O ano era 2004. O mês era maio. E eu era um garoto que ainda
brincava com os bonecos do Homem-Aranha, Wolverine e Hulk. Estava ansioso,
contando os minutos e esperando o sol nascer para o grande dia. Nesse dia iria
conferir, pela primeira vez, o retorno de Peter Parker, no filme Homem-Aranha
2, dirigido por Sam Raimi. Vesti a melhor blusa que tinha do herói, coloquei os
brinquedos na caixa e fui para a casa de um tio.
Duas horas antes do filme, esse mesmo tio me entregava uma
caixa pesada. Ao abrir, meu rosto ficava rosa de alegria e meus olhos coloridos
de emoção, já que estava recebendo sua antiga coleção de dezenas de quadrinhos.
Todos do Homem-Aranha, obviamente. Eram gibis antigos, velhos, alguns com
poeira, outros sem capa. Guardei e fui conferir o filme do teioso.
Foi um dia para nunca esquecer. Naquela sala lotada de
estreia, eu me emocionava e torcia para que Peter conseguisse um emprego,
pagasse as contas e ficasse bem com Mary Jane. Ele era um amigo, eu torcia por
ele. E lá eu fiquei extremamente satisfeito. Tinha sido melhor que o primeiro,
tinha sido o melhor filme da minha vida.
Voltei pra casa, li os quadrinhos, revi o filme, conheci
Stan Lee. Esse era o homem por trás do Aranha. Com o apoio de Steve Ditko, John
Romitta, Frank Miller e tantos outros, ele tinha criado centenas de aventuras
sobre o herói. Mais que isso, ele havia co-criado os X-Men, Hulk, Quarteto
Fantástico e tantos outros que, coincidentemente, estavam recebendo os seus
primeiros longas. Foi um período feliz. Li de tudo, vi de tudo. Resolvi estudar
cinema.
Dos heróis passei pra fantasia, da fantasia pra ficção
cientifica e de lá eu resolvi estudar a sétima arte que, sim, se inspirou muito
na nona. E hoje já vivemos uma nova era. A de ouro já passou e provavelmente estamos
vivendo a de bronze. Não há nada mais de novidade a ser feito e a sensação de
repetição já está nos rodeando há muitos anos. Uma vez ou outra nos deparamos
com um filme esquecível, bobo e sem grandes novidades. Mas olha lá, Stan Lee
sempre nos presenteia com um momento de humor. Mais que isso: Lee estava lá para nos lembrar quem
somos e para onde vamos. Do que seria minha vida sem “Com grandes poderes, vêm
grandes responsabilidades”? Sim, Tio Ben que disse, mas Stan que escreveu.
E hoje ele se foi. Com 95 anos, perdemos uma lenda. Perdemos
aquele que impactou a carreira de muitos, não só os que trabalham com
quadrinhos, mas todos os jovens e velhos que viveram suas aventuras e
inspirações. Todos estes perderam um amigo. E, principalmente, aqueles que se
consideravam indiferentes e que hoje estão satisfeitos com o que têm e construíram estão perdendo um pai.
Stan Lee foi um pai. E o que nos resta é agradecer por tantas
aventuras e por mostrar que as pessoas diferentes, que brincavam e liam quadrinhos
de heróis com medo da opressão e do preconceito, também são especiais.
Excelsior.
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