A notícia inesperada que diversas obras da escritora Agatha Christie iriam ser adaptadas para o cinema (como a "Casa Torta" e "Assassinato no Expresso Oriente") e para a televisão (como "O Caso dos Dez Negrinhos" e "Os Crimes ABC"), movimentou a internet e trouxe mais uma vez ao topo diversas obras da Rainha do Crime. O resultado foi satisfatório, apesar de não tão surpreendente, em Assassinato no Expresso Oriente, uma das obras mais famosas da autora. A história, dirigida e estrelada por Kenneth Branagh, fez até questão de deixar um gancho para uma próxima adaptação, que seria de "Morte no Nilo".
Mas, agora em mãos da direção de Giles Paquet-Brenner, a responsabilidade duplicou. Já havíamos provado do sabor de Poirot, então adaptar A Casa Torta, livro sem o grande detetive protagonista, foi um grande risco. De fato, o filme cumpre seu principal objetivo: o de entreter aos espectadores nas quase duas horas de duração e fazê-los sair satisfeitos com o ingresso. Mas, com algumas escolhas arriscadas em mudanças dos personagens e um roteiro bagunçado, a trama se torna confusa, até para quem já leu o livro, e não consegue organizar as várias histórias paralelas que discorrem pela tela.
A história começa como diversos livros de Christie: com um assassinato. Desta vez, de Aristide Leonides, homem rico que sempre fez questão de que sua família vivesse junto à ele, em uma grande casa repleta de ressentimentos, dívidas e histórias conturbadas. Em meio a esse ambiente, a jovem Sophia entra em contato com um velho amigo, o detetive Charles Hayward, para investigar o caso, já que, para ela, o assassino poderia ser algum dos membros de sua família.
Desde o princípio, a visão dos cenários e dos figurinos sempre em harmonia são de surpreender. A representação da época ajuda aos espectadores a viajar no tempo e quase a se sentirem dentro da família e como um dos suspeitos do crime cometido. As cores ajudam a não só mostrar uma boa produção, como reflete a personalidade dos personagens e ajudam a compor o filme, em conjunto muitas vezes com a trilha sonora.
Em conjunto com os cenários, a personalidade dos personagens é bem definida pela representação, ainda que muitas vezes duvidosa, dos atores, com destaque para Glenn Close ("Atração Fatal") e Gillian Anderson ("Arquivo X"), que se encontra irreconhecível no longa. O protagonista Max Irons ("A Hospedeira"), entretanto, entrega atuação muito parecida com outras participações. Mas parece seguir a visão do diretor, que, ao que parece, quis transformar o doce e inocente Charles em um homem em busca de suspiros apaixonados no cinema. Ao contrário do livro, o protagonista não resolve o mistério motivado a casar com Sophia, mas sim para se resolver com ela, após ter sido "abandonado" pela moça em Cairo, onde se conheceram. Mas ao invés de inocente e perspicaz, Charles se converteu em um homem agressivo e confuso.
Da mesma forma que em Assassinato no Expresso Oriente, todos daquele ambiente se tornam suspeitos. Mas, ao contrário da primeira adaptação, a má organização das conversas, a exposição de histórias secundárias e o excesso de cenas sem relevância, bagunçam o roteiro e acabam por diminuir o grande mistério, charme maior da obra, que tanto potencial tinha para brilhar como adaptação. A resolução se torna, então, um pouco previsível demais, e a reviravolta que tanto esperava no cinema, decepciona.
Mas, o que deu errado em A Casa Torta? O problema maior talvez seja querer transformar as obras de Agatha Christie em franquias, até as mais independentes que sejam, como é o caso dessa, que contempla personagens exclusivos e nenhum relação com Poirot. Ou quem sabe a velocidade da adaptação, que tanto quis aproveitar a "onda" de Assassinato no Expresso Oriente, que não conseguiu ter tempo para melhor adaptar um dos melhores, se não o melhor, livro da autora. Mas, de qualquer forma, é um filme que entrega a história e contempla cenas bonitas e que tanto refletem um bom mistério policial.
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