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Alita: Anjo de Combate (2019) | Quando os opostos se atraem

Os filmes do texano Robert Rodriguez, de uma maneira ou de outra, sempre acarretaram polêmicas. Dono de uma filmografia irregular, o parceiro de Quentin Tarantino se mostrou muito mais eficaz quando estava na companhia de outros nos seus projetos. Sin City: A Cidade do Pecado, por exemplo, o maior acerto da carreira do diretor, contou com o apoio de Tarantino na segunda unidade de direção e do texto de Frank Miller no roteiro, algo que, infelizmente, não voltou a se repetir na continuação, lançada quase dez anos depois do original. E assim foi com os seus outros longas mais decentes, como Um Drink no Inferno e Planeta Terror, visto que ambos tiveram o apoio de Tarantino. Já com Alita: Anjo de Combate, Rodriguez abandona toda sua estética oitentista e se mostra muito mais eficaz que em seus últimos cinco filmes. Obviamente, ele contou com um roteirista competente: James Cameron, diretor de Titanic e Avatar. Curioso, não? De um lado temos um diretor medíocre e do outro temos um roteirista extremamente talentoso.

Com uma introdução dinâmica e econômica em suas explicações, Alita começa mostrando o seu futuro pós-apocalíptico onde os humanos lutam para sobreviver na única cidade sobrevivente do planeta. Com uma estética próxima de WALL-E, o diretor logo apresenta o Doutor Ido encontrando uma ciborgue destruída no lixo. A partir disso, eles formam uma amizade e ambos descobrem que o passado da heroína é muito mais sombrio do que eles imaginavam.

Com essa estética misturando fantasia e ficção cientifica, fica claro apontar que Rodriguez evoluiu com o passar dos anos. Diferentemente de Tarantino, que se mostra cada vez mais afiado no seu texto, Rodriguez mostra ter um domínio exemplar da câmera. Suas cenas de ação são absolutamente espetaculares, logo que faz um bom uso de planos abertos para exibir todos os detalhes dos efeitos visuais e planos fechados para reimaginar a importância e características dos personagens.

Paralelo a isso, o diretor ainda exibe alto esmero em sua montagem, visto que, apesar de ter um tom episódico (muito parecido com os filmes de Cameron), o filme não cansa. É claro que existem cenas de ação gratuitas, como aquela do bar. Mas é inegável que, graças ao seu tom urgente de tensão, a obra se sobressai sendo divertida. Seu cinema é entretenimento. E ele até esbanja alguns comentários sociais sobre opressão e supremacia, mas nunca tornando os personagens em vítimas ou vilões. 

O elenco, por outro lado, apesar de extremamente competente, não se destaca tanto assim. Nomes como Christoph Waltz, Mahershala Ali, Jackie Earle Harley, Jennifer Connelly, Eiza Gonzalez e Ed Skrein claramente procuram se divertir com o filme. Infelizmente, pouco espaço falta para que eles se mostrem realmente astros talentosos. Conferir Walts e Ali em um mesmo filme e não colocá-los para contracenarem juntos, por exemplo, é um crime difícil de perdoar.

Mas, de fato, a dona da obra é Rosa Salazar. Com 1,59 m de altura, a atriz já mostra logo em seu primeiro diálogo ser uma super-heroína a ser observada com mais atenção. A protagonista é carismática, divertida e, apesar de estar digitalmente comprometida por causa da captura de movimentos, ainda apresenta um olhar muito mais sincero que inúmeros atores atualmente. “Você é a pessoa mais humana que já conheci”, diz um garoto apaixonado pela personagem. Por mais que seja piegas e atuado de forma preguiçosa pelo ator, a atriz o corresponde com uns sinais genuínos de paixão. É belíssimo ver essa jovem trabalhar.

Apesar dos elogios, Rodriguez erra a mão em sua duração, que se aproxima das duas horas e meia de projeção. O final acaba se tornando anticlimático, uma vez que todas as cenas de ação já tinham sido exploradas de várias formas distintas. É notório que uma hora a criatividade se esgotou e o gancho para uma continuação, mesmo sendo inevitável, acabou se mostrando decepcionante.

Alita é um acerto. Já comparado com Ghost in the Shell ou Han Solo do ano, a obra facilmente pode servir como um convite aos mangás da personagem. E, enquanto não leio a obra original, só me resta aguardar ansiosamente por sua segunda parte.



Mandou bem, Rodriguez.

Crítica: Alita: Anjo de Combate (2019)

Quando os opostos se atraem

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