Venom (2018) | Depois de Esquadrão Suicida, mais um filme de antagonista ganhando o protagonismo chega aos cinemas
Em um ano que em tivemos a força da representatividade
protagonizada por um herói negro e a união de um dos maiores grupos de todos os
tempos, não resta dúvida que a responsabilidade de Venom de ser, no mínimo,
divertido era injusta. No entanto, é inegável que o filme, dirigido por Ruben
Fleischer, o mesmo de Zumbilândia, é o mais fiel de todos os longas adaptados
de quadrinhos de 2018. Venom é descaradamente uma obra da nona arte dos anos
1990. E é exatamente por isso que é tão ruim.
Concebido por Todd McFarlane para vender bonecos e capas
variantes dos gibis do Homem-Aranha, o personagem deu as caras pela primeira
vez em 1988, logo após a saga Guerras Secretas. O antagonista se tornou popular
entre os fãs por causa do visual diferente e grotesco, que, convenhamos, é
incrível. Mas isso não garante muito conteúdo, como observamos nos quadrinhos
solo do personagem, que possuem diálogos terríveis, cenas de ação confusas e
uma série de coadjuvantes descartáveis. É um personagem que nasceu para
coexistir com a criação de Stan Lee, e não para habitar em um universo próprio.
E isso volta em Venom, filme que consegue aplicar a essência
dos quadrinhos e do personagem de forma eficaz, apesar da censura de 12 anos que evita grandes sequências de violência. Sua narrativa, no entanto, não faz sentido.
O filme, logo em seu início mostra não conhecer o público que tem, visto que
desenvolve humor, drama e uma temática adulta quando está mais próximo do fim.
Nesse sentido, Venom se aproxima dos filmes da série O Espetacular
Homem-Aranha, cujo gênero principal ainda é um mistério. São filmes que
pertencem a uma montanha-russa de emoções e que não são preparadas ou ajustadas
pelo roteiro.
Escrito por três pessoas, ainda é sábio afirmar
que o roteiro é uma piada de mal gosto. Nada faz sentido, especialmente o
vilão, que não sabe o que quer. Durante o seu desenvolvimento, ele muda de plano
umas três vezes, no mínimo, algo que garante uma inconsistência gritante ao
antagonismo criado pelo filme. Pior que isso, o longa ainda apresenta uma série
de personagens sem um tico de personalidade ou características que os
diferenciem uns dos outros. Obviamente, quando se trata de um roteiro ruim, ainda
há a conveniência que resolve os problemas dos heróis do filme, como, por
exemplo, os personagens que surgem do nada, salvam o dia e depois desaparecem. Isso mostra a imaturidade do
roteiro em contar uma história.
Além disso, ainda tem a montagem confusa e frenética que
torna o filme tão confuso quanto os seus dilemas. É uma bagunça visual que
impede que o longa seja compreendido. Para piorar, o diretor opta por contar
toda a aventura em uma noite, algo que consegue enganar e esconder a
ineficiência dos efeitos visuais.
Mas o que parte, de fato, o coração é assistir Tom Hardy
naquela que é a pior atuação de sua carreira. Os seus trejeitos são exagerados, as suas feições inteiramente cômicas (no pior sentido) e seu modo de gritar e
andar é um stand-up comedy ruim. Dono de personagens e de atuações exemplares,
como em Mad Max: Estrada da Fúria, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, O
Regresso (onde era a melhor e única coisa boa do filme) e Bronson, Hardy atua
com determinação, mas abaixo do esperado de seu talento. Já Michelle Williams (atriz indicada quatro vezes ao Oscar) entra em cena com um piloto automático que, pelo menos, não a faz passar
vergonha. Ela só está lá.
Venom, por outro lado, promete muito para a sua continuação. Não
por acaso que o filme expande o universo sabiamente ao apresentar a She-Venom,
personagem consagrada dos quadrinhos, e o vilão Carnificina, vivido por um Woody
Harrelson do método e que usa uma peruca vermelha que lembra quase que de imediato
o Sideshow Bob de Os Simpsons. Infelizmente, o primeiro filme, não é tão eficaz
quanto as suas promessas. Mas não nego e assumo a responsabilidade: o erro foi
meu. Tudo já estava claro nos trailers.
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