Pular para o conteúdo principal

Ilha dos Cachorros (2018) | Depois de quatro anos, Wes Anderson lança um dos seus mais doces trabalhos


O Homem das Cavernas e Os incríveis 2 rivalizam o pódio de melhores animações de 2018. Ambos se concentram em suas histórias, apesar das inúmeras homenagens que inspiram o público durante a exibição dos filmes. O mesmo acontece com Ilha dos Cachorros, novo filme do cineasta Wes Anderson, que, do mesmo modo das animações anteriores, possui uma trama calcada na reverência.


Ilha dos Cachorros já começa com temas em moda do pop oriental. Com uma aura distópica e com elementos de cibertecnologia, a aventura inicia quando o garoto Atari vai para a ilha do título em busca de seu cão perdido. No lugar, que na verdade é um lixão da cidade de Megasaki, habita todos os cachorros exilados da metrópole, logo após que uma epidemia atingiu as espécies.

As homenagens já começam no design, inspirados claramente nos desenhos de Osamu Tezuka, artista conhecido por seus personagens robóticos, como Astroboy e A Princesa e o Cavaleiro. Aqui, Anderson usa uma técnica um pouco mais simples e tímida que aquela aplicada em O Fantástico Sr. Raposo. Todos os personagens parecem, de fato, com robôs, o que traz uma sensação de maior infantilidade ao longa. Apesar do realismo dos temas, os heróis precisam ser fofos, dado que desenvolve carisma ao ambiente de morte que eles habitam.

Isso se complementa com o apoio da simetria do diretor. Uma vez animado, o filme permite que o criador brinque com as suas características claras. Todos os personagens possuem o seu momento de destaque, visto que, com o apoio da fotografia colorida e da música contagiante, os cachorros e Atari ficam sempre em primeiro plano na cabeça do diretor. Os TOC geométricos, nesse caso, apesar de mais calculado que os filmes anteriores, trazem traços mais expansivos. É possível acreditar que aqueles animais existem, graças aos primeiríssimos planos cheio de detalhes do stop-motion. É genial.

Ilha dos Cachorros também não compromete em sua brincadeira com a cultura japonesa. Há personagens caricatos, retirados de desenhos animados dos anos 1950, e outros que são mais reais, como aqueles que ganham vida nos filmes de Hayao Miyazaki. O design de produção, que se aproxima de Blade Runner, mantém respeito por toda a cultura, inclusive na musicalidade, que desenvolve um chamado da aventura sempre que toca. Já o roteiro ainda entende que é possível discutir xenofobia em um momento histórico que exige comentários. E, com bastante sutileza, o diretor o faz.

É um filme que, como um cachorro, evita que você pense nos problemas de fora da sala de cinema. Experiência anestesiante e que, com certeza, será lembrado como um dos filmes mais inspirados do ano.

Crítica: Ilha dos Cachorros (2018)

Depois de quatro anos, Wes Anderson lança um dos seus mais doces trabalhos

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Morte do Demônio (2013) | Reimaginação do "Conto Demoníaco"

The Evil Dead (EUA) Em 1981, Sam Raimi conseguiu realizar algo extraordinário. Com um orçamento baixíssimo (em volta de 1,5 mil), o diretor reinventou os filmes idealizados dentro de uma cabana com jovens e demônios. Além disso, ainda conseguiu fãs por todo o planeta que apreciavam a maneira simples e assustadora que o longa fora realizado. Em 2009, Raimi entrou em contato com Fede Alvarez por seu recente curta-metragem viral que rolava pela internet. A conversa acabou resultando na id eia de uma reinvenção do “conto” original de 1981. Liberdade foi dada à Alvarez para que tomasse conta da história. Percebe-se, a início, a garra deste para uma boa adaptação, no entanto, ainda peca por alguns problemas graves percebíveis tanto para quem é ou não é fã do original. Ao que tudo indicava, seria um Reboot. Mas se trata, na realidade, de uma (aparentemente) continuação audaciosa. A audácia já começa no pôster de divulgação: “O Filme Mais Aterrorizante que Você Verá Nesta Vida”...

Anúncio Oficial [Duas Faces do Cinema: Quarto Ato]

Desde que nós dois, Arthur Gadelha e Gabriel Amora, sentamos para decidir o nome do blog de cinema que escreveríamos a partir dali, e entramos no acordo que “Duas Faces do Cinema” intitularia o projeto, já sabíamos, mesmo sem dizer um para o outro, que ele não perduraria para sempre; não como principal. No entanto, assim que lançado, ainda com um fundo preto e branco, separando o casal principal do grande vencedor do Oscar, “O Artista”, a marca “Duas Faces do Cinema” ganhava espaço entre amigos e familiares.

O Retrato de Dorian Gray | Os segredos de Dorian

Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 1854 em Dublin, estudou na Trinity College de Dublin e, posteriormente, no Magdalen College em Oxford. Seu único romance foi O retrato de Dorian Gray e seu sucesso como dramaturgo foi efêmero. Morreu em 1900 em Paris, três anos após ter sido libertado da prisão por ter sido pego em flagrante indecência.  O retrato de Dorian Gray foi publicado pela primeira vez em 1891 em formato de livro em uma versão bastante modificada do romance original de Oscar Wilde, pois foi considerado muito ousado para sua época. Já tinha sido editado quando publicado em série na revista literária Lippincott’s em 1890 e depois ainda foi alterado pelo próprio Wilde, que em resposta às duras críticas, fez sua própria edição para a publicação em livro. Estamos falando de uma Inglaterra do século XIX bastante tradicionalista e preconceituosa, assim, a versão original, tirada do manuscrito de Wilde, nunca havia vindo a público. Nicholas Frankel, professor de I...