Qual vencedora da categoria de Melhor Canção Original do Oscar você mais cantarola? “My Heart Will Go On”, de Titanic (1997)? “(I’ve Had) The Time of My Life”, de Dirty Dancing (1987)? “Let It Go”, de Frozen (2013)? Ou a recente “City of Stars”, de La La Land (2016)? É inegável que essas e muitas outras canções vêm à memória do público quando se pensa em cinema. Qual a sua aposta para 2018? Será que algum dos indicados consegue equiparar-se a esses já eternizados clássicos da música (e do cinema)?
Oscar 2018: Como uma canção chega ao Oscar? Entenda as indicações à "Melhor Canção Original"
Saiba mais sobre as regras da categoria e seus indicados à 90ª edição do prêmio
Até então, é certo que a corrida está acirrada: enquanto alguns torcem para “Remember Me”, presente na animação da Pixar Viva - A Vida É Uma Festa, outros desejam que o muso indie-pop Sufjan Stevens leve a estatueta por “Mistery of Love”, canção que escreveu para o romance Me Chame Pelo Seu Nome. Por outro lado, fãs do espalhafatoso musical O Rei do Show agarram-se fervorosamente à “This Is Me”, um dos principais números do longa-metragem; fãs de rap torcem para que Common e Andra Day ganhem o prêmio por “Stand Up for Something”, do filme Marshall, e fãs da talentosa estrela Mary J. Blidge – que este ano também concorre como Melhor Atriz Coadjuvante – anseiam que “Mighty River”, sua composição para Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississippi, leve a melhor na premiação.
Dentre os escolhidos, é curioso notar que Stevens e Blidge, dois performers já consolidados na indústria musical, são os únicos novatos da categoria. O co-compositores de “This Is Me”, Benj Pasek e Justin Paul, são a dupla responsável pelas canções de La La Land, ganhando o prêmio ano passado; Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, compositores por trás de “Remember Me”, são os culpados pelo fenômeno “Let It Go”; Common, por sua vez, ganhou o Oscar por “Glory”, música do filme Selma. Levando-se em consideração os últimos cinco anos, três vencedores competem na categoria em 2018 (os outros dois são Adele e Sam Smith, ambos premiados por canções compostas para filmes do agente secreto James Bond). O que isso pode indicar sobre o Oscar? Como uma canção é elegível?
A votação
As regras da categoria de Melhor Canção Original estabelecem que, para competir, uma música deve estar intrinsecamente conectada à uma produção audiovisual: ela deve ser composta exclusivamente para o filme e estar presente em alguma cena, de forma apenas instrumental ou não, desde a abertura da produção até o início dos créditos (ela só é elegível, nesta situação, se for a primeira a tocar), podendo inclusive ser cantada por um personagem. Atualmente, os estúdios podem indicar quantas canções quiserem para consideração da Academia, mas no máximo duas de uma produção podem ser indicadas. Vale lembrar que o intérprete não leva indicação, apenas os compositores.
É importante que a canção seja completamente nova: se um filme readapta um musical já existente, ele só pode concorrer com alguma música escrita unicamente para a produção. É o caso de “Listen”, do filme Dreamgirls (2006); “Suddenly”, de Os Miseráveis (2012), e a vencedora “You Must Love Me”, de Evita (1996). Se um artista lançar a canção de forma independente ao filme, ela é considerada inelegível. Controvérsias relacionadas a essa regra alimentam debates em torno da categoria - é o exemplo ocorrido em 2014 com “Young and Beautiful”, canção de Lana Del Rey para o filme O Grande Gatsby (2013) que, de acordo com a revista Time, teria sido sabotada na competição, abrindo lugar para a pequena “Alone, Yet Not Alone”, que posteriormente foi desclassificada.
Como funciona o sistema de voto? Cada membro da ala musical da Academia pode dar notas entre 10 e 6 (considerando-se decimais de 0,5) para as músicas que enquadram-se como elegíveis. A média mínima para uma indicação é 8,25; se apenas uma canção ultrapassar essa média, ela concorre com outra que vem logo abaixo na classificação. O caso aconteceu em 2012, com “Man or Muppet”, de Os Muppets, levando o prêmio que disputava com “Real in Rio”, do filme Rio (que contava com os brasileiros Carlinhos Brown e Sérgio Mendes na composição).
