Estreou no dia primeiro de fevereiro na Netflix a série Russian Doll ou Boneca Russa, tendo como atriz principal a conhecida Natasha Lyonne de Orange is the New Black. Ela interpreta Nadia Vulvokov, personagem que em seu aniversário de 36 anos acaba morrendo atropelada e volta como se “nada” tivesse acontecido para aquele mesmo banheiro do começo do piloto, naquela história de looping temporal que sempre se reinicia com sua morte. Contudo, há aqui uma pequena diferença em relação aos demais que usam dessa premissa: a sua morte não é regulada por um evento programado e nem ocorre da mesma forma e hora, o que permite que a série explore cenários diferentes, com alguns tropeços ao longo do caminho. Outra diferença é a introdução de um personagem que, assim, como ela vive esse looping sem fim.
Vários filmes utilizam dessa dinâmica que é bem conhecida do público, de se repetir o mesmo período de tempo. No entanto, logo de início, a série não demora muito para contextualizar esta reviravolta, retratando o mundo comum da personagem e sua personalidade através de suas interações com os membros de sua festa de aniversário. Talvez o que pese mais no desenrolar da obra é a busca da personagem em entender o porquê dela voltar constantemente quando morre e o que fazer para interromper o ciclo, mas isso é algo comum nesse tipo de narrativa.
No entanto, a série aprofunda suas verdadeiras propostas temáticas ao introduzir Alan (Charlie Barnett), outro personagem que também precisa urgentemente de uma mudança de vida. E só quando eles se encontram e posteriormente morrem juntos no elevador é que a série dá jus ao título, mostrando que em cada morte surge uma nova Nadia, cada vez mais humana, algo que sempre garante uma nova dinâmica entre ambos. Os dois personagens, os únicos com memória e consciência destes ciclos temporais, acabam dando uma continuidade mais dinâmica para o espectador acompanhar o desenrolar da trama.
A relação com os outros personagens também é bastante interessante. Conforme cada episódio, temos essa exploração, como de Nadia com Ruth, o mendigo com quem se envolve em algumas linhas do tempo, e suas melhores amigas que servem como uma espécie de referência para as alterações de cada ciclo. E Alan não fica para trás, visto que a sua relação com a quase/ex-noiva, que é bastante conturbada, mexe com suas emoções e com a trama em si, além de personagens que estão inseridos na vida dos dois protagonistas. Mais para frente são introduzidos os flashbacks e é através deles que conseguimos entender mais sobre o passado de Nadia, e vários motivos sobre seu comportamento no presente, trazendo um peso maior para a narrativa.
Boneca Russa traz bastante reflexão para esses personagens, logo que ambos precisam repensar o valor que dão para suas vidas. Nadia cita, num momento específico da série, o termo “Carpe Diem”, que significa basicamente “aproveite o dia”, e que se encaixa perfeitamente nesse contexto da trama. Nadia e Alan precisam enxergar o sentido de se viver, e, quando a morte definitiva não é mais uma opção, ambos acabam identificando com o que realmente se importam e com o que querem ser um para o outro.
A série é rápida e certeira, deixando uma mensagem positiva e edificante com seu final. Não perde tempo com seus oito episódios de mais ou menos 30 minutos, que poderia funcionar perfeitamente como um filme. Não há necessidade alguma de uma segunda temporada, embora ainda exista algumas possibilidades criativas que possam ser exploradas ali, mas a sua conclusão, no entanto, fechou bem aquela história, iniciando, desenvolvendo, explorando e fechando o ciclo de Nadia e Alan. E, por fim, fica a reflexão, que, apesar de tudo parecer perdido, basta que outra pessoa demonstre que você não está sozinho para que surja uma luz no fim do túnel.
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