Os filmes do texano Robert Rodriguez, de uma maneira ou de outra,
sempre acarretaram polêmicas. Dono de uma filmografia irregular, o parceiro de
Quentin Tarantino se mostrou muito mais eficaz quando estava na companhia de
outros nos seus projetos. Sin City: A Cidade do Pecado, por exemplo, o maior acerto da carreira do
diretor, contou com o apoio de Tarantino na segunda unidade de direção e do
texto de Frank Miller no roteiro, algo que, infelizmente, não voltou a se repetir na continuação, lançada quase dez anos depois do original. E assim foi com os seus
outros longas mais decentes, como Um Drink no Inferno e Planeta Terror, visto que ambos tiveram o apoio de Tarantino. Já com Alita: Anjo de Combate, Rodriguez abandona toda sua estética oitentista
e se mostra muito mais eficaz que em seus últimos cinco filmes. Obviamente, ele
contou com um roteirista competente: James Cameron, diretor
de Titanic e Avatar. Curioso, não? De um lado temos um diretor medíocre e do outro temos um roteirista extremamente talentoso.
Com uma introdução dinâmica e econômica em suas explicações,
Alita começa mostrando o seu futuro pós-apocalíptico onde os humanos lutam para
sobreviver na única cidade sobrevivente do planeta. Com uma estética próxima
de WALL-E, o diretor logo apresenta o Doutor Ido encontrando uma ciborgue destruída
no lixo. A partir disso, eles formam uma amizade e ambos descobrem que o
passado da heroína é muito mais sombrio do que eles imaginavam.
Com essa estética misturando fantasia e ficção cientifica,
fica claro apontar que Rodriguez evoluiu com o passar dos anos. Diferentemente
de Tarantino, que se mostra cada vez mais afiado no seu texto, Rodriguez mostra
ter um domínio exemplar da câmera. Suas cenas de ação são absolutamente espetaculares, logo
que faz um bom uso de planos abertos para exibir todos os detalhes dos efeitos visuais e planos fechados para reimaginar a importância e características dos personagens.
Paralelo a isso, o diretor ainda exibe alto esmero em sua
montagem, visto que, apesar de ter um tom episódico (muito parecido com os
filmes de Cameron), o filme não cansa. É claro que existem cenas de ação
gratuitas, como aquela do bar. Mas é inegável que, graças ao seu tom urgente de
tensão, a obra se sobressai sendo divertida. Seu cinema é entretenimento. E ele
até esbanja alguns comentários sociais sobre opressão e supremacia, mas nunca tornando
os personagens em vítimas ou vilões.
O elenco, por outro
lado, apesar de extremamente competente, não se destaca tanto assim. Nomes como
Christoph Waltz, Mahershala Ali, Jackie Earle Harley, Jennifer Connelly, Eiza Gonzalez e Ed Skrein claramente procuram se divertir com o filme. Infelizmente,
pouco espaço falta para que eles se mostrem realmente astros talentosos. Conferir
Walts e Ali em um mesmo filme e não colocá-los para contracenarem juntos, por
exemplo, é um crime difícil de perdoar.
Mas, de fato, a dona da obra é Rosa Salazar. Com 1,59 m de
altura, a atriz já mostra logo em seu primeiro diálogo ser uma super-heroína a
ser observada com mais atenção. A protagonista é carismática, divertida e, apesar de
estar digitalmente comprometida por causa da captura de movimentos, ainda
apresenta um olhar muito mais sincero que inúmeros atores atualmente. “Você é a
pessoa mais humana que já conheci”, diz um garoto apaixonado pela personagem. Por
mais que seja piegas e atuado de forma preguiçosa pelo ator, a atriz o
corresponde com uns sinais genuínos de paixão. É belíssimo ver essa jovem trabalhar.
Apesar dos elogios, Rodriguez erra a mão em sua duração, que
se aproxima das duas horas e meia de projeção. O final acaba se tornando anticlimático, uma vez que todas as cenas de ação já tinham sido exploradas de várias formas
distintas. É notório que uma hora a criatividade se esgotou e o gancho para uma
continuação, mesmo sendo inevitável, acabou se mostrando decepcionante.
Alita é um acerto. Já comparado com Ghost in the Shell ou
Han Solo do ano, a obra facilmente pode servir como um convite aos mangás da
personagem. E, enquanto não leio a obra original, só me resta aguardar
ansiosamente por sua segunda parte.
Mandou bem, Rodriguez.
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