Por se dar de forma subjetiva, não sabe-se ao certo o que tende a influenciar a nota dos votantes. Entretanto, por tratar-se, sobretudo, de um show televisionado e dependente de audiência, o prêmio pareceu, nas últimas edições, levar charts (as “paradas de sucesso”) em consideração. Isso não consiste em uma regra, mas explica a indicação de músicas como “Happy”, de Pharell Williams (de Meu Malvado Favorito 2), “Everything is AWESOME!!!” (e Uma Aventura Lego) e “Can’t Stop the Feeling” (de Trolls) à categoria, mesmo que exploradas de forma independente aos filmes por seus intérpretes, reacendendo um extenso debate.
As canções
Explicitando-se todos estes pontos, é possível perceber alguns padrões que cercam a categoria e os indicados desta 90ª edição do Oscar. “Remember Me” é um exemplo de canção que faz-se presente em toda a narrativa de Viva; sendo bastante explorada na trilha de Michael Giacchino para o filme, é cantada por personagens em todas as cenas-chave da trama. A conhecemos como a popular “música-tema”: fator que praticamente entregou (e ainda entrega) o prêmio à Disney por muitos anos, principalmente quando se trata das composições de Alan Menken e Randy Newman. O fator “tradição” também pesa: o estúdio do Mickey Mouse está para essa categoria tanto quanto a franquia 007; dois personagens colecionadores de estatuetas.
“Mistery of Love”, por sua vez, ocupa a cadeira cativa do gênero indie. A canção de Stevens começou a ser anunciada para Me Chame Pelo Seu Nome logo nos primeiros trailers do longa-metragem, junto à outra original do artista, “Visions of Gideon”. Esse tipo de marketing fortalece a conexão entre a canção e a obra, sendo crucial durante o período de campanha do filme para as premiações. Embora toque de forma meio deslocada na produção dirigida por Luca Guadagnino, ela reforça seu caráter de elegibilidade ao unir-se, de forma quase simbiótica, à todo o conceito romântico presente no filme, tornando difícil sua dissociação.
“This Is Me”, escrita como uma canção que sugere empoderamento e auto afirmação, segue os passos de uma “receita de bolo”. Agradável e com um apelo tanto pop quanto showtune, a composição mira no “hino aos desajustados” e desperta a empatia dos espectadores, sendo promovida favoravelmente nas redes sociais e construindo buzz suficiente para manter-se relevante durante as votações. Em razão de sua mensagem positiva, a música apresenta grandes chances de levar o prêmio, já tendo conquistado o Globo de Ouro.
A poderosa balada “Mighty River” e a letra cheia de conscientização de “Stand Up For Something” revelam mensagens de luta e positividade que, assim como “This Is Me”, as ajudaram a chegar na última fase da corrida pelo careca dourado. Acima disso, no entanto, está um fator que tem levado muitos votantes à reflexão: o do reconhecimento à representatividade e aos talentos da diversidade. Novos ritmos, novas temáticas, novas motivações, novos eu-líricos: o Oscar está tentando não ser tão careta, não ser tão white, e tirar o chapéu para compositores contemporâneos que trazem voz à diferentes causas (é possível encaixar aqui, por exemplo, Sam Smith e Lady Gaga, compositores de forte apoio ao movimento LGBT e que concorreram em 2016). Na última década, a categoria de Melhor Canção tem mostrado indicados bem abrangentes – e, ainda que não ganhem o prêmio, a participação deles é, honestamente, ótima.
A escolha
Diante de análise, é evidentemente reforçado o quanto a votação e a escolha das canções competidoras atêm-se à relação filme-música, seguindo um curso bastante tradicional em suas ponderações. Há um desejo da Academia em modernizar-se; de traçar um paralelo entre a representação do povo, a representação da arte e a representação dela própria. Nessa dança das cadeiras, compositores já premiados retornam em busca de consagração, e outros novos tentam usar sua voz para atingir o mundo, ainda que dentro dos desejos de imagem positiva e imponente do prêmio.
Como de costume, todos os indicados devem fazer apresentação durante o prêmio no próximo domingo (04) - reforçando o interesse do Oscar em assumir-se show. Embora seja uma das competições mais inexoráveis na história recente da categoria no prêmio, a tendência é que o vencedor esteja dentro dos padrões de tradição. Cuidado com as apostas, no entanto; Dreamgirls (2006) e Encantada (2007) concorreram com três canções cada, e não conquistaram estatueta. O anúncio é ao vivo; há sempre espaço para surpresas.
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