Desde o primeiro anúncio da segunda temporada de "13 porquês", eu já me pronunciei contra. A primeira temporada tinha sido boa adaptação, decente e, o mais importante, completa. Não tinha deixado pontas soltas que não precisasse deixar e havia finalizado a história como tinha que ser. O final aberto? Necessário. Era um desfecho que precisaríamos continuar sozinhos. Nós todos éramos Hannah Baker e Clay Jensen, incentivados a continuar nossas histórias por então desmascarar Bryce Walkers de nosso dia-a-dia ao mesmo tempo em que lidávamos com nossos próprios porquês. Assim como Tyler, tínhamos os recursos para o caos, mas a incógnita deixada acabaria com nossas próprias decisões.
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Mas eis que, ignorando ao mesmo tempo a revolta de profissionais de saúde pela suposta irresponsabilidade ao trabalhar temática polêmica (leia-se suposta porque em momento algum estudei sobre como se trabalha temática do suicídio), Brian Yorkey, desenvolvedor da série, provou-se ainda não estar satisfeito com o tanto que tinha alcançado. Ele queria mais.
Então, da mesma forma que tantas franquias que dividem seu último filme em dois, a segunda temporada de 13 porquês, lançada no dia 18 de maio na plataforma Netflix, já tem seu começo embaralhado. O julgamento inicia entre Liberty High e a mãe de Hannah, que acusa a escola de ter parte da responsabilidade pelo suicídio por ignorar a cultura machista e o bullying em seu ambiente. Mas, ao contrário da primeira temporada, que deu destaque a somente um caso, a série resolve explorar de forma superficial ainda outros temas, desde a tentativa de suicídio de Alex, no final da primeira temporada, à automutilação.
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E, enquanto esses temas são mencionados de forma alheia e aleatória, um novo tabu é discutido: o estupro de Hannah e de, ao que a série revela, de muitas outras meninas cometido pelo estudante "estrela" da escola, o odiável Bryce Walker. Ao mesmo tempo em que o julgamento acontece, Clay tenta, ainda em vão, superar a morte de Hannah, o que resulta em mais flashbacks desnecessários, além do aparecimento da própria personagem como sua consciência e memória. Esse recurso, que tinha tudo para ser incrível, fracassa pelo roteiro fraco e superficial.
O novo foi um dos grandes pontos fracos da temporada. Novos personagens, novas acusações e, pior, novos acontecimentos da vida da garota que não foram em momento algum mencionados em suas fitas, muito menos no livro em que a série foi baseada. A linha do tempo da vida de Hannah é completamente embaralhada, sem motivo e sem objetivo, e é quase impossível não bocejar nos diálogos infinitos entre os dois protagonistas.
Mas o problema maior da segunda temporada não é em seu começo, que já é tedioso e injustificável, mas sim quando a história começa a envolver cada vez a cultura de estupro que envolve principalmente os personagens Bryce e Justin.
Justin, como bem lembramos da primeira temporada, permitiu que sua namorada fosse abusada pelo seu amigo. E no ato, mesmo quando "se arrepende", não pede ajuda, não chama a polícia, muito menos deixa de ser amigo do abusador e ainda manipula Jessica para que não descubra da verdade. E, mesmo arrependido como está na segunda temporada, não há lógica na vitimização que o personagem sofre. Eu gostei muito desse personagem nesta temporada, e isso é um grande problema. A síndrome de Lolita que acontece em volta do Justin, em que sentimos pena de uma pessoa que não merece, vai contra tudo que a série supostamente pretendia defender nessa temporada.
Já o caso de Bryce se torna de toda a escola. Não é somente o jogador estrela que praticou estupro, mas sim diversos outros meninos. O esteriótipo do esportista se torna realidade e a situação fica ainda mais grave. O caos literalmente toma conta do time de baseball quando Tyler e seu novo amigo Cyrus escrevem "estupradores" no campo da escola, e o seriado começa a tomar um caminho violento. Mas em momento algum eu me preparei para o que estava por vir.
