Após os eventos de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros,
a ilha de Nublar ficou habitada apenas pelos seres jurássicos. Porém, um vulcão
adormecido volta à ativa e ameaça mais uma vez a estadia das espécies na Terra.
Diante desta situação, é levantada a questão: salvar os dinossauros ou trazer
de volta a normalidade da fauna e deixar de uma vez por todas as criaturas
gigantescas ficarem só no passado da história?
Dirigido agora por J.A. Bayona, temos uma visão mais
apurada das consequências de ter dinossauros coexistindo com seres humanos e do
revés que isso é, e, em contrapartida, o valor simbólico de aprendizado e
compaixão com a vida de outro ser vivo, embora a balança já tenha mais que
provado pesar mais de um lado (e já sabemos qual é esse lado). Apesar de uma
visão mais tridimensional da aventura que é Jurassic Park, os alicerces ainda não perdem seus chavões, clichês
e decisões (no mínimo estranhas) de roteiro.
Logo no início do primeiro ato
somos apresentados ao problema que é o cerne da trama, e, em uma cena com a
participação nostálgica do Dr. Ian
Malcom em um debate do governo, resume-se muito bem tudo o que já deveria
ter sido feito em relação aos animais. De fato, soa até como uma
autocrítica/brincadeira com a franquia como um todo, como se fosse algo como:
“Ainda não entenderam o que está acontecendo aqui?!” Entretanto, a história
realmente leva-se a sério.
Do ponto de vista estético e
visual, esse é o filme mais interessante de toda a franquia, seja nos seus
efeitos especiais e práticos, ou até na sua cinematografia. É tudo muito vivo,
desde a flora das cenas na ilha aos animatrônicos, que dão um senso maior de
tato e de perigo às cenas. Caso isso fosse deixado tudo ao CGI, com certeza não
haveria tanto impacto em momentos específicos que pediam mais realidade.
Há planos panorâmicos bem
interessantes contemplando todo o cenário. Isso ocorre principalmente em
algumas cenas de tensão e ação, deixando muito claro o que está acontecendo.
Vale ressaltar que existem cenas de noite, e isso não impede o entendimento da
aventura; pelo contrário, os elementos noite e chuva ajudam ainda mais a
construir um ambiente favorável ao terror e ao desconhecido, mesmo que nós já
tenhamos visto e saibamos quem são as criaturas.
A ação não reinventa a roda. Na
realidade, é o mais do mesmo com uma escala mais avançada de efeitos. O que se
faz bem com o clichê é o modo como ele é trabalhado. Aqui, é realizado um
trabalho melhor que no filme anterior, não apelando para um perigo desproporcional
– maior do que os próprios dinossauros em si – chamado Indominus Rex. Em Jurassic
World: Reino Ameaçado o medo é resultado da construção e não é forçado pelo
absurdo.
A fotografia em alguns momentos
parece optar, mesmo que levemente, por um artifício de baixa saturação na
imagem, tornando mais fria a ambientação e criando uma atmosfera um pouco mais
apática e de morte; tanto que, em momentos em que aparece sangue, a cor
vermelha se destaca, sendo mais saturada do que o resto do ambiente. Funciona.
O roteiro é encabeçado por Colin Trevorrow (Jurassic World:
Mundo dos Dinossauros), Derek
Connolly e Michael Crinchton, realmente
provando que a máxima de que “menos é
mais” é certa, já que em Jurassic
World: Mundo dos Dinossauros tínhamos cinco pessoas para cuidar de uma
história.
O prólogo é bem estabelecido,
assim como o primeiro ato. A sucessão de eventos ocorre de forma natural,
principalmente para convocar Owen (Chris
Pratt) na trama: existe uma necessidade. Todavia, mesmo que seja natural,
não é safo de ser questionado. Há algumas decisões que tornam o desenvolver da
narrativa bobo, como, por exemplo, o governo dos Estados Unidos não decidir
intervir na causa apresentada, quando no longa anterior existia interesse em
transformar os dinossauros em armas do exército americano: eles simplesmente
desistem da ideia e decidem não intervir em nada? Soa realmente como o governo
americano. Isso se amplia para os novos personagens, que cumprem bem suas
funções, mas ainda são bastante estereotipados. Justice Smith interpreta Franklin
Webb, e a especialidade do personagem é...? Exatamente, equipamentos
eletrônicos.
Apesar dos estereótipos, temos um
melhor aproveitamento do elenco e menos soluções deus ex machina. A química entre os personagens é muito maior e
mais funcional. O espectador cria empatia e teme pelo que pode acontecer com os
heróis. Os núcleos acabam se dividindo, e isso não ocorre à toa, tendo em vista
que, nos clímaces seguintes, eles convergem entre si.
O filme é bem mais engraçado que
seu antecessor, com um alívio cômico pontual. Parte disso aumenta e fica a
cargo do personagem de Chris Pratt
(Owen). Pratt, não é novidade
alguma, é carismático, então, a maioria do que for posto para ele realizar vai
ser funcional, e é claro e evidente que ele está se divertindo demais com o
papel e com o universo que circunda.
Jurassic World: Reino Ameaçado é definitivamente melhor que seu
antecessor. É mais assustador, mais interessante do ponto de vista estético,
mais criativo e, apesar dos chavões, clichês e decisões questionáveis de
roteiro, diverte muito e entende seu próprio universo como há muito não havia
entendido.
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