Recorrentemente acusado de ser um gênero menor, fútil e demasiadamente comercial, a música pop nunca se limitou ao espaço que parte da crítica especializada lhe reserva. Entre escândalos, manchetes, grandes êxitos e até mesmo “boicotes”, listei 7 vezes em que o pop foi político - e sem necessariamente ser partidário.
Madonna, o fim dos anos 80 / começo dos 90 e a AIDS
Quando parte para Nova York com 35 dólares no bolso e o desejo de ser uma estrela, Madonna Louise Veronica Ciccone encontra em seus amigos gays a aceitação e o sentimento de pertencimento que nunca experimentara até então. À época, a comunidade gay “saia do armário” e ali começava a se desenhar o que hoje conhecemos como o ativismo pela causa.
A epidemia de AIDS que surgiria nos anos seguintes jogaria sobre a comunidade gay um estigma ainda maior do que já carregara e é aí que entra Madonna. Entre tantas perdas - sendo duas especialmente dolorosas: o seu professor de dança, Christopher Flynn, e a de seu melhor amigo, Martin Burgoyne -, a rainha do pop usou sua voz para disseminar informação sobre a doença, até então chamada de “câncer gay” e negligenciada pela Casa Branca do Governo de Ronald Reagan, e para angariar fundos a fim de financiar pesquisas sobre o vírus HIV.
O “wardrobe malfunction” de Janet Jackson no Superbowl
No nem tão longínquo - porque a história é cíclica e a humanidade teima em repetir os mesmos erros - fevereiro de 2004, a cantora Janet Jackson estava prestes a lançar seu oitavo álbum de estúdio, Damita Jo e resolveu aquecer a divulgação se apresentando no intervalo do Superbowl daquele ano.
No mesmo período, a lua de mel do americano médio com o Governo Bush dava sinais de estremecimento. E muito embora a narrativa da vingança pelo 11 de setembro ainda convencesse, em ano de eleição, não dava para arriscar.
Bastou parte do seio de Janet Jackson ficar exposto no espaço de maior audiência da TV americana por uma fração de segundos, para que uma onda conservadora se formasse e Bush surface brilhantemente nela. O ex presidente chegou a formar um "Departamento de Segurança de Figurino" para prevenir futuras nudezes acidentais. Vale lembrar que desde então as transmissões ao vivo da TVs americanas têm relativo atraso para impedir que fatos como este se repitam.
O saldo de toda história é que rádios e TVs americanas passaram a boicotar Janet, que até hoje não consegui retornar sua carreira ao patamar de outrora. Vale lembrar ainda o componente machista envolvendo essa história, uma vez que a apresentação era conjunta com Justin Timberlake, que não sofreu qualquer tipo de sanção - depois, é claro, de um pedido de desculpas públicas
COLUNA - ERA PRA SER SÓ POP
"Foi a hora perfeita para tirar o foco das pessoas de outras coisas. É o que acontece, e isso aconteceu comigo" Janet sobre o ocorrido
Bono Vox e o IRA (Exército Republicano Irlandês)
Não é possível falar de pop e política sem citar Bono Vox. O vocalista do U2 é conhecido por seu envolvimento na política mundial - recentemente o cantor caçoou do então candidato e agora presidente eleito do país, vocês sabem quem, em um show.
O envolvimento de Bono com a política internacional já lhe rendeu inclusive uma ameaça de sequestro por parte do IRA (Exército Revolucionário Irlandês), uma organização terrorista de seu país de origem. A ameaça nunca se concretizou, mas o grupo chegou a atacar um carro com outros integrantes da banda.
Ainda sobre U2 e política, cabe um asterisco para lembrar Sunday Blood Sunday. Google It!
Boicote Beyoncé
Olha o Superbowl aqui outra vez! O evento de maior audiência da TV americana foi palco para mais uma polêmica em 2016. Beyoncé foi a convidada especial do show do Coldplay na atração e deu o que falar com a primeira performance ao vivo de Formation, single e clipe lançado apenas um dia antes e com uma clara mensagem em relação à violência policial contra a população negra dos Estados Unidos.
Segundo o site Washington Examiner, oficiais da polícia desligaram seus televisores durante a apresentação em repúdio à cantora. No Facebook, membros da Associação Nacional dos Xerifes disseram ter virado as costas baixado o volume da TV na hora da performance no episódio que ficou conhecido como Boicote Beyoncé.
Conhecida por fazer de um limão uma deliciosa Lemonade, Bey monetizou rapidamente o ocorrido e lançou esta camisa na coleção seguinte de sua marca Ivy Park.
Katy Perry, Lady Gaga e uma imagem que vale mais que mil palavras
Gaga e Katy Perry no comitê da Hillary Clinton durante a apuração de votos da eleição de 2016. Cof cof… sororidade… cof cof… a mídia adora criar rivalidade entre cantoras… cof cof…
American Life
Madonna aparece mais uma vez nesta lista, agora com o seu nono álbum de estúdio e sua canção título, dois fracassos retumbantes, se tornamos como parâmetro outras eras da Queen Of Pop.
Em pleno 2003 e no auge da militarização da sociedade americana, Madonna joga a glamourização da violência em uma passarela de moda. O vídeo original da canção que dava título ao álbum foi exibido oficialmente apenas uma vez - a própria cantora decidiu censurá-lo por conta do início da Guerra do Iraque - e só viria a público anos depois, pra tirar de vez da nossa memória aquela versão só com bandeiras de fundo que não agradaria nem fã da Tinashe, que se contenta com pouco.
O disco é uma porrada no “American Way Of Life” e por isso foi persona non grata nas rádios americanas. Até hoje há quem ame e odeie o disco.
Michael Jackson e o USA For Africa
A primeira vez que ouvi falar de “We Are The World”, ainda era criança e foi através do BBB - pausa dramática para refletir sobre este trauma. Conhecer a história da música, no entanto, me fez apagar o “embromation” que me vinha instantaneamente à cabeça sempre que pensava na música.
45 artistas de sucesso se juntaram para gravar a canção escrita por Michael Jackson e Lionel Ritchie em prol da Etiópia, um dos países mais pobres do mundo. A ação além de jogar visibilidade sobre a situação dos países africanos, arrecadou fundos para o combate à fome e se tornou referência, sendo a música usada em outros momentos dos últimos anos em prol de vítimas de catástrofes naturais como o Furacão Katrina e o Terremoto do Haiti em 2010.
Vale lembrar que esta foi apenas uma das vezes que o Rei do Pop adotou um discurso político em sua arte, vide músicas como Black Or White, Heal The World e They Don’t Care About Us.
…
Mas calma! Isso não é tudo! Turma do “faltou fulano de tal…”, me ajuda aí e diz quais acontecimentos deveriam estar, e não estão nesta lista. Obrigado por ler até aqui e até a próxima.
A coluna "Era pra ser só Pop" é publicada às terças-feiras no Quarto Ato
A coluna "Era pra ser só Pop" é publicada às terças-feiras no Quarto Ato
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