A primeira temporada foi pesada, e isso é fato, mas pareceu ser pelo menos um pouco voltada para conscientizar e chocar os praticantes de bullying e pelo menos dar uma ideia de que quem sofre não está sozinho. Mas a segunda temporada perde completamente esse objetivo e não é feita nem para público algum. Não há público alvo para essa temporada e nem devia ter espectadores. O resultado do julgamento é vergonhoso, mas não é pior da resolução do caso de Bryce. É quase evidente que, na realidade do seriado, o estupro compensa. Ao contrário da primeira temporada, romantiza basicamente todos os atos que antes era repugnados. O suicídio de Hannah foi um erro, que fique claro. Mas o seriado começa a deixar pequenas pontas soltas, quase que culpar a vítima e exaltar seus praticantes.
Mas o último episódio começou, surpreendentemente, muito bem. O recurso utilizado para os depoimentos sobre estupro foram tocantes e, por um momento, me questionei sobre como iria terminar esse texto. Será que esse episódio, que teve um bom começo, poderia salvar a temporada? A resposta veio alguns minutos depois, quando a série, de forma desnecessária, grotesca e repulsiva, transforma a cena tão polêmica da primeira temporada em água com açúcar.
Os depoimentos que mostram que qualquer mulher pode ser abusada de várias formas e por qualquer um - e que roupa, idade e qualquer outro fatos não têm nada a ver com isso - são completamente ofuscados. A ocorrência, protagonizada por Tyler, mostrou que a série não tem nenhum discernimento no que deve e não deve ser interpretado por adolescentes e mostrado para os mesmos. Eu, com 21 anos, me senti abusada e horrorizada pela cena. E minha revolta se tornou ainda maior quando soube que minha prima de 14 anos tinha assistido à cena. É uma visão perigosa, que não choca por supostamente "prevenir o bullying" nas escolas, mas sim por ser torturante para quem a vê, além de uma ótima ideia para os doentes praticantes. Não funciona como recurso narrativo e não ajuda em momento algum na forma de contar a história.
A violência foi gratuita, vergonhosa e ridícula. Por um momento me questionei o que estava vendo: um seriado aberto a qualquer pessoa com Netflix ou um filme da ditadura brasileira. Desonrou a primeira temporada, a história de Hannah, de Tyler e, de certa forma, a minha própria história. Foi uma cena que não consegui ver completamente e que repudio com grande fervor. A decepção foi grande ao ver como a primeira temporada acertou, enquanto a segunda errou tanto e foi o grande erro da Netflix de 2018, quem sabe de todo o serviço de streaming. 13 porquês perdeu seus princípios e quebrou tudo que foi construído. Mas o pior de tudo, ele ainda teve a coragem e, diga-se de passagem, a cara-de-pau, de deixar pontas soltas para uma terceira temporada. E eu não vou ser público para tamanho absurdo.
E, ao que parece, nem a personagem de Hannah Baker, já que sua atriz já confirmou que não viverá a garota morta na terceira temporada.
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Seriado investe em cena grotesca e quebra seus próprios princípios construídos na primeira temporada.
O novo foi um dos grandes pontos fracos da temporada. Novos personagens, novas acusações e, pior, novos acontecimentos da vida da garota que não foram em momento algum mencionados em suas fitas, muito menos no livro em que a série foi baseada. A linha do tempo da vida de Hannah é completamente embaralhada, sem motivo e sem objetivo, e é quase impossível não bocejar nos diálogos infinitos entre os dois protagonistas.
Mas o problema maior da segunda temporada não é em seu começo, que já é tedioso e injustificável, mas sim quando a história começa a envolver cada vez a cultura de estupro que envolve principalmente os personagens Bryce e Justin.
