Animação é um ótimo recurso para transmitir uma mensagem séria, mas de forma sutil e lúdica. Os filmes da Pixar já fazem isso com maestria, porém, não ficando para trás, Touro Ferdinando aborda temas complexos, como a exploração nas touradas e o abatimento animal, sem deixar de equilibrar com humor e momentos divertidos em tela.
Sob a direção do brasileiro Carlos Saldanha, que assina trabalhos com as animações trilogia Era do Gelo e Rio, Touro Ferdinando já exibe uma técnica mais sofisticada de animação. As cores, as texturas e os movimentos faciais mostram a qualidade da animação na qual o filme possui. Seu roteiro, que é baseado na obra – que sofreu censura devido ao fascismo – de Munro Leaf e Robert Lawson, o grupo de roteiristas adaptaram o enredo à tela que, mesmo com mais de 80 anos de existência, possui um discurso atual e necessário. E isso para além das touradas.
E a forma como o discurso é inserido ao público se torna verossímil, sutil e nada forçado. Na primeira sequência, já é possível perceber o traço de personalidade dos personagens. Ferdinando é um touro pacifista, que ama flores e natureza e é contra a violência das touradas. A partir desse personagem, é fácil de imaginar como a história vai se seguir, tornando-a um pouco previsível. Porém, o filme ainda consegue deixar tenso, comovido, feliz ou triste, conforme o longa se desenvolva. Perde, no entanto, nas cenas de humor, que, apesar de ser direcionado ao público infantil, algumas se tornam demasiadamente tolas e cansativas. Principalmente quando a mesma piada é repetida, deixando o desenvolvimento mais lento do que deveria.
Já na sequência final, o filme se desenvolve fácil e alcança um ritmo que agrada. Embalada por uma trilha sonora de John Powell, que tem uma pegada emotiva com um quê de música típica espanhola, Touro Ferdinando prende a atenção e não se deixa dispersar.
E com esse feito, consegue discutir dois aspectos problemáticos na tourada: a violência e a criação que o animal sofre, sendo preparado para morrer nas violentas touradas, e o abatimento. A abordagem quanto ao abatimento de descarte de animais para a indústria da carne é feita de forma leve - que até poderia ser mais enfática aqui - mas que já mostra um pouco da realidade dos animais destinados ao cruel abate. Para o público, crianças com mente em formação, é de suma importância esse assunto ser colocado em pauta. Até para a conscientização dos próprios pais.
Ambas as problematizações são trazidas sob a perspectiva do animal, que amedrontado com a sua realidade, não tem outra escolha se não fugir para sobreviver. É um tema complexo e que não é discutido nessas animações que se utiliza dos animais. Saldanha que já trabalhou com o tráfico de aves em Rio, soube direcionar tais assuntos de forma que não ficasse pesado para quem fosse assistir.
Sendo assim, Touro Ferdinando é uma animação com uma história simples, mas com um protagonista adorável e que lhe cativa desde o primeiro momento. E para se apropriar ainda mais da história, atrelar ao discurso sobre a violência que o animal sofre só deixa o filme mais importante para se assistir. Fica aqui a torcida para o filme não seja ofuscado por produções grandiosas e ganhe o afeto que merece do seu público.
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ResponderExcluirHonestamente esse filme foi maravilhoso! Eu esperava ver uma animação bem feita e uma estória até triste e melancólica, mas do início ao fim o tom é positivo. Pais e filhos vão adorar os personagens e aprender preciosas lições de otimismo consciente, de bondade e amizade, enquanto se divertem a valer. Uma ótima pedida para as férias, vale o ingresso e a pipoca da família inteira. Honestamente, é um dos melhores filmes de animação que vi no ano passado. Envolvente desde os primeiros minutos, a sensível estória leva a gente a pensar sobre como encaramos nossa vida. É muito fácil se identificar com os personagens e seus dramas, e o mais surpreendente é que há tanto bom humor que o peso do contexto (um touro que tem como destino uma tourada não é nada mais do que uma alegoria da humanidade rumando para o final inevitável da morte) permanece como uma leve ameaça constante porém sem dominar os sentimentos do espectador.
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