Pular para o conteúdo principal

Homem de Ferro 2 (2010) | Continuação empolga, apesar de não sair do superficial

Ainda sob a mão de Jon Favreau na direção do longa, a sequência de Homem de Ferro inicia-se logo após os eventos do primeiro filme, onde o bilionário Tony Stark (Downey Jr.) revela ao mundo que ele e a armadura são um só. Esta abertura, por sinal, servirá como força motriz para diversos arcos do filme.


Motivado pela forma como seu pai foi tratado por Howard Stark (John Slattery) há vários anos, Ivan Vanko (Rourke) decide caçar nosso herói e puní-lo em forma de vingança. Paralelo a isso, temos nosso protagonista encarando as consequências de ser quem é, e da sua condição de saúde, devido ao acidente que sofreu no Afeganistão. O paládio (elemento químico responsável por manter o reator ark em seu peito funcionando) está contaminando seu sangue, e, somado a isso, Stark está sob pressão do governo americano, visto que as autoridades exigem a armadura do Homem de Ferro como propriedade do Estado.

Todo o roteiro de Justin Theroux conversa entre si, amarra a trama e os arcos dramáticos presentes. Importante ressaltar que Favreau ainda quis homenagear um arco famoso das histórias em quadrinhos do herói, chamado O Demônio na Garrafa, onde Stark enfrenta problemas com a bebida. O texto de Theroux tenta evocar um lado mais profundo e até sombrio de Tony. Entretanto, o personagem vivido por Downey Jr., desde o longa antecessor, nos mostra que o sarcasmo, cinismo e humor são as características que melhor funcionam em tela. Não por uma limitação de atuação de Robert, mas por elementos do próprio roteiro.

De cena em cena o vemos checar o nível de intoxicação sanguínea, mas eis que mesmo em altas taxas, o personagem não apresenta nenhum efeito colateral a não ser marcas, que como bem diz Rhodes (Don Cheadle), parecem “palavras cruzadas. As consequências se refletem muito mais no comportamento inconsequente que o personagem passa a ter por achar que está vivendo seus últimos dias. Em contrapartida, o seu lado mais charlatão e convencido, quando vem à tona, é divertidíssimo, principalmente quando este vem em combo com seu narcisismo, o que é quase sempre o que acontece.

Seguindo ainda a linha sobre a discussão do poderio bélico e como os EUA reagem em relação a isso, Ivan Vanko aproveita-se de seu primeiro embate contra o Homem de Ferro para mostrar ao povo que o herói não é invencível. Fato que, se houvesse um melhor aproveitamento, poderia gerar um arco dramático muito mais crível e profundo, mas limita-se a sempre nos mostrar alguma reportagem de televisão falando sobre como Tony não pode proteger a América etc. É vazio, mas existia grande potencial. Mesmo Rourke esforçando-se para entregar um bom vilão, seu background não o ajuda e é um personagem que facilmente é esquecido, cheio de excentricidades e maneirismos. Apesar de ser até cativante, não se destaca e seu momento final é acompanhado apenas de um gosto insosso. O núcleo vilanesco ganha destaque quando Justin Hammer (Sam Rockwell) entra em cena. Ele é carismático, divertidamente desconcertado e infantil. Parece muito mais a vontade no papel que seu colega de núcleo.

Já as sequências de ação são mais elaboradas. Há um senso espacial melhor aproveitado e que mostra o maior potencial das possibilidades do que realizar com os “poderes” das armaduras Mark. O terceiro ato é explosivo, formulaico da cartilha dos filmes de super-heróis, mas funciona. Os efeitos especiais são excelentes, rendendo até uma indicação ao Oscar 2011 na categoria de melhores efeitos. As armaduras têm textura, brilham e sombreiam de acordo com a iluminação. Há uso de uma câmera, que, seria no caso, como se fosse presa a armadura, algo que deixa ainda mais palpável o equipamento. 

Por fim, o longa diverte e empolga com suas cenas de batalha e seus efeitos especiais, ainda que sofra com fraco desenvolvimento de suas discussões e aprofundamentos de arcos dramáticos.


Crítica: Homem de Ferro 2 (2010)

Continuação empolga, apesar de não sair do superficial

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leonard Nimoy, eterno Spock, morre aos 83 anos

A magia que um personagem nos passa, quando sincera, é algo admirável. Principalmente quando o ator fica anos trabalhando com a mesma figura, cuidando com carinho e respeitando os fãs que tanto o amam também. E, assim foi Leonard Nimoy . O senhor Spock de Jornada nas Estrelas , que faleceu ontem (27/02) por causa de uma doença pulmonar, aos 83 anos. O ator, diretor, escritor, fotógrafo e músico deixou um legado imenso para nós. E isso é algo que ele sempre tratou com muita paixão: a arte. A arte de poder fazer mais arte. E com um primor de ser uma boa pessoa e querida por milhares. E por fim, a vida atrapalhou tal arte. Não o eternizou como o seu personagem. Mas apenas na vida, pois no coração e na memória de todos, o querido Nimoy vai permanecer perpétuo nessa jornada. Um adeus e um obrigado, senhor Leonard Nimoy, de Vulcano. Comece agora, sua nova vida longa e próspera, onde quer que esteja.

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014) | Peter Jackson cumpre o que prometeu

    Não vamos negar que a trilogia O Hobbit possui grandes problemas. O que é uma pena, já que a trilogia anterior ( O Senhor dos Anéis ) não tem falha alguma. Contudo, o que tinha de errado em Uma Jornada Inesperada e Desolação de Smaug , o diretor Peter Jackson desfaz nessa última parte. O que é ótimo para os espectadores e crível para os adoradores da saga da terra-média de longa data.     O filme apresenta problemas diversos, por exemplo, um clímax logo na primeira cena (se é que você me entende) e um personagem que não consegue momento algum ser engraçado. Falhas como essas prejudicam o filme como todo. O roteiro, por ser o mais curto dos três, precisava de mais tempo em tela, e dessa forma, cenas e personagens sem carisma são usados repetidas vezes e com uma insistência sem ter porquês. Mas, em contra partida, O Hobbit e a Batalha dos Cinco Exércitos consegue ser mais direto, objetivo e simples que seus antecessores, que são longos e cheios de casos...

Filmes querem lhe enganar, não esqueça disso

Este texto não bem uma crítica, mas uma ponderação sobre o cinema enquanto uma ferramenta de afirmação. Podemos supor que o que leva uma equipe a gastar quase 100 milhões de dólares para contar uma história é principalmente acreditar nela. Veja só, por que filmes de guerra são feitos? Além do deslumbre de se tornar consumível uma realidade tão distante do conforto de uma sala com ar-condicionado, há a emoção de se  converter emoções específicas. Sentado em seu ato solitário, o roteirista é capaz de imaginar as reações possíveis de diferentes plateias quando escreve um diálogo ou descreve a forma como um personagem se comporta. Opinião: Filmes querem lhe enganar, não esqueça disso "Ford vs Ferrari", de James Mangold, é essencialmente um filme de guerra. Mesmo. Digo isso porque Ford vs Ferrari , de James Mangold , é essencialmente um filme de guerra. Mesmo. Aqui é EUA contra Itália que disputam o ego de uma vitória milionária no universo da velocidade. Ainda no iníci...