Pular para o conteúdo principal

Tudo que Quero (2018) | Jornada escrita em klingon*

Enquanto assistia a algum filme ou seriado, você já pensou consigo mesmo “esse personagem é igual a mim”? Para Wendy, protagonista do longa Tudo que Quero (2018), esse pensamento ocorreu ao assistir Spock, da famosa franquia Star Trek. Interpretada por Dakota Fanning, a garota é autista e tem dificuldades para compreender seus sentimentos e relacionar-se com outras pessoas, tal qual o herói intergaláctico. Carismática à sua maneira, ela é o foco do estudo de personagem (literalmente) que ocorre no filme de Ben Lewin (responsável pelo drama As Sessões, de 2012), lançado de forma tímida nas telonas (e, em alguns países, apenas nas telinhas).

Carregando um astral leve com suas pitadas de comédia e também certo nível de inspiração com as suas dramáticas, o roteiro de Michael Golamco (cujos créditos de escrita para tela ainda são poucos) não se demora em explicar a rotina de Wendy, assim como suas obsessões e dilemas familiares. Moradora de um lar para jovens com transtornos mentais, coordenado pela terapeuta Scottie (Toni Collette), o passatempo favorito da garota é assistir e escrever histórias sobre Star Trek e, quando um concurso de roteiros para a franquia é anunciado, ele serve de estopim para a verdadeira Jornada do Herói de Wendy.

Crítica: Tudo que Quero (2018)

Jornada escrita em klingon*


Já posto que ele é estruturado de maneira formulaica, o filme reconhece que sua força está na protagonista e nas diversas referências ao universo estelar da USS Enterprise, que atravessa gerações com sua legião de fãs. Desta forma, conta sua trama passo a passo e sem pretensões grandiosas, introduzindo todas as situações de forma clara e explorando as principais temáticas – no caso, o autismo e os obstáculos entre família (sim, aqui cabe a alcunha “drama familiar”) – da forma mais “feijão com arroz” possível, mas sem perder a mão na sensibilidade.

Apesar de apostar em uma trama simples e character-centered, não fugindo de uns clichês aqui e outros acolá, a produção decai em outros erros mais sérios, como furos narrativos, problemas na pós-produção (existe uma falha gritante na montagem de uma das sequências) ou de abordagem de conteúdo (é, pelo visto não dá para escapar dos alçapões do melodrama). Ainda assim, a esforçada Dakota e seu time de coadjuvantes (que, além da sempre exemplar Collette, também conta com o conhecido rosto de Alice Eve) seguram o filme, não permitindo que ele perca a agradável proposta que faz os espectadores ansearem pelo final feliz.

Construindo uma atmosfera estimulante e simpática, Tudo que Quero faz questão de relembrar a importância de se contar boas histórias, com personagens que tragam representatividade e empatia (todos temos o nosso Spock, não é mesmo?). Produção frugal, típica daquelas que se saboreiam da forma mais despojada possível em matinês, é um longa-metragem que carrega carinho suficiente para superar seus deméritos da forma mais instantânea possível.

*Nota: Klingon é uma língua artística criada para Star Trek e falada por alguns de seus personagens.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Morte do Demônio (2013) | Reimaginação do "Conto Demoníaco"

The Evil Dead (EUA) Em 1981, Sam Raimi conseguiu realizar algo extraordinário. Com um orçamento baixíssimo (em volta de 1,5 mil), o diretor reinventou os filmes idealizados dentro de uma cabana com jovens e demônios. Além disso, ainda conseguiu fãs por todo o planeta que apreciavam a maneira simples e assustadora que o longa fora realizado. Em 2009, Raimi entrou em contato com Fede Alvarez por seu recente curta-metragem viral que rolava pela internet. A conversa acabou resultando na id eia de uma reinvenção do “conto” original de 1981. Liberdade foi dada à Alvarez para que tomasse conta da história. Percebe-se, a início, a garra deste para uma boa adaptação, no entanto, ainda peca por alguns problemas graves percebíveis tanto para quem é ou não é fã do original. Ao que tudo indicava, seria um Reboot. Mas se trata, na realidade, de uma (aparentemente) continuação audaciosa. A audácia já começa no pôster de divulgação: “O Filme Mais Aterrorizante que Você Verá Nesta Vida”...

Anúncio Oficial [Duas Faces do Cinema: Quarto Ato]

Desde que nós dois, Arthur Gadelha e Gabriel Amora, sentamos para decidir o nome do blog de cinema que escreveríamos a partir dali, e entramos no acordo que “Duas Faces do Cinema” intitularia o projeto, já sabíamos, mesmo sem dizer um para o outro, que ele não perduraria para sempre; não como principal. No entanto, assim que lançado, ainda com um fundo preto e branco, separando o casal principal do grande vencedor do Oscar, “O Artista”, a marca “Duas Faces do Cinema” ganhava espaço entre amigos e familiares.

Leonard Nimoy, eterno Spock, morre aos 83 anos

A magia que um personagem nos passa, quando sincera, é algo admirável. Principalmente quando o ator fica anos trabalhando com a mesma figura, cuidando com carinho e respeitando os fãs que tanto o amam também. E, assim foi Leonard Nimoy . O senhor Spock de Jornada nas Estrelas , que faleceu ontem (27/02) por causa de uma doença pulmonar, aos 83 anos. O ator, diretor, escritor, fotógrafo e músico deixou um legado imenso para nós. E isso é algo que ele sempre tratou com muita paixão: a arte. A arte de poder fazer mais arte. E com um primor de ser uma boa pessoa e querida por milhares. E por fim, a vida atrapalhou tal arte. Não o eternizou como o seu personagem. Mas apenas na vida, pois no coração e na memória de todos, o querido Nimoy vai permanecer perpétuo nessa jornada. Um adeus e um obrigado, senhor Leonard Nimoy, de Vulcano. Comece agora, sua nova vida longa e próspera, onde quer que esteja.