagens quanto de quem assiste.
Crítica: Black Mirror - 4x03: U.S.S Callister (2017)
Absolutamente tudo por um segredo
Os elementos visuais trazem uma confusão de espaço e tempo, que pode ser comparada as próprias questões da personagem principal. Em alguns momentos parece o tempo atual, em outros há um estilo cyberpunk, principalmente no objeto usado para captar as memórias das pessoas, que lembra muito o detector de replicantes usado em Blade Runner (1982).
Um episódio que usa uma estrutura diferente do esperado em Black Mirror, mas não menos desconfortante e reflexivo. Chegado ao fim do episódio, questionei qual o significado do seu título. Foi quando, ao reassistir o episódio Urso Branco (2x02), me saltou aos ouvidos uma frase dita para a personagem principal, que tem pontos de vida em comum com a personagem de Crocodile: “Não comece a chorar. Lagrimas de Crocodilo me deixam enojado.”. Talvez esteja ai a resposta.
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