Comédia é um tesouro nacional: o gênero está entre os mais rentáveis do cinema brasileiro, movimentando o mercado de cultura e levando milhões de espectadores ao cinema, além de lançar protagonistas ao estrelato e consolidar franquias. De onde saem os primeiros passos que levam a esse sucesso? Como é para o elenco, muitas vezes já experiente na televisão, encarar novos desafios e o reconhecimento do público?
“O Riso é Social”: confira entrevista com estrelas e roteirista de Os Farofeiros
Quarto Ato compareceu à prèmiere da nova comédia brasileira
Para responder algumas dessas perguntas, o Quarto Ato esteve presente na prèmiere do filme Os Farofeiros em Fortaleza, onde conversou com os astros do filme, Maurício Manfrini (popularmente conhecido pelo personagem televisivo Paulinho Gogó) e Cacau Protássio (do seriado cômico Vai Que Cola), e também com o popular roteirista Paulo Cursino, que além da nova comédia tem os sucessos De Pernas Pro Ar (2010), Até Que a Sorte Nos Separe (2012) e Fala Sério, Mãe! (2017) no currículo.
Sob a direção de Roberto Santucci (longo parceiro de projetos com Cursino), o filme, que estreia nesta quinta, 8, traz as desventuras de quatro famílias que alugam uma casa de praia durante as férias, mas acabam tendo o seu descanso transformado em bagunça. Além de Maurício e Cacau, o longa-metragem conta também com Danielle Winits no elenco.
Confira a entrevista abaixo.
Quarto Ato: Você já tem bastante experiência na televisão e agora uma grande estreia no cinema. Como foi essa transição?
Maurício Manfrini: Eu já fazia rádio há uns vinte anos, televisão desde 1999 e shows de teatro pelo Brasil inteiro há muitos anos, mas o cinema está sendo uma experiência nova. Esse é o primeiro filme de lançamento nacional que faço. Tive apenas que me readaptar às situações de gravação, que são bem diferentes da TV, em que você grava e as coisas já vão ao ar no dia seguinte. Cinema não é assim... a gente gravou o filme em maio do ano passado! É um processo mais elaborado, mais artesanal e cuidadoso.
Quarto Ato: Houve alguma preparação diferente para o cinema? Algum desafio?
Maurício Manfrini: Tive uma facilidade por estar há bastante tempo na televisão, em saber lidar com câmeras e me posicionar. Esse foi um processo até que mais suave para mim. O que eu tive que me adaptar foi a espera para as gravações. O Roberto [diretor] até me ensinou que no cinema você “espera, espera e espera”, e depois “corre, corre e corre”: fica esperando o melhor momento para gravar, e daí quando finalmente começa, o tempo fica nublado e você precisa correr para não pegar chuva e perder a iluminação do Sol. Essas coisas eu tive que me readaptar e me acostumar, mas depois de uns dez dias de gravação já estava tranquilo.
Quarto Ato: Como você diferencia a execução do Paulinho Gogó para o personagem Lima, de Os Farofeiros?
Maurício Manfrini: O Paulinho Gogó já existe há muito tempo e, graças a Deus, está consagrado na televisão. Por o Lima ser um malandrão, um camarada piadista, que não esquenta a cabeça com nada, precisei ter o cuidado para que não parecesse com o Paulinho Gogó, e ao mesmo tempo pensar em alguma característica da personalidade dele para inserir no novo personagem. Isso me deu um pouco de trabalho, para que as pessoas não pensassem “ah, é o Paulinho Gogó que ele está fazendo”. Tive que trabalhar muito mentalmente para fugir do personagem do Paulinho e ao mesmo tempo tirar alguma coisa dele para que o Lima se tornasse agradável e carismático, o que acredito que consegui.
Quarto Ato: A Jussara, assim como outras personagens que você interpretou, tem uma identificação bem popular. De onde você tira suas inspirações?
Cacau Protássio: Eu tiro de onde eu vim! Minha família era pobre e eu morava no subúrbio. Tiro tudo de onde eu vivi, de onde convivi, de onde eu venho… é mais fácil para mim, consigo falar com mais propriedade.
Quarto Ato: Você traz empoderamento para a cena de comédia brasileira. O que pensa sobre isso? Qual mensagem quer levar para as pessoas?
Cacau Protássio: Hoje eu agradeço a Deus por chegar onde cheguei, por ter conseguido. A cada dia que passa eu tento provar que sou boa e consigo fazer as pessoas rirem. Eu incentivo todo mundo, porque a gente tem que acreditar na gente. Se eu não acreditar em mim, você também não vai acreditar. Tento fazer com que cada um acredite em si mesmo todos os dias. Se isso dá certo, eu vou continuando.
Quarto Ato: De onde veio a inspiração para o longa?
Paulo Cursino: Quem já não alugou ou foi para uma casa de praia ruim, com aquelas camas de mola, os mosquitos zunindo, a mesa de vidro quebrada e as revistas velhas? Sabe, isso é um universo muito rico do qual todo brasileiro já passou. A inspiração é na própria vida da gente. Quando falávamos sobre o filme, as pessoas sempre comentavam alguma história parecida com ele. Todo mundo já planejou uma viagem cheia de expectativas e que não deu certo. Eu acho que isso é universal! E os contratempos às vezes são engraçados. Rir deles é fundamental.
Quarto Ato: Qual a melhor parte de escrever uma comédia?
Paulo Cursino: A melhor parte de escrever comédia é ver o resultado dela no ar. É muito legal ver algo que você escreveu numa sala de cinema e perceber aquilo funcionando. A gente trabalha para isso. O melhor só vem quando você já escreveu e terminaram de filmar, que é justamente poder acompanhar essa reação do público.
Quarto Ato: A comédia é um dos gêneros mais consumidos no Brasil. O que isso indica do nosso povo e do nosso cinema?
Paulo Cursino: O povo brasileiro gosta de rir e tem um humor muito particular. Acontece que o brasileiro hoje tem um humor um pouco mais azedo do que já teve um dia. Hoje a comédia é uma necessidade, o povo precisa rir mais, precisa se ver na tela e rir de si. Por que está tudo tão sério hoje, tão polarizado, que o humor une. Quando você está em um filme e as pessoas se veem, nesse momento as diferenças somem, porque o riso é social. É por isso que a comédia funciona tão bem no cinema, porque o riso do outro te induz a rir também. Estamos em um bom momento da comédia, que precisa continuar sendo feita. A comédia no Brasil e no mundo é a base do cinema, e por isso é um gênero eterno.
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