Justin, como bem lembramos da primeira temporada, permitiu que sua namorada fosse abusada pelo seu amigo. E no ato, mesmo quando "se arrepende", não pede ajuda, não chama a polícia, muito menos deixa de ser amigo do abusador e ainda manipula Jessica para que não descubra da verdade. E, mesmo arrependido como está na segunda temporada, não há lógica na vitimização que o personagem sofre. Eu gostei muito desse personagem nesta temporada, e isso é um grande problema. A síndrome de Lolita que acontece em volta do Justin, em que sentimos pena de uma pessoa que não merece, vai contra tudo que a série supostamente pretendia defender nessa temporada.
Já o caso de Bryce se torna de toda a escola. Não é somente o jogador estrela que praticou estupro, mas sim diversos outros meninos. O esteriótipo do esportista se torna realidade e a situação fica ainda mais grave. O caos literalmente toma conta do time de baseball quando Tyler e seu novo amigo Cyrus escrevem "estupradores" no campo da escola, e o seriado começa a tomar um caminho violento. Mas em momento algum eu me preparei para o que estava por vir.
A primeira temporada foi pesada, e isso é fato, mas pareceu ser pelo menos um pouco voltada para conscientizar e chocar os praticantes de bullying e pelo menos dar uma ideia de que quem sofre não está sozinho. Mas a segunda temporada perde completamente esse objetivo e não é feita nem para público algum. Não há público alvo para essa temporada e nem devia ter espectadores. O resultado do julgamento é vergonhoso, mas não é pior da resolução do caso de Bryce. É quase evidente que, na realidade do seriado, o estupro compensa. Ao contrário da primeira temporada, romantiza basicamente todos os atos que antes era repugnados. O suicídio de Hannah foi um erro, que fique claro. Mas o seriado começa a deixar pequenas pontas soltas, quase que culpar a vítima e exaltar seus praticantes.
Mas o último episódio começou, surpreendentemente, muito bem. O recurso utilizado para os depoimentos sobre estupro foram tocantes e, por um momento, me questionei sobre como iria terminar esse texto. Será que esse episódio, que teve um bom começo, poderia salvar a temporada? A resposta veio alguns minutos depois, quando a série, de forma desnecessária, grotesca e repulsiva, transforma a cena tão polêmica da primeira temporada em água com açúcar.
Os depoimentos que mostram que qualquer mulher pode ser abusada de várias formas e por qualquer um - e que roupa, idade e qualquer outro fatos não têm nada a ver com isso - são completamente ofuscados. A ocorrência, protagonizada por Tyler, mostrou que a série não tem nenhum discernimento no que deve e não deve ser interpretado por adolescentes e mostrado para os mesmos. Eu, com 21 anos, me senti abusada e horrorizada pela cena. E minha revolta se tornou ainda maior quando soube que minha prima de 14 anos tinha assistido à cena. É uma visão perigosa, que não choca por supostamente "prevenir o bullying" nas escolas, mas sim por ser torturante para quem a vê, além de uma ótima ideia para os doentes praticantes. Não funciona como recurso narrativo e não ajuda em momento algum na forma de contar a história.
A violência foi gratuita, vergonhosa e ridícula. Por um momento me questionei o que estava vendo: um seriado aberto a qualquer pessoa com Netflix ou um filme da ditadura brasileira. Desonrou a primeira temporada, a história de Hannah, de Tyler e, de certa forma, a minha própria história. Foi uma cena que não consegui ver completamente e que repudio com grande fervor. A decepção foi grande ao ver como a primeira temporada acertou, enquanto a segunda errou tanto e foi o grande erro da Netflix de 2018, quem sabe de todo o serviço de streaming. 13 porquês perdeu seus princípios e quebrou tudo que foi construído. Mas o pior de tudo, ele ainda teve a coragem e, diga-se de passagem, a cara-de-pau, de deixar pontas soltas para uma terceira temporada. E eu não vou ser público para tamanho absurdo.
E, ao que parece, nem a personagem de Hannah Baker, já que sua atriz já confirmou que não viverá a garota morta na terceira temporada.
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