Em ritmo de Copa do Mundo, nada mais propício que a estreia da série Heimebane do canal Norueguês NRK1, que conta a história de Helena, a primeira mulher a se tornar treinadora de um time de futebol masculino recentemente promovido para a primeira divisão, o Varg de Ulsteinvik. Em sua luta para garantir a permanência e sobrevivência do time, deve lutar contra jogadores endeusados que não a respeitam e torcedores provocadores e agressivos, em uma história de lealdade e paixão pelo futebol.
Crítica: Heimebane S01E01-02
Uma mulher, futebol e um sonho
A série pode ser uma novidade para nós, mas ela é muito conhecida e reconhecida na Noruega e por toda a Europa. Ganhou 5 prêmios Gullruten 2018 de melhor série dramática, melhor atriz para Ane Dahl Torp (Helena Mikkelsen), melhor ator para Axel Bøyum (Adrian Austnes) e outros dois prêmios técnicos. A primeira temporada de Heimebane passou na Noruega em 2017, e está chegando só agora nos outros países, fora do eixo Europa, enquanto lá a segunda temporada está no ar.
Nesse clima que estamos de tantos jogos, de muita emoção, de torcer pelo nosso país, nesse espírito de torcedores enérgicos, o momento é bem conveniente para Heimebane, que fala nada menos, nada mais do que o amor pelo futebol - só que vai um pouco além disso, sobre a dificuldade das mulheres nesse meio. As mulheres durante os séculos tiveram que lutar bastante para conquistar seu espaço, em todos os setores e aspectos. No Brasil, por exemplo, as mulheres só conseguiram seu direito de voto no dia 24 de fevereiro de 1932. Por isso e por muitas outras coisas, não devemos nos silenciar, temos que ir atrás de nossos direitos e jamais se abater pelos obstáculos que a sociedade impõe.
No futebol não seria diferente, vemos como as jogadoras femininas sofrem preconceito e até hoje o futebol feminino não é reconhecido como deveria e não está no mesmo patamar do masculino, em questão de prestígio. Constituído como um campo privilegiado de competição, demonstração de força e de resistência, o esporte, principalmente o futebol que é o amor mundial, desde seus primórdios foi considerado uma atividade essencialmente masculina. A presença das mulheres no esporte cresce a cada ano, mas o preconceito não diminui; é uma triste realidade que vivemos até os dias de hoje.
A série, com Helena sendo a primeira mulher treinadora de uma grande liga masculina da primeira divisão, vem com a intenção de quebrar esse tabu que nem deveria existir. Por que as mulheres não podem ter um cargo "dito" masculino? Elas não tem a "força" necessária para enfrentar os desafios? Helena mostrar que tem a força, a inteligência, a perspicácia, sagacidade e, acima de tudo, que ama o que faz.
O episódio piloto mostra a trajetória de sua personagem até conseguir alcançar seu sonho de ser a treinadora do time Varg de Ulsteinvik, tudo que precisa abrir mão para ir para outra cidade e treiná-los. Todos os desafios que enfrentará, da recusa dos jogadores, principalmente de Michael Ellingsen, o então craque do time que era cotado como o novo treinador. Junto de seus companheiros vai fazer de tudo para que ela renuncie do cargo, além da torcida que instantaneamente repudia a sua chegada como treinadora.
A personagem vai ter sua típica trajetória do herói, até conseguir acalçar seu êxito, mas até lá vai sofrer bastante. No segundo episódio vemos ela sofrendo ameaças, inúmeras ligações de assédio, sendo coagida e até mesmo dizendo que iriam matá-la. Além de tudo isso, Helena precisa lidar com a falta de incentivo dos patrocinadores que não ajudam com dinheiro para conseguir um novo jogador de peso para o time. Mesmo com todas essas dificuldades, ela não desiste, vai atrás de um garoto promissor chamado Adrian que pode ser uma grande adesão para a equipe.
Em meio desses conflitos no campo, temos também a vida pessoal de Helena, mãe solteira de uma filha de apenas dezessete anos, chamada Camilla, que inicialmente não quer largar sua vida por causa do novo emprego de sua mãe, decidindo morar com seu namorado em sua cidade. Ao visitá-la e ver sua realidade, tudo que está sofrendo para enfrentar os preconceitos por ser uma mulher no meio de todos aqueles homens, decide abrir mão de tudo e ficar ao seu lado.
A série é para todo tipo de público, homens e mulheres, jovens e pessoas mais velhas, aqueles que amam futebol e para aqueles como eu não gostam de futebol, mas a história é tão interessante que isso não importa. Você fica fascinado pela luta de Helena e torce para que a personagem conquiste seu merecido reconhecimento. A mulher precisa sim ser valorizada independentemente da profissão e muito além disso, e uma série como essa precisa ser enaltecida.
Heimebane tem uma estética muito bonita, mostrando uma Noruega com uma fotografia que puxa pros tons azuis para o alaranjado e uma ressalva para a abertura que mostra cenas do futebol de lá com aquele aspecto antigo embalada com uma trilha composta por Aslak Hartberg. Uma série que tem muito potencial e que vai conquistar os corações principalmente dos amantes e simpatizantes do futebol, ou simplesmente os curiosos sobre esse amor universal.
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