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O Destino de uma Nação (2018) | Sem surpresas, mas competente

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Em menos de um ano, duas produções de grande porte tratam do mesmo evento: Operação Dínamo. O primeiro (em questão de lançamento), retrata com o formato de guerra, com viés mais contemplativo; o segundo, abrange com outra perspectiva, falando da guerra sem mostrá-la, focando em uma identidade particular: Churchill. Estas disparidades frisam as diferentes percepções artísticas sobre um mesmo “objeto”, no qual O Destino de Uma Nação de Joe Wright em nada se assemelha de Dunkirk de Christopher Nolan.

Não se prendendo à obra de Nolan (a qual já tem sua crítica aqui), O Destino de Uma Nação reforça a identidade e o gosto de Wright em dirigir filmes de época. Embora não sendo o primeiro a ser ambientado nos anos 40 (vide Desejo e Reparação), este trabalho ainda carrega consigo uma identidade que condiz com o contexto. A Londres suja, cinzenta e amedrontada é retratada com a sua direção que explora os ambientes e os personagens, em movimentos de câmera que se repetem e criam uma rima visual agradável.

Extraindo o melhor de tela, Wright não realiza exageros e sua realização é contida, mas com nuances artísticas que trazem personalidade ao longa, como a sequência de bombardeios que se finalizam em um rosto. Isto, construído com o uso contrastante de luzes e sombras, elucidam o bom trabalho de design de produção e tornam isso um elemento de construção de personagem e de narrativa, como o robe rosa que Churchill utiliza e denota sua personalidade cômica.

E por falar em cômico, Gary Oldman em sua performance com “quilos” de maquiagem fica até irreconhecível, mas idêntico às imagens que crescemos vendo do inglês Churchill. Sua forma de falar, de andar e de reagir é competente e tem o que é preciso para ser lembrado nas premiações de melhor ator (atentem-se aos bolões!). As construções de seus discursos são bem caricatas, mas que coloca o público em posição de ouvinte e de discursador, uma vez que acompanhamos o personagem em seus primeiros trajetos como Primeiro-Ministro.

Para construir todo o clima de tensão que é preciso para uma guerra, mesmo que não a vejamos de fato – o que torna um desafio maior -, Wright trabalha com seu parceiro de outros filmes, Dario Marianelli, que traz uma trilha sonora ritmada, ainda que singela e com leves tons cômicos.

E, por mais que esforços sejam feitos, o desenvolvimento do longa se passa de forma lenta, com cenas que, narrativamente, não fazem tanta diferença e acaba se tornando entediante. No entanto, há cenas que definem o filme, como a do metrô, retratando de forma sensível a aproximação do povo com a política. Ainda assim, O Destino de Uma Nação ainda se perde em soluções piegas de extrema exaltação do personagem, com direito à trilha sonora nas alturas, câmera lenta, discurso “animadores” e muitas frases de efeito.

Sem ousadia e sem assumir riscos, o diretor fica em sua zona de conforto. Oldman, no entanto, sustenta o filme em uma interpretação carismática e notória, mas que ainda não faz de O Destino de Uma Nação um filme referência. No entanto, a possibilidade de vermos dois paralelos de um mesmo evento em dois grandes lançamentos (numa perspectiva de produção) torna um exercício interessante de comparação e compreensão das decisões tomadas na criação de um filme.


Crítica: O Destino de uma Nação (2018)

Sem surpresas, mas competente

Comentários

  1. Amo muito esse tema para os filmes. Amo esse género e sempre fui fã do trabalho de Christopher Nolan , é um profissional e em cada uma das suas obras me deixa hipnotizada com o seu grande talento de narrar à história e Dunkirk não é a exceção. Ancho que é umo dos mehores filmes sobre a segunda guerra mundial O ritmo do filme foi muito ameno, acho que é um filme que agradara a todo o público.

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